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Round 6: entenda as metáforas e críticas por trás do k-drama da Netflix

A série sul-coreana vai muito além dos jogos mortais! Será que você conseguiu identificar todas essas questões que escancaram desigualdades socioeconômicas?

Por Gustavo Balducci Atualizado em 13 out 2021, 12h30 - Publicado em 10 out 2021, 10h06

Em menos de um mês, o k-drama Round 6 se tornou um sucesso de audiência no mundo todo e está prestes a desbancar Bridgerton como a produção mais assistida da história da Netflix. Alcançando a primeira posição em todos os 83 países que a exibem, a série criada por Hwang Dong-hyuk explora o melhor e o pior do ser humano, além de discutir problemas sociais, como a desigualdade e a pobreza.

A trama segue 456 pessoas endividadas que são convidadas para participar de um jogo misterioso e mortal. As regras são simples: se sobreviverem até a última rodada, elas poderão voltar para casa com uma grande quantia em dinheiro e resolver todos os seus problemas.

Inspirado por mangás e animes japoneses, como Battle Royale (2000-2005) e Liar Game (2005-2015), o diretor revelou que a ideia para Round 6 surgiu em 2008, quando ele mesmo passava por dificuldades financeiras. “Eu queria escrever uma história que fosse uma alegoria ou uma fábula sobre a sociedade capitalista, algo que mostrasse uma competição extrema”, disse Dong-hyuk à Variety.

Fotos da série Round 6. Competidores estão na sala dos jogos
Squid Game/Netflix

Conexão com os personagens

Apesar da história se passar na Ásia e ser falada em coreano, Round 6 conseguiu apresentar, assim como Parasita, vencedor do Oscar de melhor filme em 2020, personagens universais, gerando identificação com o público global. “Eu queria usar aquele tipo de personagem que todos nós já encontramos na vida real”, explicou o diretor.

O protagonista Gi-Hun (Lee Jung-Jae), por exemplo, está desempregado, foi abandonado pela esposa e é viciado em apostas. Endividado até o pescoço e vivendo às custas da mãe, ele decide participar do jogo na tentativa de reconquistar a confiança da família. Lá ele encontra Sang-Woo (Park Hae-Soo), seu vizinho e amigo de infância, que se tornou um homem bem sucedido (o melhor do bairro), mas acabou falindo.

Outros personagens de destaque são Sae-byeok (Jung Ho-Yeon), uma fugitiva norte- coreana que precisa do dinheiro para cuidar do irmão mais novo e trazer o resto da família em segurança para o lado Sul da península, e Abdul Ali (Anupam Tripathi), um imigrante paquistanês que trabalha ilegalmente no país.

Jogos infantis e a crueldade como espetáculo

Todos os desafios da série são sangrentos, mas foram inspirados em brincadeiras infantis coreanas, como o cabo de guerra e a bolinha de gude. “As pessoas ficaram atraídas pela ironia de ver adultos sem esperança arriscarem suas vidas para ganhar um jogo de criança”, disse o diretor. “Os jogos são simples e fáceis, de forma que o público pode se concentrar mais nos personagens do que em regras complexas“.

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Em determinado momento, a maioria dos participantes opta por ir embora do jogo com medo de morrer, o que é aceito pelas regras. Mas pouco tempo depois de retornarem às suas rotinas, eles percebem que a vida do lado de fora é muito mais terrível e cruel que o jogo em si. Então eles voltam. “Aqui, todos os participantes são iguais. Estamos dando a vocês, pessoas que sofreram um tratamento injusto ou foram discriminadas no mundo exterior, uma última oportunidade de vencer uma competição justa”, fala um dos juízes.

Fotos da série Round 6. Competidores estão deitados no chão
Squid Game/Netflix

A personalidade e o estilo de vida também refletem na maneira como cada um joga o desafio. Enquanto Gi-Hun, que está à margem da sociedade, tenta apoiar e ajudar seus colegas, Sang-Woo, que é ambicioso, só pensa em se dar bem, mesmo que isso coloque em risco a vida dos outros concorrentes. Mulheres e idosos quase sempre são ignorados na hora de formar equipes. A discriminação de gênero, que infelizmente ainda é comum na sociedade, é mais uma das feridas que o drama coloca o dedo. As personagens femininas nunca são respeitadas ou ouvidas, e isso se reflete na própria estrutura do game.

Fotos da série Round 6. Competidores mulheres em cena
Squid Game/Netflix

Quem controla e organiza a competição é um homem mascarado e sem nome. Já nos últimos episódios, descobrimos também que pessoas ricas e poderosas, conhecidas como VIPs (nenhuma delas é mulher), apostam dinheiro nos jogadores e influenciam as regras enquanto assistem ao sofrimento alheio por pura diversão. Na série, a morte serve como entretenimento para os ricos.

Nas redes sociais, muita gente fez meme e comparou a situação com as dinâmicas dos programas de TV que oferecem dinheiro ou a realização de um sonho para pessoas pobres em troca de humilhações públicas. Não é tão diferente, né?

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Outras metáforas e críticas sociais

No final, fica evidente que os jogos e os cenários lúdicos onde acontecem as batalhas (algumas arenas remetem a parquinhos e pátios de escola) são parte do entretenimento sanguinolento. Vestidos de uniformes, os jogadores são padronizados e condicionados a números, perdendo assim sua identidade e humanidade. Em cada rodada, é como se as crianças estivessem brincando enquanto os adultos assistem.

Fotos da série Round 6. Competidores enfileirados
Squid Game/Netflix

Os guardas que trabalham para o jogo também obedecem uma hierarquia específica e seu comportamento foi inspirado nas formigas. Além do uniforme vermelho, a máscara preta carrega uma figura geométrica correspondente a sua função: o círculo significa que o soldado está no nível mais baixo, já o triângulo corresponde aos soldados armados e o quadrado se refere aos comandantes. A corrupção também existe dentro da própria organização: em um dos episódios é revelado que há uma rede subterrânea de tráfico de órgãos acontecendo enquanto os jogos são realizados na superfície.

Fotos da série Round 6. Um dos soldados do game
YOUNGKYU PARK/NETFLIX/Netflix/Divulgação

Embora o jogo se intitule justo, a competência não é um fator decisivo em Round 6. Em todos os desafios, os participantes acabam contando muito com a sorte – ou precisam enganar alguém para sobreviver. Da mesma forma como acontece na vida real, o sucesso, muitas vezes, está relacionado à meritocracia, ao status social, ao gênero ou a genética. Dá para dizer que viver pode ser uma competição mortal para alguns, não é mesmo?

Mas e aí, que outras metáforas você encontrou em Round 6?

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