‘Ser criativo é fazer magia, mesmo com inseguranças e medos’
Letícia Ribeiro, conhecida pela criação de cenários elaborados e manuais, conta como lida com criatividade, autossabotagem e confiança
ntre o lúdico, o surrealista e o sombrio, com vislumbres da estética de Tim Burton e das sessão de fotos do fotógrafo de moda britânico Tim Walker, está a criadora de conteúdo digital e diretora de arte Letícia Ribeiro. Os vídeos pensados, produzidos e editados por ela e pelo marido, Victor Ribeiro, seja para publicidades como influenciadora ou em produções em que assina a direção, já entregam suas referências e instigam a admiração de um trabalho manual que mais se aproxima de um sonho criativo.
Em entrevista à CAPRICHO, Letícia confessa que se considera mais esforçada do que criativa pela dedicação em ideias pouco convencionais — como a de construir uma colher gigante. Mesmo assim, ela não perde o encanto ao perceber, em cada trabalho, a magia de transformar uma ideia tão irreal em algo concreto.
É muito mágico isso de você tirar algo que tava na sua cabeça, que estava no campo das ideias, ou seja, não existia, era uma coisa totalmente etérea, e fazer isso se tornar uma coisa física. Por isso que, para mim, criatividade é fazer mágica.
Letícia Ribeiro
Os vídeos elaborados e muito manuais, para os quais ela constrói cenários do zero usando papelão, isopor, tinta e papéis diversos, já chamam a atenção nas redes sociais há um tempo e foram a virada de chave para que ela atraísse projetos como influenciadora digital e conseguisse deixar o serviço como social media de uma marca de moda. Mas foi do último ano para cá que o papel de diretora de arte passou a ser uma realidade ao ser chamada para assinar videoclipes.
O primeiro convite veio do cantor Samuel Rosa, que a chamou, no início do ano, para ser a diretora e criar o conceito, o cenário e toda a narrativa de seu primeiro clipe como músico solo, Rio Dentro do Mar. Na época, dirigir um clipe e coordenar uma equipe grande eram uma novidade eram funções que ela já sonhava em cumprir, mas que ainda não sabia como. Poucos meses depois, ela também foi diretora do videoclipe da música Banquete, da Vivi, lançado em maio deste ano.
“Se eu tô com medo, faço com medo mesmo”
Quem vê de fora pode até pensar que Letícia atua hoje no que sempre quis fazer, mas a verdade é que ela nem sabia que era possível sonhar com ocupações como essas, “que não são tão práticas, como as que a gente consegue pensar em pelo menos uma pessoa que trabalha com isso”.
Foi com esse pensamento que ela foi cursar Moda e Têxtil na Universidade de São Paulo (USP), já que encontrava na moda não só um caminho para explorar a criatividade, mas também uma carreira identificável e possível de ser realizada. Ao seu redor, moda não era uma profissão tão distante, já que a avó sempre costurou e o pai conhecia uma pessoa que trabalhava no meio têxtil, ao contrário de carreiras no cinema e no audiovisual, muito conectadas à palavra ‘arte’.
“Reflito bastante até hoje porque, por exemplo, eu via minha mãe, dona de casa, sempre fazendo alguma coisa, uma pintura, um crochê, só que é visto como artesanato, como algo menor. Só é visto como arte se vai parar em um museu ou vira escultura”, afirma. “Por isso que pra mim sempre foi mais fácil enxergar o artesanato como algo que vende. Agora uma escultura, um quadro, uma arte, o que você vai fazer com isso? Eu não conhecia ninguém que vivia assim, de arte, então para mim era uma coisa impossível”.
Da mesma forma que ela transforma suas ideias irreais em cenários concretos, o viver impossível de arte se tornou uma realidade diária. A profissionalização do perfil pessoal até a criação de conteúdo partiu da curiosidade de fazer campanhas de moda que observava nas redes do seu jeito: “Eu queria pensar em conceitos assim, nesses tipos de cenários. Queria dirigir vídeos assim”.
As oportunidades inimagináveis, quando passaram a surgir, foram agarradas com as duas mãos e feitas com o método “aprendendo e fazendo”, como no caso da direção de clipes. Mais do que isso, Letícia enxerga “toda oportunidade como uma muito rara”, e acredita que essa visão de mundo é o que impede o medo de falhar e de tentar coisas novas de a paralisar. “Se eu tô com medo, eu vou com medo mesmo, procuro aprender e faço dar certo”.
“As vezes eu penso ‘nossa, acho que sou mais esforçada do que criativa'”
O primeiro inimigo da criatividade é a comparação, e o segundo é a insegurança. Em especial quando o foco da criatividade reflete a identidade da pessoa, e se torna sua carreira, a dificuldade de reconhecer seus avanços e respeitar seus limites é grande. No caso de Letícia, ela nos conta que já teve muitos pensamentos cruéis sobre si mesma, seu trabalho e sua autoimagem, coisas que não diria “para uma amiga”, mas direcionava a si.
Confiar que o projeto daria certo, que uma escultura de isopor estava sendo esculpida do jeito certo, que ela não estava passando vergonha ou sendo julgada foram pensamentos que passaram a ter menos força à medida que ela entendeu serem inseguranças nascidas da consciência da importância de um trabalho. Quanto mais decisivo o projeto, mais a cobrança para não errar e entender isso foi um dos primeiros passos para ela conseguir ignorá-los cada vez mais.
O desafio do novo, embora assustador, é o que tem a motivado a enfrentar a autossabotagem e a reconhecer, com mais acolhimento, a evolução do que ela já fez. “Eu sempre tento me colocar fora da minha zona de conforto, então a cada conteúdo eu quase que invento uma coisa nova para fazer, que vai me obrigar a aprender algo novo e isso me ajuda a não me entregar [a esses pensamentos]”.
O próprio reconhecimento da criatividade ainda é um conceito em construção, e ela brinca que muitas vezes já pensou ser “mais esforçada do que criativa”. Mas Letícia explica que esse entendimento vem da definição própria de que a criatividade não é um dom, mas um “ímpeto de criar que todo mundo tem”. O que a difere, segundo ela, é a visão e habilidade artística que transformam sua criatividade.
“Acredito muito que todo mundo é criativo,só que de formas diferentes. A gente tem socialmente essa construção do estereótipo da pessoa criativa, que é sinônimo de uma pessoa artística, mas eu não concordo. Acho que todo mundo é criativo, mas nem todo mundo é artístico”. Até mesmo para ela, que tem dificuldade, o processo de imaginar um vídeo, seus recortes, o que é preciso filmar e como editar é intenso, especialmente pensando no desgaste físico de construir esculturas e cenários manuais.
Mesmo assim, ela relata com carinho que, além de se dedicar em cada projeto por amar esse mesmo processo caótico, se diverte em ter ideias e imaginar mundos impossíveis que serão criados com suas próprias mãos. Durante o trabalho, assistindo um filme, lendo um livro ou admirando um ensaio de moda, tudo é referência e inspiração para a criatividade — e tudo é pausado, independente do momento, para Letícia anotar a ideia.
“Acho que eu passei tanto tempo trabalhando para os outros e represando ideias e vontades de criar pelas limitações da marca, que mesmo se eu estiver atarefada ou em uma pausa pra descansar, vou ficar pensando em ideias, e me divirto com isso”, brinca, referenciando a si mesma como uma “caixinha de ideias”.
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