Porque a amizade entre ‘webamigos’ pode não funcionar na vida real

Encontrar um amigo virtual pode significar ficar frente à frente com expectativa suas sobre quem o outro é - que nem sempre condizem com a realidade

Por Mavi Faria 17 Maio 2025, 17h00
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mundo virtual dividiu espaço quase igualitário com o real enquanto nossa galera crescia, apresentando comunidades nas redes sociais, estilos diferentes de música, de estilo e nos aproximando de pessoas que, sem a internet, poderíamos nunca conhecer.

Os webamigos se tornaram parte da nossa rotina e costumam ocupar um espaço concreto de amigo íntimo, ouvinte e conselheiro de nossos maiores segredos. Contudo, nem sempre essa relação intensa consegue sobreviver à migração do virtual para o real e não é difícil encontrar uma pessoa que, após encontrar o webamigo, acabou perdendo o contato.

Esse é o caso do Rodrigo Lago Fonseca, catalogador de idiomas que, aos 19 anos, viu uma amizade de quase uma década ser desfeita após um encontro muito constrangedor na vida real.

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Em entrevista à CAPRICHO, ele conta que conheceu esse então melhor amigo aos 13 anos em um grupo sobre música pop e que, ao longo dos últimos oito anos, eles eram inseparáveis: Conversavam todos os dias, faziam chamada de vídeo, trocavam desabafos, sonhos, medos, pediam conselhos e confiavam um no outro como melhores amigos de toda a vida.

O encontro de Rodrigo com o amigo aconteceu este ano no show da Olivia Rodrigo em Curitiba (PR) e foi nada como ele havia esperado. “Eu senti que não conhecia a pessoa que estava na minha frente e que participava da minha vida há quase uma década. Foi um clima muito esquisito, era como se ele não quisesse estar ali, e isso me deixou bem desconfortável”, desabafa.

Depois desse encontro, os dois nunca mais conversaram e o afastamento foi tanto que o amigo chegou a bloquear Rodrigo de todas as suas redes sociais. O jovem confessa que, agora na vida adulta, tanto ele quanto o amigo mudaram e amadureceram muito, e que, em algumas conversas, ele nem chegava a “reconhecer o amigo que ele tinha”.

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O que aconteceu entre Rodrigo, mesmo sendo uma situação única e específica deles, representa uma constância entre webamigos. Quando conhecemos alguém no mundo virtual, temos a possibilidade de nos apresentar e comportar da forma que quisermos – independente de ser verdade na vida real.

Você pode, por exemplo, medir as palavras que quer usar, tentar mudar o seu estilo e gosto, testar novos jeitos de fazer amizade e ainda se adaptar aquele amigo. Tudo isso, na vida real, é mais difícil. Além disso, mesmo conversando o dia todo com o webamigo, fazendo videochamada e contando tudo a ele, a vida compartilhada por mensagens nas redes ainda é um recorte, sendo muito diferente de um contato presencial.

Isso significa que todos os webamigos que se encontram presencialmente irão se afastar? Definitivamente não, mas é um risco grande que vocês correm. Enquanto cada um está na sua casa trocando mensagens com o outro, as duas imaginações criam o próprio cenário de como será esse encontro, as conversas, as trocas, a interação, e é muito difícil que ambos os lados alcancem a expectativa do outros.

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Nesse caso, pode acontecer de nenhum dos dois reconhecerem de verdade aquele amigo que manteve contato, porque, na verdade, essa amizade foi criada na sua cabeça a partir da interação que vocês fizeram – o que é diferente de assimilar a pessoa inteira, real, na sua frente.

Uma forma de tentar não ter um encontro estranho ou desconfortável pode tentar ser falar sobre o assunto, expor suas expectativas e, quando encontrar, conversar sobre isso honestamente. Pode ser mais fácil se reconectar com o webamigo se vocês colocarem para fora o que provavelmente os dois estão sentindo.

“Acho que ser adulto é um pouco sobre isso, e é um risco que a gente corre ao ter amizades virtuais. Às vezes, os encontros têm altas expectativas, que costumam ser bem silenciosas. Nem sempre vai dar certo”, afirma Rodrigo.

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