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Qual é o impacto da ‘tiktokzação do funk’ no som e na dança?

A rede social gerou uma grande transformação na forma dos artistas criarem e da galera curtir. Isso tem seus prós e contras

Por Bruna Nunes Atualizado em 27 nov 2023, 17h38 - Publicado em 26 nov 2023, 10h00

O TikTok não apenas transformou a forma de consumir conteúdo nas redes sociais, como impactou outros setores de uma maneira bem intensa. Basta olhar para como dançamos nas festas hoje comparado com alguns anos atrás. As coreografias do app de vídeo se popularizaram tanto, que saíram das telas para fazer parte das pistas de dança e mexeram muito com o mercado musical – principalmente, quando falamos sobre funk. Já pensou nisso?

Veja só, com toda a popularidade de sucessos como ‘Desenrola, bate, joga de ladin’ e ‘Tá Ok’ , o que era visto só nas festas ‘do povão’, tornou-se figurinha carimbada nos mais diversos rolês, inclusive em ambientes mais elitizados. “O legal é que depois dos virais do TikTok, o funk começou a tocar em ambientes que a galera não imaginava antes. Realmente furou bolhas e fez chegar até na gringa”, diz o DJ e produtor de funk Keu, em entrevista à CAPRICHO. 

Keu reforça a importância de lembrar que o funk é um gênero musical nascido nas periferias brasileiras, e quando é exportado, a galera fica deslumbrada porque ninguém faz uma música experimental da maneira como o Brasil faz.

“Não existe nada que se compare ao funk dentro da música eletrônica mundial, mesmo. É muito legal ter visibilidade para um ritmo que é nosso, que é brasileiro e nasceu nas periferias” 

Dj Keu

 

Em entrevista ao site do Kondzilla, o produtor dos hits “Surtada” e “Tudo OK”, JS o Mão de Ouro, contou como as redes sociais influenciam nas batidas e até na composição. “Tem letra que é feita pensando em plataformas específicas. Já fiz sons falando sobre Tik Tok e Lomotif”, afirmou.

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No texto do Kondzilla, que falou também com outros produtores e compositores de grandes hits brasileiros, como o Pablo Bispo, é enfatizado um ponto importante: como o engajamento por meio das redes sociais, “além de ajudar na divulgação dos sons, ainda gera uma interação entre fã e artista, já que muitos postam challenges na esperança de serem notados pelos ídolos, que repostam os vídeos em seus perfis”.

Isso foi muito necessário durante a pandemia, quando artistas não podiam realizar shows, mas já deu para perceber que veio para ficar e essa lógica continua, né? 

prints de postagens do app "x" falando sobre danças do tiktok em festas

E as dancinhas do TikTok são um problema?

Mas é claro, além do som em si, não podemos deixar de citar o que é protagonista nesses virais: as famosas dancinhas. De acordo com Renata Prado, dançarina, coreógrafa e participante da organização Frente Nacional de Mulheres no Funk, a febre dos passinhos do TikTok tem a ver com a praticidade dos movimentos que essas coreografias exigem, fazendo com que elas fiquem acessíveis até mesmo para pessoas que nunca se imaginaram dançando. E isso não é algo ruim, viu? Na verdade, é bem positivo.

“Um lado positivo desse boom das dancinhas de TikTok é que muita gente começou a dançar e perder a vergonha. Mesmo que sejam passos mais repetitivos, as pessoas começaram a dançar, porque elas querem entrar na trend também. É inegável que isso incentivou muita gente a se mexer”, refletiu Renata. 

Como nem tudo são flores, sim, precisamos pensar nas problemáticas por trás de toda essa tiktokzação da indústria artística. A coreógrafa Renata levanta um ponto muito importante e pontua que é importante para ela, como artista, não se limitar a fazer danças do Tiktok e não ficar refém de virais das redes.  “É preciso ter consciência que esses movimentos são limitados porque são pensados para caber na tela do celular e isso pode acabar limitando a criatividade de nós, dançarinos”, explica.

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O importante é se divertir

A “tiktokização do funk” existe, sim, mas, como vimos neste texto, ela tem seus aspectos positivos e negativos. E, apesar de muita gente criticar que as festas são chatas porque a galera só escuta e dança o que toca na plataforma de vídeo, Renata diz que isso é um fenômeno normal.

“As coreografias já eram reproduzidas antes do TikTok, só que eram passos mais ‘expressivos’ de certa forma”, diz Renata, que ainda completa que isso é muito geracional também: “Em outra época, era ‘boquinha da garrafa’ e por aí vai!”.

O DJ Keu concorda com Renata. “Quando eu toco os funks atuais, a galera curte muito, mas no momento de tocar uns funks anos 2000 ou mais antigos, a nostalgia diverte do mesmo jeito. No fim, tudo vira resenha”, finaliza.

 

 

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