Quando você virou a chavinha e ouviu o chamado da Mãe Natureza?
E se você ainda não ouviu - e anda compactuando, mesmo que por tabela, com o negacionismo -, hoje é um ótimo dia para começar a escutar!
- Hoje é Dia da Curupira e Dia de Proteção às Florestas. Indico a música “Clama Floresta”, do grupo Bala Desejo, para você ouvir enquanto lê este texto ou depois dele.
É domingo, 8h42. Acabei de acordar de um dia espetacular e decidi escrever este texto, que eu estava procrastinando havia alguns dias. O motivo? Estou tão animada com minha primeira coluna sobre meio ambiente na CAPRICHO (e a primeira da história da marca), que estou com medo de não ser certeira o bastante com minhas palavras. Mas vou tentar!
Neste sábado (16), visitei o Parque Natural Arte Serrinha, em Bragança Paulista, no interior de São Paulo. Lá, existe uma oca construída por indígenas do Alto Xingu, que tive a oportunidade incrível de conhecer. Reparei em todos os detalhes, desde a decoração com folhas secas até a fogueira levemente acesa ao centro, que precisa ficar assim o tempo todo, pois é o fogo controlado que garante a manutenção da casa de madeira com teto de palha. Entre observações e conversas, escutei duas frases que me tocaram de maneira especial, por mais óbvias que sejam: “a natureza ensina” e “na vida, tudo é possível recuperar; menos o tempo”.
Voltei para casa [uma de concreto, construída na selva de pedra com tijolos e muita argamassa] pensando nisso. Na infância, descobri os Beatles, o Caetano Veloso e a Tropicália xeretando os CDs (a gente ainda sabe o que é isso, né?) dos meis pais. Ouvia músicas como Mother Nature’s Son, Terra e Um Índio, mas confesso que mais pela sonoridade, que me atraía. A letra eu ainda não compreendia direito.
Mais tarde, descobri as Cilibrinas do Éden e a Rita Lee, e uma mulher nunca antes tinha me intrigado tanto! Foi amor à primeira vista (sim, isso existe!) e Mamãe Natureza passou a tocar em repeat na playlist da minha vida.
A adolescência chegou e descobri mais um ídolo: o Armandinho. Com suas canções sobre casinhas no alto do morro, praias desertas e preservação, entendi que, como o ele mesmo canta em uma de suas músicas, “não adianta, eu sou do mar”. Hoje, tenho a incrível chance de dizer que já conversei algumas vezes com o Armando e ele é um dos maiores artistas-guardiões da natureza que temos. Ele e a Rita. E tantos outros. Que sorte a nossa!
Todos esses devaneios me fizeram lembrar a primeira vez que minha chavinha virou com relação ao assunto ecologia. Não, não foi quando eu me vi, também criança, apaixonada por tubarões – se você não reparou, tem um tuba no banner incrível da minha coluna desenhado pela Barbara Marcantonio, editora de arte da CH. Eu já era bem mais velha, tinha meus 25 anos e estava fazendo uma das coisas que mais curto: caminhando sem lenço e sem documento na praia, mais precisamente em Encantadas, uma praia da Ilha do Mel, no Paraná.
Aqui, mais uma coisa que talvez seja legal você saber sobre mim: eu adoro o Carnaval, mas eu não penso duas vezes antes de largar a folia e fugir para alguma ilha (quase) deserta no Brasil. De preferência, sem sinal de celular.
Mas retomemos o fio da meada. Eu estava andando na praia com a minha mãe e comecei a reparar que a quantidade de lixo que via na areia, que tinha sido trazido pela maré, era consideravelmente maior do que eu estava habituada a ver. Fiz o que sempre faço quando estou na praia: comecei a catar lixo e colocar na mochila para depois descartá-lo.
Para cada conchinha, um canudo plástico ou o que restou de uma haste flexível de algodão. Para cada caranguejinho, uma tampa, uma garrafa PET, um pedaço de isopor, um copinho plástico descartável. Não estava dando conta, mas continuei.
Foi nesse momento que percebi que algo estava muito errado, porque estava em uma praia preservada, em uma ilha, não era uma praia próxima à cidade, como algumas do Guarujá, Salvador ou da parte Norte de Ilhabela, por exemplo. Me assustei.
Pouco tempo antes, em uma viagem para Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, estávamos minha mãe e eu passeando de barco quando reparamos numa infinidade de lixo boiando na superfícia das águas perto de uma gruta turística da região. Em sua maioria, descartes plásticos – material responsável por 80% do lixo no oceano, segundo estudo da revista científica Nature Sustainability.
E o que tem em cima é apenas a “raspa do tacho”, viu? De acordo com a agência científica australiana CSIRO’s Oceans and Atmosphere, há cerca de 14 milhões de toneladas de plástico no fundo do oceano.
É claro que eu só fui descobrir esses dados depois, quando comecei a pesquisar sobre o assunto e decidi criar o #DiárioSemPlástico, projeto no Instagram em que falo sobre como reduzir a quantidade de lixo plástico que você produz no dia a dia – porque zerar esse lixo ainda é uma utopia, se levarmos em conta questões socioeconômicas e raciais do Brasil.
Enfim, tudo isso para dizer que, às vezes, tudo o que a gente mais precisa é de uma virada de chave e de alguns ídolos maravilhosos para te fazer questionar coisas que antes você só aceitava de mão beijada, a estudar sobre um tema que sempre te interessou e a fazer um movimento para começar mudando o seu mundo – mesmo que, hoje, o seu mundo signifique o seu quarto ou a sua casa.
Como diria May Parker, ela mesma, a tia do Peter, aká Homem-Aranha (mais uma coisa que você pode saber sobre mim: o Homem-Aranha é meu super-herói favorito e eu amo o do Tom Holland, mas sou para sempre #TeamTobeyMaGuire): “Quando você ajuda uma pessoa, você ajuda todo mundo”. E quando você faz o trabalho de formiguinha, por mais que algumas pessoas digam que não adianta nada em um mundo capitalista dominado por indústrias poluidoras, acredite: adianta. O que não dá mais é para ignorar o chamado da Mãe Natureza. Até porque dizem que praga de mãe pega, né? E esta, definitivamente, eu não quero pagar para ver.
Clama, floresta! Eu te escuto! E você aí do outro lado, está disposta(o) a escutar também?