Quando a diferença de idade é um problema no relacionamento?

Após um caso entre uma jovem de 19 anos e um adulto de 49 polemizar as redes, é importante entender quais os riscos e consequências das idades diferentes

Por Mavi Faria 23 nov 2025, 13h00
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m relacionamento entre pessoas de idades muito diferentes é sinônimo de problema? Recentemente, o namoro entre um professor da Universidade de São Paulo, de 49 anos, com uma jovem de 19 causou revolta e polêmica no X (ex-Twitter), com internautas apontando que a diferença de idade e o comportamento infantilizado da jovem poderiam representar uma relação manipuladora ou até abusiva.

Falas da menina referenciando a personagem literária Lolita, por exemplo, fizeram a galera questionar se o caso não se enquadrasse em pedofilia ou romantização do abuso.

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Legalmente, a jovem é maior de 18 anos e o relacionamento não é criminoso. Por outro lado, comentários nas redes denunciaram que o namoro entre uma pessoa 30 anos mais velho que a outra não pode ser saudável ou aconselhável e, a partir disso, surgiu a dúvida: quando a diferença de idade é um problema ou não em uma relação?

Para responder a essa pergunta, a psicóloga e psicanalista Luciana Inocêncio explicou à CAPRICHO que, independente da idade, casais em fases geracionais diferentes experimentam um “descompasso de fases de vida”, ou seja, momentos emocionais, profissionais e sociais distintos. Na prática, a especialista explicou que enquanto um lado do namoro está descobrindo a identidade, estudando e começando a carreira, o outro já pode estar se estabilizando e já ter vivido experiências que a pessoa amada ainda vai viver. Essa situação, explica Inocêncio, “pode gerar desequilíbrio de expectativas, ritmo e até de poder dentro da relação”.

Contudo, é muito importante lembrar que, quando falamos de diferença de idade, quanto mais jovem uma das partes é, mais vulnerável e suscetível ela está de “moldar-se demais ao estilo de vida do outro, entrar em relações e situações por se sentir pressionada a atender as expectativas que ainda não compreende ou não sabe lidar, ou até perder vivências importantes da própria fase”, argumenta a psicóloga.

Não existe uma idade considerada mais segura para se relacionar com alguém mais velho?

Não exatamente. Inocêncio explica que a idade é um norte geral para entendermos se a pessoa é madura, consciente o suficiente sobre suas ações e capaz emocionalmente de sustentar um compromisso de forma saudável e equilibrada. Contudo, a partir da idade adulta, depois dos 25 anos, quando o cérebro está finalizando o seu desenvolvimento, Inocêncio explica que as idades diferentes pesam menos porque, nessa fase, “há maior clareza sobre limites, autonomia, consentimento, objetivos e visão de mundo”.

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A psicóloga ainda defende que somente a idade não é o principal fator para determinar a qualidade de uma relação, especialmente depois de adultos. Mesmo entre casais jovens, adultos ou velhos da mesma idade, ainda pode haver a desigualdade de poder, insegurança e manipulação. O mais importante, para a especialista, é entender se o relacionamento é respeitoso, equilibrado, livre de controle ou de preconceito e capaz de promover o crescimento de ambos os lados.

Então porque relacionamentos entre pessoas muito mais jovens costumam ser apontados como mais abusivos e perigosos para a integridade física e mental da parte mais jovem?

Pela maior vulnerabilidade emocional de quem é mais jovem, como explica Inocêncio. “Quem tem menos de 18 anos ainda está em desenvolvimento emocional, cognitivo e social. Uma pessoa mais velha pode, mesmo sem intenção, ocupar uma posição de maior poder, seja financeiro, emocional ou de experiência”, explica. Essa situação pode levar a:

  • Manipulação ou controle emocional;
  • Pressão para comportamentos para os quais o jovem ainda não está preparado;
  • Dificuldade de dizer “não” ou de estabelecer limites;
  • Perdas de vivências típicas da adolescência.


Uma forma de entender se a diferença de idade, em qualquer fase da vida, está sendo maléfica para uma ou ambas as partes, é analisar se há “sentimento de inferioridade, dificuldade de expor a própria opinião ou discordar do outro, mudanças bruscas para se encaixar nos padrões e gostos do outro, perda da individualidade e ciúme excessivo ou comportamento controlador”, aponta Inocêncio.

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“Se houver maturidade, diálogo e limites claros, a diferença de idade pode ser apenas um detalhe. Mas, se houver desequilíbrio, principalmente quando um ainda está em formação (intelectual, social, financeira), isso merece atenção e, às vezes, apoio profissional especializado para compreender melhor os impactos de tudo isso”, finaliza.

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