Por que Erika Januza recebeu críticas por namorar um homem branco?
A atriz foi chamada de 'palmiteira' por seguidores majoritariamente homens ao postar uma foto com seu namorado.
No último dia 16, a atriz Erika Januza, que estava de férias em Orlando, postou pela primeira vez uma foto com seu namorado, o empresário Victor Evangelista. A publicação rendeu críticas ao casal, especialmente à atriz, que é negra e está namorando um homem branco. Ou seja, temos aí um relacionamento interracial e uma discussão que vai além das etnias diferentes.
Uma seguidora parabenizou à atriz pelo relacionamento, mas disse que “esperava ver (Erika) com um negro”. Já a YouTuber e estilista Patrícia Alvino questionou: “quando é o Léo Santana com a bailarina branca, ninguém fala nada”. Entre os seguidores homens, Erika foi chamada de “palmiteira”. E, como bem notado pelo usuário Matheus Moreira, a maioria de comentários de repúdio à escolha da atriz são de seguidores do sexo masculino. A partir disso, começamos a entender o que está por trás de todos os palpites no relacionamento de Erika.
A expressão “palmitagem” foi criada por mulheres negras brasileiras para identificar homens negros cis hétero que se relacionam afetivamente com mulheres brancas. Se imaginarmos uma pirâmide social, dividida em gênero e etnia, o homem negro tem uma aceitação maior do que a mulher negra, pensando nesse contexto de relacionamento. Por isso, em muitos casos, eles preferem ficar, namorar e casar com mulheres brancas. Segundo especialistas, o homem negro pode criar, inconscientemente, uma preferência pelas brancas para ter a sensação de conquista e aceitação, já que o modelo eurocêntrico ainda é tão valorizado em relação ao do negro. E isso seria até uma forma, bastante problemática, de reparar sua autoestima abalada em decorrência do racismo. Vale lembrar que, assim como a mulher negra, o homem afrodescente também é hipersexualizado e carrega o estereótipo de “objeto sexual”.
Enquanto isso, as afrodescentes são preteridas, ou seja, têm dificuldade de serem correspondidas afetivamente. E surge então mais um problema: a solidão da mulher negra. Se o homem negro se relaciona na maioria das vezes com as brancas, consequentemente as oportunidades de mulheres afrodescentes se relacionarem são menores. Óbvio que isso não quer dizer que não exista relacionamento afrocentrado (duas pessoas negras) e que mulheres negras só ficam com homens brancos por falta de opção. Não dá para generalizar. Só que esses fatores impactam, sim, nas nossas relações. Em um dos comentários na foto de Erika, uma seguidora negra contou que, no caso dela, o namoro com homens afrodescentes não aconteciam, por que eles escolhiam as brancas. E, infelizmente, isso é bem comum para mulheres negras.
No mundo real, principalmente no Brasil, falar que “o amor não tem cor” é piada por todos os pontos que apareceram até aqui. Mas isso também não pode ser uma barreira na hora de criar relações. Casais interraciais vão passar por situações que nem sempre a pessoa branca vai entender o que a negra está pensando. Já os relacionamentos afrocentrados têm sim uma importância política até, mas não são sinônimos ou modelos exclusivos de felicidade eterna. O importante é estar ciente de todas as ligações que unem você ao outro.
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Por isso, quando uma mulher negra é questionada por namorar um homem branco, enquanto o homem negro normalmente passa ileso, o que está em jogo é o machismo e a solidão da mulher. Nós, negros, também reproduzimos a opressão que vivemos diariamente. Então fazer o exercício de não passar ela para a frente e, consequentemente, não nos atacarmos é essencial. Mas compartilhar ideias, mesmo que diferentes, e experiências com respeito e afeto ajuda muito no nosso crescimento e fortalecimento individual e coletivo.
E você, quer conta alguma situação sobre relacionamentos ou ausência deles? Manda sua tour ou opinião pelo e-mail anacarolipa16@gmail.com ou direct nas redes sociais, que vai ser muito escutar e fazer essa troca de vivências. Ah, e fique à vontade para enviar sugestões de assuntos para a coluna “O Nosso Lado da História” também.
Beijos,
@anacarolipa