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Caso Raquel: carro alegórico que matou menina imprensada estava sem aval

Segundo Corpo de Bombeiros, apenas quatro das oito escolas da Série Ouro solicitaram a vistoria obrigatória; saiba mais sobre o acidente

Por Isabella Otto Atualizado em 25 abr 2022, 12h02 - Publicado em 25 abr 2022, 11h50

No último sábado (23), o corpo de Raquel Antunes Silva foi enterrado no Rio de Janeiro. A criança de 11 anos faleceu na última sexta-feira (22), após sofrer um acidente envolvendo o carro alegórico “Embarque no famoso 33”, da escola de samba Em Cima da Hora, da Série Ouro [antigo Grupo de Acesso] do Carnaval carioca. O episódio ocorreu na Rua Frei Caneca, no bairro Estácio, na noite de quarta (20).

À esquerda, foto de Raquel, que morreu após ser imprensada por carro alegórico. Ela é uma menina negra de 11 anos de idade. À direita, imagem do carro, que se parece com um vagão de metro e é azul e prata
“Acho uma negligência culpar a mãe”, disse amiga da família Twitter/Reprodução

Raquel foi imprensada pelo carro alegórico em um poste e encaminhada às pressas para o Hospital Souza Aguiar com fraturas expostas. A menina chegou a passar por uma cirurgia de cerca de 6h, mas não resistiu. Além de ter tido a perna direita amputada, ela sofreu uma parada cardiorrespiratória, um traumatismo no tórax e veio a óbito após ter uma hemorragia interna.

O enterro foi marcado por muita emoção e a mãe, Marcela Portelinha, que está grávida, passou mal e teve que ser amparada por familiares, que pedem justiça.

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Como tudo aconteceu?

Aline da Mota, uma amiga da mãe de Raquel, disse ao G1 que as coisas ocorreram em questão de minutos. O pessoal parou para comer um lanche na pracinha por onde os carros passam após saírem da Marquês de Sapucaí e a criança começou a brincar com uns amigos, que decidiram tirar foto na alegoria ao notarem que ela havia parado. “Quando a mãe olhou, ela não estava mais lá. Logo após, foi coisa de 5 minutos, já veio o irmão avisando que ela foi atropelada. O carro alegórico espremeu ela no poste. Ela estava bem encostada pra ver os carros passarem”, revelou a amiga ao veículo de comunicação.

Em outro entrevista, dada ao jornal O DIA, Aline disse achar uma negligência a mãe ser culpada pela escola e/ou por terceiros. “Nessa hora não tem culpado. É uma mãe, e quando uma mãe perde, todas perdemos também”, lamentou.

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José Crispim Silva Neto, motorista e coordenador de dispersão da Liga-RJ, relatou à polícia que várias crianças subiram no carro para tirar foto, mas que apenas Raquel não conseguiu saltar dele a tempo de se salvar. Ele ainda falou que, na hora em que a alegoria começou novamente a andar, gritos de “tem uma criança nela” foram ouvidos, mas que tudo aconteceu muito depressa.

O coordenador também se isentou da culpa ao dizer que, apesar de ser motorista, estava no local apenas acompanhando o carro, uma vez que não é sua função guiar o reboque.

De quem é a culpa?

Wallace Palhares, presidente da Liga-RJ, posicionou-se inicialmente de uma forma que gerou revolta. “A Liga não tem que dar suporte à família porque ali é uma área fora do Sambódromo. O que acontece ali é cultural e precisa de polícia”, disse.

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O representante ainda meio que culpou a vítima e sua família, dando a entender que elas não deveriam estar no local, uma vez que, naquela região onde os carros são rebocados, acontecem muitos roubos.

Ao saber que a criança havia morrido, ele voltou atrás: “A Liga-RJ lamenta profundamente a morte de Raquel Antunes, se solidariza com familiares e amigos da jovem, e segue acompanhando o caso e colaborando com as autoridades”, emitiu em nota.

Segundo o Corpo de Bombeiros, das oito escolas que desfilaram na Série Ouro, apenas quatro solicitaram a vistoria de seus carros alegórios, uma obrigatoriedade para que tenham aval para desfilarem. A agremiação Em Cima da Hora não foi uma delas. Portanto, não havia recebido autorização do órgão competente para entrar na Avenida. Quando não há vistoria dos bombeiros, a liberação fica por conta da Liga RJ e da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro).

Perícia analisa carro alegórico que matou menina de 11 anos
A perícia no local do crime Twitter/Reprodução

Por determinação da delegada Maria Aparecida Salgado Mallet, titular da 6ª DP, a alegoria “Embarque no famoso 33” foi apreendida e está sendo analisada pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli.

As autoridades disseram que o carro já havia apresentado problemas na concentração, momento em que precisou se movimentar cerca de sete vezes para conseguir se posicionar na Avenida. Além disso, testemunhas disseram que a alegoria apresentou falhas também durante o desfile. As suspeitas são de que o tamanho dele seja maior do que o permitido.

Até o momento, a escola não se pronunciou oficialmente sobre o acidente e disse apenas estar “esclarecendo alguns pontos junto à Liga e às autoridades”. O caso segue sendo investigado.

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