Será que os negros realmente são maioria no ensino superior?

Para nossa colunista Ana Carolina, a recente pesquisa do IBGE levanta uma questão: "os negros têm as mesmas oportunidades estruturais que os brancos?"

Por Isabella Otto Atualizado em 31 out 2024, 01h07 - Publicado em 16 nov 2019, 10h00

“Pela primeira vez, negros são maioria no ensino superior”. Assim como eu, você deve ter visto esse título circulando pela sua timeline ou em algum site nos últimos dias, já que, segundo o informativo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil do IBGE, 50,3% das matrículas nas universidades públicas do Brasil, em 2018, foram feitas por pessoas pretas ou pardas.

A imagem mostra várias pessoas, com mochilas nas costas, viradas de costas e caminhando em direção a entrada do que parece ser uma escola.
PhotoAlto/Frederic Cirou/Getty Images

Confesso que na hora que li essa notícia estranhei, e fiquei pensando onde é que está essa maioria negra nas faculdades públicas. Com as cotas, a chance de um afrodescendente chegar ao ensino superior aumentou de fato, mas será que esse aumento já pode ser considerado proporcional? E se atingimos realmente este nível, será que todos os negros ainda têm as mesmas oportunidades estruturais que os brancos?

Para a Rebeca Farias, formada em Terapia Ocupacional na USP, em 2018, o espaço universitário ainda é lugar de solidão do ponto de vista racial. “Na faculdade de Medicina, não via pessoas negras. Era muito discrepante você só ter 5 alunos negros no meio de 75. Você não se sente pertencente por não encontrar pessoas como você”, comenta Rebeca.

Em relação aos professores e técnicos, a jovem afirma que não tinha nenhum negro. Já no refeitório, o cenário era diferente. “Quando eu ia para o bandejão, a falta de proporção racial era ainda mais chocante. Os negros só estavam ali em posição de servir. Não que isso seja um demérito, mas diz muito sobre quem é aceito ou não ali“, diz Rebeca.

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Nós já falamos algumas vezes aqui na coluna sobre a importância das cotas raciais e sociais, que vieram depois de muita luta do movimento negro. Com essas medidas afirmativas, muitas famílias tiveram a primeira filha, neta, sobrinha, prima entrando na faculdade. Só que os critérios para saber quem tem direito ou não ainda são questionáveis.

 

É delicado ter alguém dizendo qual é a sua etnia, como uma espécie de “negrômetro”. Por outro lado, quando não há um sistema de cotas atento e preciso, o recurso pode se transformar em algum injusto. Ou seja, pessoas brancas acabam se privilegiando pelas cotas e tirando o lugar de quem realmente tem direito.

Por isso, nem sempre os números retratam a realidade, principalmente quando envolve um item tão subjetivo, como a etnia, ainda mais em um país miscigenado. A questão não é que não devemos comemorar ou jogar um balde de água fria, mas é preciso ter cuidado para não cairmos em uma ideia de que chegamos lá. Os passos estão sendo dados, só que muito avanço precisa acontecer para os negros realmente terem condições proporcionais aos brancos, seja na educação, no trabalho e por aí vai.

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Quer sugerir tema para a coluna ou mandar alguma comentário? É só me mandar um direct nas redes sociais @anacarolipa ou enviar um e-mail para anacarolipa16@gmail.com.

Beijos,
Ana Carol

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