Retrato da saúde mental dos jovens é grande trunfo de ‘Ginny e Georgia’
A terceira temporada da série continua a discussão importante sobre depressão e automutilação, com a sensibilidade de sempre

lém das boas reviravoltas e emoções, a terceira temporada de Ginny e Georgia, que chegou à Netflix na última quinta-feira (5), acerta ao dar continuidade à representação profunda e sensível de problemas de saúde mental enfrentados pela nossa galera. Os novos episódios mostram novas nuances do sofrimento dos jovens, mas com o mesmo tom apropriado e responsabilidade apresentados nas temporadas anteriores.
Por meio da história de Ginny (Antonia Gentry), a produção trouxe à tona o tema delicado da automutilação desde a primeira temporada. A protagonista adolescente usa a dor física, que ela própria causa com um isqueiro, como uma maneira de lidar com as emoções e pressões que a sufocam. Na segunda temporada, o problema se agrava e os pais, finalmente, descobrem o que está acontecendo – é aí que Ginny começa a ir à terapia e a se cuidar. Com o tratamento, acompanhamos a melhora da personagem nos últimos episódios, que já consegue controlar melhor os gatilhos.
[A partir daqui você pode encontrar alguns spoilers da terceira temporada de Ginny e Georgia]
No entanto, os acontecimentos catastróficos apresentados na terceira parte da série, com a mãe presa e a repercussão terrível disso, desafiam fortemente a jovem e sua saúde mental. Ginny mostra, então, que a recuperação de uma doença mental não é linear, e é marcada por uma série de desafios. Não negar essas dificuldades, valorizar os pequenos avanços e ter força para recomeçar é o que vai fazer a diferença.
Apesar do ímpeto de se machucar para aliviar a dor que está sentindo, a jovem consegue pedir ajuda à sua terapeuta, em uma sessão de emergência. Ela admite que não está conseguindo processar tudo que está acontecendo e que sente vontade de se machucar de novo. Como a psicóloga da série ensina, é importante entender que recaídas fazem parte da recuperação, e por isso é preciso se planejar para elas.
Se acontecer, o conselho é se dar uma janela para chorar e sentir raiva, refletir e depois seguir o plano que é se distrair, mexendo o corpo, dando uma corrida. A ideia é se retirar da situação e priorizar a paz. Falar sobre o assunto, colocar para fora, com pessoas de confiança também é uma boa maneira de processar.
O mundo sombrio de Marcus
Já a situação de Marcus (Felix Mallard) na terceira temporada só se agrava. O quadro de depressão, que ele desenvolveu desde a morte de seu melhor amigo, fica pior a medida que ele se isola e usa a bebida alcóolica como uma válvula de escape. A degradação da sua saúde mental vai afetando todas as áreas da sua vida: ele não consegue ficar com a garota que ama, não dá conta dos estudos, decepciona a família. Até que vemos ele chegando ao extremo em uma das cenas mais pesadas e tocantes da nova temporada, quando ele diz aos pais o quanto odeia a si mesmo.
Mais do que mostrar esse lado sombrio e difícil da depressão durante a adolescência, a série deixa que os personagens falem o que estão sentindo, com diálogos fortes e sensíveis, como a conversa em que Ginny pergunta a Marcus como é a sensação da depressão. “Parece que meus braços foram cortados, tem sangue jorrando para todo lado. Parece urgente, deveriam ter médicos correndo e suturando tudo, mas não dá para ver. É invisível”, ele responde.
Em entrevista à revista L’Officiel, Felix Mallard falou da importância de ter um personagem masculino adolescente, como o Marcus, passando por essa jornada emocional tão profunda. Ele acredita que, ao se verem refletidos na tela, os jovens têm um exemplo de como lidar com a situação de uma forma não saudável — como seu personagem está fazendo — ou de uma forma saudável.
“O objetivo com essas histórias sobre saúde mental mais pesadas e cheias de nuance é fazer as pessoas se sentirem vistas e menos sozinhas. É para mostrar a outros jovens que estão passando por abuso de substâncias ou problemas de saúde mental que existem saídas”, diz. “E talvez também mostrar que esse comportamento também é doloroso. Com esses padrões de comportamento autodestrutivos, não é só você que está sofrendo — você está prejudicando todos ao seu redor. E isso é difícil de ver quando você está passando por isso, porque a sua dor é muito grande”, acrescenta.
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