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Precisamos refletir sobre o que há por trás da cultura de ‘odiar sogras’

A CAPRICHO conversou com a psicóloga de 'Ilhados com a Sogra', que explicou sobre esse mito e como podemos repensá-lo

Por Bruna Nunes 28 out 2023, 10h00

Seja nos filmes, séries ou na vida real, as sogras são alvos de piadas e um temor carregado por muitos anos na nossa cultura social, inclusive desde a infância, com as brincadeiras de stop/adedonha e o tópico “minha sogra é”. Com a chegada do mais recente reality da Netflix, Ilhados com a Sogra, a gente se pegou pensando: afinal, por que as pessoas odeiam sogras?

Antes de mais nada, vale entender que esse lance de que “sogra é vilã” é um mito social. Ou seja, é uma ideia construída pela sociedade, baseada em esteriótipos. Para nos ajudar a entender essa questão, ninguém melhor do que uma especialista no assunto. Shenia Karlsson é psicóloga especializada em diversidade e terapia familiar e foi quem acompanhou os participantes de Ilhados com a Sogra.

À CAPRICHO, ela explica que esse mito é sustentado por muitos fatores, que envolvem os sistemas familiares, machismo e até mesmo o capitalismo. De acordo com a profissional, para entender de onde e por que essa crença surgiu, precisamos compreender primeiro quem é a essa figura na sociedade e o que se espera dela.

Caso você não tenha acompanhado o mundo do entretenimento nos últimos dias, eis o contexto: O novo reality show da Netflix é o assunto do momento. O programa, que vale R$ 500 mil, propôs uma dinâmica em que genros e noras que não se dão bem com suas sogras ficassem ilhados juntos de surpresa!

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Justamente pela galera estar acostumada com a típica piadinha pejorativa sobre essa figura, o programa  surpreendeu geral, a ponto de levantar o debate sobre a raiz dessa crença e proporcionar uma visão de ambos os lados, de quem odeia e de quem é odiada.

Aqui, nós já te explicamos porque Ilhados com a Sogra é o reality que precisávamos, mas assim como questionamos no inicio dessa matéria, a pergunta que fica é: por que as pessoas odeiam sogras? De onde surge esse estereótipo?

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Qual o lugar das sogras na sociedade?

Shenia pontua que a sogra é uma coisa muito misturada. Primeiro que se trata da mãe, cuja figura vem sendo, historicamente, mistificada. A famílias tendem sempre a colocar a responsabilidade da socialização da família e do cuidado na mulher. Quando ela se torna sogra, aparece ainda mais  estereótipos – principalmente por ser agora, uma mulher mais velha.

“A gente sabe que quando uma mulher envelhece acaba perdendo capital social, né? De certo modo, o machismo faz com que a criação dos filhos e a família torna-se o capital social mais valioso que ela tem. E uma visão misógina, faz com que vejam essa figura como histérica, invejosa, territorial e logo, ameaçadora”, refletiu a especialista.

“Poxa Capricho, em pleno 2023, a galera continua com esse papo de função social?”

É aí que entra o pulo do gato: quando a gente olha por uma perspectiva atual, vemos que essas mulheres querem ter controle de suas próprias narrativas, mas, ainda sim, são vilanizadas. E quer saber um segredo? Esse mito tem exatamente essa função de “colocar mulheres em seus lugares”.

“Hoje em dia, as mulheres estão renovando seus contratos pessoais, repensando suas vivências, o modo de estar no mundo e as suas funções também. Existem sogras que não querem cuidar dos netos, querem viajar, sair com as amigas ou tá namorando um cara jovem, sabe? Então, enfim, essa dificuldade também vem de ver a mulher mais velha em outros lugares que não seja esse. Por isso que o mito tem essa função de reafirmar, inclusive para nos subjogar, né?”, refletiu a psicóloga. 

Quando a gente para pra pensar, tudo faz parte justamente de uma origem patriarcal, que vilaniza e rivaliza mulheres, justamente por não quererem que elas saiam das caixinhas esperadas por esse sistema familiar, cujo o conceito é heteronormativo e muito, muito antiquado.

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Nem toda sogra!

“Existem sogras complicadas, isso é fato. Mas existem também noras e genros complicados, assim como existem filhos complicados. Cada um teve uma vivência familiar e uma maneira de lidar com essa vivência”, diz Shenia, lembrando da importância de humanizar essas figuras.

Além do mais, se de primeira você não se deu bem com sua sogra, por que não tentar resolver isso? Querendo ou não, esse tipo de problema pode, sim, afetar de alguma maneira o relacionamento. É claro que: se não rolar, não rolou e tudo bem! Mas pode valer a pena tentar e terapia familiar pode ajudar muito inclusive. O reality é a prova disso!

E você, tem uma boa relação com sua sogra?

 

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