Será que você não está exagerando com o ChatGPT?
Pesquisadores indicam quando o uso da inteligência artificial passa do limite e traz prejuízos sérios

rogramas de inteligência artificial, como o ChatGPT e o Gemini, estão cada vez mais inseridos na sociedade e avançados em sua potencialidade. Segundo uma pesquisa da Harvard Business Review, por exemplo, ao longo do último ano, a principal utilização destes grandes modelos de linguagem foi voltada para terapia e organização pessoal, funções essencialmente de desenvolvimento pessoal que necessitavam uma vez da interação humana.
Mesmo assim, a pesquisa mostra não só um movimento contrário a esta noção, mas também a dificuldade de estabelecer os limites de quando usar a IA e quando não. Para a pesquisadora do Instituto de Ciências Matemáticas e de Comunicação da USP, Graça Nunes, a falta de estipulação do limite do uso da inteligência artificial propicia usos inadequados.
“Como e quando usar a IA no ambiente escolar são questões que dependem de decisões individuais e coletivas responsáveis. Na medida em que isso não é contemplado, surgem os problemas. O primeiro passo para evitar os problemas é esclarecer aos alunos e professores de como e quando eles podem ou não usar a inteligência artificial”.
Um exemplo é o caso de um professor da Northeastern University, nos Estados Unidos, denunciado por uma aluna à direção da universidade após usar o ChatGPT para a criação de um slide em sua aula. Segundo o Estadão, a aluna teve a mensalidade da aula ressarcida e sua principal reclamação era de que o professor em questão proibia o uso de IA pelos estudantes, enquanto ele mesmo usava seus mecanismos.
Embora acredite na importância do “combinado para evitar problemas” e na potencialidade da IA quando bem utilizada, Nunes não ignora os perigos do uso desmedido dos programas. “Grande parte do que hoje consideramos efeitos nocivos da IA decorre de uso excessivo ou impróprio”, pontua.
Como saber se estou exagerando com a IA, CH? Assim como em qualquer outra área ou comportamento, quando há uso excessivo ou inadequado, não há benefícios. Com a inteligência artificial, a regra se mantém. Nesta outra matéria da CAPRICHO, por exemplo, mostramos como a IA do Google pode ser uma ajuda para resumir e estudar textos complexos da faculdade. Contudo, ela não substitui o estudo e se você usá-la dessa forma, não terá um aprendizado real.
Mesmo assim, existem alguns usos dos programas de IA que são definidos como exagerados, seja porque passam do limite do que a inteligência artificial pode servir, seja porque deturpam a realidade. À convite da CAPRICHO, a especialista em Sistemas da Comunicação, Graça Nunes, e Fernando Ozório, membro do Centro de inteligência artificial também do ICMC da USP, listaram as principais atividades que não só são contraindicadas, como podem trazer sérios malefícios para você.
- Usar a IA para ‘estudar’ por você, e não como um auxílio
Se você solicita que o programa resolva exercícios, faça trabalhos ou te mostre as respostas, não haverá aprendizado no final. É importante lembrar que, no dia do vestibular, não haverá nenhum programa para resolver questões ou facilitar a sua prova. Por isso, pedir que a IA faça a sua parte estará te prejudicando, mais do que ajudando;
- Usar por horas/dias, ao ponto de criar dependência nos programas
Quando falamos na importância de deixar o celular de lado e viver a vida real, a IA também entra em jogo. Em especial na IA Generativa, que cria cenários e jogos a partir do que é aprendido na internet, as possibilidades são inúmeras e pode ser tentador se desligar do mundo real. Mas, sem interação com sua família, amigos, hobbies e esportes, sua saúde mental entra em declínio, seguida por aumento no estresse, baixa autoestima, isolamento social e por aí vai.
- Criar conteúdos falsos
Os programas de IA podem até ajudar a criar imagens que são quase perfeitas, mas o quase está aí por um motivo. Quando você cria imagens falsas e as compartilha como verdadeiras, pode estar prejudicando uma outra pessoa e incentivando a desinformação.
- Substituir contato humano com programa de IA
Apesar do resultado da pesquisa apresentada pela HBR, usar programas de inteligência artificial para fins terapêuticos pode trazer sérios problemas à sua saúde mental. Um tratamento de saúde mental requer escuta ativa, compaixão, empatia e estudos dos profissionais da área e nenhuma dessas características é contemplada pela IA.
- A IA pode quase tudo, mas não tudo
Mesmo para os especialistas que pesquisam inteligência artificial, é claro que a IA não substitui o ser humano e muito menos pode acabar com todos os problemas do mundo. Ela é uma ferramenta em avanço constante que deve ser usada para melhorar a sua vida, mas não pense que ela irá resolvê-la completamente para você.
- Usar a IA como se não existisse direitos autorais
Recentemente, começou a viralizar artes “produzidas” por IA com base no estilo dos desenhos do Studio Ghibli. Pode parecer algo fofo, mas, na verdade, vai contra a lei de direito autoral do estúdio, responsável e criador do estilo. Na época, o próprio Studio Ghibli se manifestou contra a trend e lembramos: plágio é crime!
Por ser uma tecnologia em desenvolvimento, alguns efeitos da IA ainda são desconhecidos, assim como seus perigos, e é preciso usar a inteligência artificial com consciência, certo? Nem sempre ela está certa e, independente da utilização, lembre-se de checar o resultado que ela te der, especialmente em ferramentas para auxiliar os estudos.