‘Quero ajudar, mas mal tenho água para mim’, afirma Samantha, que depende do Rio Doce
A adolescente mora no município de Governador Valadares, cujo sistema de abastecimento de água depende em suma do Rio Doce, e mostra como está a sua vida após a tragédia em Mariana.
“Ah, meu Rio Doce!
(…)
Na era da globalização ficaste desimportante.”
Meu Rio Doce Amargurado, Cid Rodrigues Rubelita (2005)
Há 340 km de Eliziane Salgado, Samantha Guzanski, de 16 anos, mora em um bairro de classe média de Governador Valadares, município mineiro mais afetado pela tragédia depois de Mariana. O Rio Doce, um dos mais importantes de Minas Gerais, responsável por abastecer quase toda a região, está morto .
A lama, cheia de ferro, alumínio e manganês, que já escorre sem parar há mais de dez dias, contaminou o rio. Não sobrou nada. Os peixes morreram, a água se tornou uma verdadeira bomba de produtos tóxicos. Até o momento, ninguém mexeu um dedo para tentar impedir que o fluxo sem fim de crimes contra a natureza chegue à região dos Recifes de Corais de Abrolhos, no Espírito Santo, um dos mais importantes ecossistemas brasileiros, com baleias jubartes, raias mantas, peixes de muitas espécies e golfinhos – que já sem a lama, estão ameaçados de extinção. É uma bola de neve. Ou melhor, de lama.
A adolescente sempre foi muito ligada nessas questões envolvendo o meio ambiente e encontrou uma maneira de ajudar a população de Valadares: trabalhar como voluntária, entregando água potável para os mais de 200 mil moradores afetados. “A água chega, mas acaba muito depressa. A fila é enorme. No último sábado, 14, quase saiu briga, porque o caminhão pipa prometido não chegou. Pessoas querem levar mais água do que é permitido. É um caos”, conta Samantha, que está feliz em poder ajudar, mas, ao mesmo tempo, sofre com a sua nova realidade: ” as pessoas estão usando córregos sujos para lavar roupa. Um galão de água de 20L está custando R$ 50 no mercado! “.
A estudante conta que o pessoal que vive na periferia é o mais afetado. ” Agora, é como se eles tivessem que escolher entre almoço, janta ou água “, desabafa. “Me sinto impotente com relação a tudo isso, porque quero ajudar, mas mal tenho água para mim”.
A falta de água já afetou o dia a dia da região. Muitas escolas e universidades pararam, comércios fecharam e pessoas literalmente fugiram. “A morte do Rio Doce mexeu muito com o psicológico da população. Nunca pensei que chegaríamos ao ponto de roubar água, mas roubaram a minha”, conta Samantha, que teve a caixa d?água esvaziada durante a noite.
A Prefeitura de Governador Valadares soltou uma nota, na última segunda-feira, 16, informando que já haviam testado uma forma de separar a lama da água do rio, e que, em questão de dias, o reabastecimento de água potável iria voltar. O problema é que o povo está com medo : “algumas pessoas que já tiveram suas casas reabastecidas, encheram os aquários com a água e os peixes morreram. Eu não confio para beber. Mas tenho escolha?”, questiona a jovem.
Apesar de o Exército ter tomado a frente da distribuição de água para a população, Samantha não quer parar de ajudar, pois sente que o Governo não está tomando as medidas minimamente necessárias . “Eles fecham os olhos para a situação. Quero que as campanhas de arrecadação de doações sejam divulgadas, que o problema seja tratado com a seriedade que merece, não só como uma falta d?água passageira. É a maior tragédia ambiental, ecológica, hídrica e econômica da história do Brasil “, desabafa a adolescente, que chora a morte do Rio: “é como se alguém muito próximo tivesse morrido”.
QUER AJUDAR?
– Acesse o site riodoce.help e doe água!
– Acompanha as notícias pelo Twitter da Samantha Guzanski, o @gvsolidario .
– Participe da campanha via Instagram do @doeagua2 .
– Conheça o trabalho da Trupe do Bem, voluntários que buscam água em poços artesianos e distribuem às famílias mais afetadas.
– Contribua com a disseminação da verdade nas redes sociais.