‘Pastel de flango’? Racismo anti-amarelos não é mimimi
Nenhum preconceito é. Por isso, nada de puxar os olhinhos ou falar 'pastel de flango'. Para você, pode parecer zoeirinha. Para mim, não é
É muito complicado falar sobre preconceito e racismo anti-asiático no Brasil, porque sinto que a nossa luta é comparada com a luta de outras minorias o tempo todo, e essas comparações são injustas para todo mundo. Sofremos um preconceito velado e ouvimos comentários do tipo “abre o olho japonês”, “japa”, “arigatô”, “pastel de flango” disfarçados de “é só uma brincadeira” quase que o tempo todo.
Isso sempre me incomodou, antes mesmo de eu saber que, na verdade, esses comentários são extremamente preconceituosos e racistas. Eu não sabia quantas pessoas também se sentiam ofendidas com isso, mas graças às discussões em grupos de militância asiática, eu descobri que não estava sozinha. Não estou sozinha.
O projeto “Abre o olho, você”, do Vinícius Chozo, é incrível e ilustra muito bem o quão ofensivo é quando você diz alguma dessas expressões para um asiático. (Confira o projeto completo)
No meu último post, sobre a música da Mc Loma e as Gêmeas Lacração, li muitos comentários dizendo que eu estava reclamando demais e que tudo não passava de mimimi. Afinal, ninguém além de mim estava se sentindo incomodada ou ofendida. Foi aí que eu realmente percebi o quanto todas essas ~piadinhas~ estão impostas para gente como algo engraçado, inofensivo, estrutural.
Em julho de 2017, o apresentador Raul Gil cometeu um ato racista durante o seu programa com o grupo de K-pop K.A.R.D. Além do apresentador fazer o gesto de puxar o olho, um ato bem ofensivo para com os asiáticos amarelos, ele ainda fez comentários desnecessários como: “Japonês ou coreano?” e ”precisa abrir o olho”; inclusive para algumas crianças descendentes que também estavam participando do programa.
Em novembro de 2017, a apresentadora Angélica e os convidados Paula Fernandes e Marcos e Belutti cometeram vários atos preconceituosos e racistas durante uma matéria do extinto programa Estrelas. Eles foram para a Liberdadade, um bairro tipicamente oriental de São Paulo, e usaram kimonos, falaram “imitando” o sotaque dos japoneses, fingiram entender o idioma e pagaram mais um montão de micos!
Esse é um assunto que ainda precisa ser muito e mais discutido. Logo após a minha primeira matéria, recebi alguns relatos de meninas que também já sofreram com comentários ofensivos simplesmente por serem amarelas. Isso me deixa muito triste, mas me dá ainda mais forças para resistir nessa nossa luta diária. E quem quiser mandar uma história para mim ou um desabafo, fica aqui meu e-mail (melissa.sakaguchi@abril.com.br) e minhas redes sociais: @MelissaEry.
Um beijo,
Melissa Ery