Podcast quer ajudar os garotos a sobreviverem à “crise dos homens jovens”
Professor da Universidade de Nova York discute os desafios que os meninos americanos enfrentam no podcast "Lost Boys"

uando a série Adolescência estreou na Netflix, em março deste ano, a saúde mental e o comportamento de adolescentes, em especial dos meninos, ganharam olhares mais atentos do público. A história de Jamie, jovem preso pelo assassinato de uma garota da escola em que estuda, colocou luz sobre a socialização e padrões violentos que os homens são ensinados, desde muito cedo, e como isso afeta toda sua vida.
O problema, infelizmente, não é só na ficção, e não se restringe ao fenômeno que foi a produção do streaming. Estudiosos como Scott Galloway, da Universidade de Nova York, apontam a existência de uma “crise dos homens jovens”, que fica evidente em dados preocupantes nos Estados Unidos. Como ele destaca em entrevista à BBC, os garotos têm quatro vezes mais probabilidade de se matarem. Três vezes mais probabilidade de contraírem dependência, 12 vezes mais probabilidade de serem presos, além dos níveis recorde de depressão.
Enquanto as mulheres estão se dedicando mais as suas carreiras profissionais, conseguindo salários maiores, e aprendendo a lidar com a solidão, canalizando a energia amorosa para suas amizades (o que é ótimo e não há problema nenhum), os homens, segundo o especialista, estão enfrentando dificuldades para enfrentar os desafios nas diferentes esferas. “Estamos diante de uma geração de homens jovens inviáveis econômica e emocionalmente”, analisou Galloway, que é consultor do Partido Democrata americano sobre comunicação com homens adultos e meninos.
Garotos precisam de conversa e de ajuda, sim
Como já falamos aqui na CH, os meninos são ensinados que ser homem é sinônimo de ter virilidade, força e vigor. Na busca desse ideal de masculinidade, padrões violentos vão fazendo parte da construção da identidade deles, que são desencorajados a expressar seus sentimentos e, muito menos, chorar. A masculinidade tóxica exige que os meninos tenham um comportamento agressivo para esconder frustrações, fraquezas, sinais de depressão e ansiedade.
Em entrevista à CAPRICHO em abril deste ano, o professor de Filosofia, especialista em masculinidades, relações de gênero e violência de gênero Sergio Barbosa explicou que, segundo o patriarcado, cada homem é uma célula independente e que reage de acordo com aquilo que é provocado. Então diferente das meninas que criam redes de apoio, os meninos acreditam que não precisam disso. “Eles pensam: ‘para que eu vou me reunir em grupo para provar a minha fragilidade ou para provar que eu preciso de ajuda?”, explica.
Por isso, é muito difícil surgir grupos masculinos para fortalecer a autoestima e rever o papel do homem na sociedade. Segundo Sergio, vão surgir grupos justamente ao contrário, para atacar e defender o lado dos homens, já que existe o pensamento que as feministas estão tomando esse território. Aí eles culpam as mulheres e reforçam esse ciclo de ódio e violência.
Figuras no Brasil e mundo afora, como Sergio e Galloway, buscam trazer mais homens para uma conversa que não é de vingança contra as mulheres, mas que tem como objetivo acolher todas as complexidades do e construir uma realidade melhor tanto para eles como para as mulheres também, consequentemente.
Um dos novos projetos do professor da Universidade de Nova York, ao lado de Antony Scaramucci, neste sentido é o podcast “Lost Boys” que tem como objetivo “explorar por que os jovens americanos não estão prosperando e o que pode ser feito para ajudá-los a ter sucesso”. Segundo eles, a ideia é “dissecar o problema e oferecer aos jovens um manual de resiliência – para que eles saibam que não estão sozinhos, que seus contratempos não os definem e que seu próximo passo pode mudar tudo.”
O podcast foi lançado no mês passado e já conta com seis episódios até o momento desta reportagem, com temas como “o que significa a masculinidade hoje” e “por que os problemas dos jovens são ignorados”.
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