Para Nath Araújo, ‘ninguém está 100% no seu personagem’ e isso é ótimo
Podcast "Perdida no Personagem" discute cobrança da geração, medos, sonhos e ressignifica o que é estar perdida
ocê já esteve perdida no personagem? Ou melhor, quem nunca ficou sem saber direito quem é, o que quer e o que gosta? A primeira vez que a influenciadora Nath Araújo foi chamada de perdida no personagem foi um choque: ela ficou triste, se questionou sobre o termo e o que aquilo tinha relação com a vida real.
Hoje, em entrevista à CAPRICHO, ela conta que a expressão condizia com sua realidade na época e que já ressignificou isso. Tanto é que deu este nome ao seu recente podcast: o “Perdida no Personagem”.
“Eu comecei na verdade a enxergar essa história de se perder no seu personagem como uma coisa boa. Eu não sei se é assim com todo mundo, mas eu sinto que eu mudo bastante, mudo de opinião, mudo de estilo e claro que tem uma coisinha ali que permanece, mas eu acho tô sempre mudando para evoluir mesmo“, explica.
Dividido em oito episódios, o podcast, também disponível em videocast no YouTube, é uma ideia antiga que existia no bloco de notas do celular de Nath já há dois anos, mas que era frequentemente deixado de lado pela falta de segurança dela quanto ao formato. “Eu não imaginava fazer um podcast porque pensava que eu não ia ter muito o que falar durante uma hora ou 40 minutos e também porque eu acreditava que tinha que ser de entrevista e isso não é muito meu perfil. Acho que ficaria muito exausta de sempre ter que procurar alguém e não vou ter uma super intimidade com todo mundo”, conta.
No fim das contas, “Perdida no Personagem” nasceu de um jeito que a fizesse se sentir confortável com o que estava contando, o que era uma prioridade, tendo em vista os temas mais pessoais e íntimos que seriam abordados. Ao longo dos episódios, histórias da infância, da adolescência, da vida adulta, da família e dos amigos são costuradas com humor e com sentimentos profundos que expuseram uma Nath Araújo que ainda não havia aparecido nesta dimensão nas redes. Sim, uma mulher que tem inseguranças, medos, sonhos e que erra, como uma pessoa qualquer.
Por meio do próprio nome do podcast e dos temas abordados, ela afirma ter tido como uma das prioridades passar para o ouvinte que “eu nunca falei nem prometi para vocês que eu era perfeita ou maravilhosa, que vocês tinham que fazer tudo que eu falo e tudo que eu faço”.
A abertura das vulnerabilidades foi intencional e entrelaçada no processo de criação do podcast, voltado para a reaproximação dos seguidores e “pensado para ser um fan service“. Ela nos conta que se sentiu distante do público após um período conturbado da vida e que viu no podcast a possibilidade de se abrir com as pessoas. “Eu tinha um pouco de medo de me arrepender porque eu tenho dificuldade até na minha vida pessoal [para me abrir], mas no fim foi muito legal. Eu acho que você ser vulnerável te aproximar das pessoas, até na nossa vida fora da internet“, conta.
“Nunca dá para ter uma vida equilibrada quando você tá produzindo demais”
Entre histórias da infância no interior e da adolescência emo, um dos temas que permeia grande parte dos episódios é a relação com tempo, produtividade e cobrança interna, o que, para ela, “é a maior dificuldade da minha vida”.
Viver de pinturas e desenhos era um sonho, embora parecesse especialmente distante pela falta de ídolos que mostrassem seu caminho. “Eu não tinha os stories do Ziraldo para ele ficar falando como que era a vida dele”, diz. Mas aconteceu, o sonho se tornou realidade em determinado momento da vida adulta – só que ele vem acompanhado de desafios também. Além de desenhista e pintora, ela também é influenciadora e precisou aprender a lidar com a pressão interna de querer fazer mais do que conseguia para viver de forma equilibrada e saudável.
