Por que estamos viciados em performar felicidade ao invés de vivê-la?

Gabie Fernandes reflete como estamos sempre à procura de sanar uma idealização. Já parou para pensar nisso?

Por Atualizado em 29 out 2024, 18h23 - Publicado em 27 ago 2023, 10h32

Eu, por mais que diga o contrário, tenho momentos de agito e hiperatividade: Não paro quieta por nada. Um grande desafio pra mim são os voos longos. Deus do céu, quando vão inventar o teletransporte? Qualquer meio de locomoção, pra mim, é uma máquina do tédio. 

Esses dias, no avião, inquieta como sempre, vi um pôr do sol, laranja, lindo, e ensaiei pegar meu celular enquanto comia as batatinhas servidas com pressa pelo comissário. 

Num surto de positividade tóxica, não peguei, resolvi viver a experiência real, aquela experiência que a gente prega nas redes a todo custo. 

Olhei o sol por uns 8 segundos até começar a pensar em outra coisa e assim eu percebi que às vezes viver o real é chato. 

Estamos viciados em performar felicidade ao invés de vivê-la, por isso idealizamos até as experiências offline. Textos e fotos sobre como viver o real inundam o mundo virtual e nos enchem de culpa porque quando vivemos o dia a dia, o básico, muitas vezes, não achamos tão incrível assim. 

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A nossa experiência não é mais imaculada, até a rotina vem cheia de expectativa e aí por mais que a gente queira não conseguimos viver o agora, estamos sempre à procura de sanar uma idealização.  

Como se fosse a primeira vez

Uma vez, no ano novo, arrastei os pobres dos meus amigos pro mato, um caos, coitados, eu sempre meto todo mundo numa roubada sem fim em prol de momentos na natureza.

Na primeira noite, saímos pro breu que cercava nossa cabana, eu olhei pro céu e gritei: MEU DEUS, OLHA O CÉU! Eu possivelmente nunca tinha visto um céu tão estrelado, tão pintado de pontinhos brancos piscantes. Eu não peguei o celular, eu só chorei. 

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Eu queria ver o pôr do sol com olhos virgens, olhos que veem pela primeira vez, eu queria descobrir aquilo que já conheço mais uma vez e mais outra e assim sucessivamente. 

Por isso,  tomei uma decisão comigo naquele voo: Não desejo esperar mais nada da vida. O que ela me der eu vou receber com olhos de criança, só assim se pode viver o real e incrível ao mesmo tempo. 

Eu não quero expectativa, nem boas impressões. 

Quero mais do que 8 segundos de atenção plena no por do sol laranja a caminho de Floripa. 

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