“Eu fico botando uma pressão que eu tenho que produzir e postar muito e nem sempre é de um jeito prazeroso. Sinto dificuldade em não fazer nada e me culpo por achar que deveria estar fazendo alguma coisa. Acho que todo mundo tem um pouco isso também”, conta. Produzir em um ritmo nada natural a fez se questionar até mesmo do quanto gostava do próprio trabalho: “eu gosto tanto disso, porque eu estou odiando?”.
Na internet, é fácil mostrar que a rotina perfeita existe e funciona, mas Nath não esconde que, nas fases em que faz além do que consegue no seu trabalho de criadora de conteúdo, outras partes da vida ficam desfalcadas. “Tem fases que eu faço tudo, edito, posto, gravo. Mas pode ter certeza que naquelas semanas eu não estou indo na academia e não tô comendo direito. Nunca dá para ter uma vida equilibrada quando você tá produzindo demais”, explica.
Criadores de conteúdo ou não, esse tipo de pressão é comum entre nossa galera que queria ter o poder de transformar o tempo. Por isso, a abertura de Nath quanto suas questões no podcast foram tão significativas para tantas pessoas que se viram em seus medos, inseguranças e anseios. Sua trajetória profissional, inclusive, abordada no último episódio do podcast, foi o tema onde o público mais se envolveu, uma vez que a mística por trás do “como ela conseguiu” foi quebrada e trazida para a realidade.
“Muitas pessoas vem me falar que se identificam e se inspiram em mim para trilhar um caminho nas artes e esse episódio é muito especial para mim por tirar as pessoas da superficialidade das fotos do Instagram. Por lá parece que foi do dia para a noite, que só a Nath consegue, teve sorte ou um pó de prlimpimpim para dar certo, mas não foi isso. Eu pude explicar minha trajetória, contar quanta coisa aconteceu e como não desisti, apesar de tudo”.
“Todas as crises que eu tive na minha vida de jovem adulta foram resolvidas com autoconhecimento”
Em um de seus momentos mais ‘perdida’, como ela explica, Nath recebeu um conselho de uma amiga que parecia impossível de ser feito: “você precisa se conhecer”. A partir deste momento e após anos de auxílio profissional, ela tem como prioridade na vida saber quem ela é. Eu gosto dessa cor, roupa, pessoa, comida, ambiente? O que me faz feliz? O que me faz triste? Para ela, são os momentos sozinha, com os gatos, que recarregam seus sentimentos e percepções sobre si. “É o que eu faço até hoje, me enxergar como uma pessoa que existe no mundo também, como se fosse alguém que está comigo”, explica.
É por isso que ela afirma, aos 34 anos, que “todas as crises que eu tive na minha vida de jovem adulta foram resolvidas com autoconhecimento”. Isso não significa uma mente sem nenhuma preocupação, insegurança ou dificuldade, mas uma que, pelo menos, sabe quais são estes pontos, porque estão aqui e como tentar minimizá-los.
Com o conteúdo voltado para a criatividade e para a própria “nanath”, ela conquistou um espaço seguro e confortável nas redes onde pode conversar, se abrir e sentir que, do outro lado, a ouvem como uma amiga. Para ela, a ‘bolha’ de seguidores que foi criada a permite explorar sua criatividade em diversos níveis sabendo que a curiosidade do público parte justamente do “o que ela vai fazer”. Quase como uma relação de amizade, é assim que o público se sente ouvindo aos oito episódios que permitem ideias cômicas e reflexivas e geram identificação.
A liberdade dela de estar perdida no personagem transmite a mensagem de que estar perdida é normal e faz parte do processo, assim como se sentir confortável vestindo, usando e sendo quem você quiser. Ela conta que passou por um período onde achou precisar se vestir como ‘adulta’ pela idade, até perceber estar sendo qualquer pessoa, menos ela. “Você precisa saber o que é um dia legal, um trabalho, um marido legal ou uma esposa legal para você”, explica.
A única preocupação de Nath é que as pessoas busquem se conhecer para, quando estiverem perdidas, saberem para onde voltarem, em todos os aspectos da vida. E fiquem tranquilas, um dia todo mundo vai se achar no personagem ou não e isso é o legal da vida.