Os minutos finais de Aleppo: ‘Ninguém no mundo está nos ajudando’

Estamos assistindo ao fim de Aleppo, na Síria, e não estamos fazendo nada. Mas o que podemos fazer? Ou estamos de mãos atadas?

Por Isabella Otto Atualizado em 1 nov 2024, 12h57 - Publicado em 15 dez 2016, 15h00

De acordo com o dicionário Michaelis, guerra é “qualquer luta ou combate com ou sem armas, entre nações, etnias diferentes ou partidos de uma mesma nação, por motivos territoriais, econômicos ou ideológicos”.  Apesar da definição clara, é sempre complicado tentar entender uma guerra. Os motivos se perdem em meio a negociações, invasões, ataques e mortes. Quantos lados tem uma guerra? Quem está certo? Quem está errado? Porque ela continua acontecendo mesmo que para muitas pessoas, principalmente para aquelas que estão acompanhando tudo de fora, protegidas, nunca tenha feito nenhum sentido?

O mundo acompanha os últimos respiros de Aleppo, cidade localizada a noroeste da Síria, que está sob ataque das tropas de Bashar al-Assad, apoiadas pelas Rússia. A intenção da nova investida é recapturar de vez o domínio da cidade dividida entre os que apoiam o governo e os rebeldes, conhecidos também como ativistas, que não concordam com a luta armada que está acontecendo em grande parte do Oriente. Aleppo é uma cidade-chave na corrida de al-Assad pela dominação das terras Sírias.

Os minutos finais de Aleppo: 'Ninguém no mundo está nos ajudando'
A pequena Bana, de 7 anos, e sua mãe narram no Twitter o dia a dia da família em meio a Guerra. Reprodução

De longe, principalmente para nós que estamos do outro lado do mundo, a guerra parece distante. Mas ela não está. Acordos, negociações e discussões sobre o futuro da Guerra Síria acontecem em todo o mundo: nos Estados Unidos, na Rússia, na Índia, na Turquia, no Irã, no Iraque, na Espanha, no Reino Unidos, no Brasil e na própria Síria. Como podemos ajudar? Ao longo dos últimos anos, A ONU tem feita diversas declarações sobre os conflitos orientais. A mais recente delas aconteceu nesta quinta-feira, 15, quando o cessar-fogo em Aleppo foi quebrado. A Organização das Nações Unidas, então, declarou que os bombardeios do exército do governo de al-Assad e aliados podem ser considerados crimes de guerra. Mas muita gente anda questionando o posicionamento da ONU de “falar muito e agir pouco”. Afinal, declarações todos nós podemos fazer.

Como interferir em uma guerra? Existe um jeito minimamente seguro para isso? Alguns cidadãos de Aleppo vêm usando as redes sociais para alertar o mundo, canalizar a atenção para o caos na cidade e pedir ajuda. Moradores estão, por exemplo, gravando vídeos de seus últimos momentos vivos antes que as tropas cheguem até eles.

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Questionamentos do tipo “Por que o mundo faz silêncio vendo o sofrimento deles?” estão sendo feitos na internet, como forma de abrir os olhos das pessoas, de fazê-las enxergar, sentir empatia por um povo que, muitas vezes, é julgado por tentar conseguir abrigo em outro país, refugiar-se em locais em que o som de bombas, aviões e tiros não seja rotineiro.

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São imagens difíceis de serem vistas, mas alguns estudiosos acreditam que a gente só consiga entender a dor do outro ao presenciar de perto o sofrimento dele. É por isso que, muitas vezes, vemos imagens fortes de crianças sírias machucadas e até mesmo mortas estampando a primeira páginas de jornais. “Filhos da Guerra”, esses jovens nasceram em meio a conflitos e não sabem o que é ir para a escola, ter um lar, ter comida e brincar. Eles não sabem o que é viver sem ter medo.

Os ativistas, ou rebeldes, de Aleppo afirmam que só querem ser livre. O Exército do País contrapõe que só quer fazer o seu trabalho e obedecer as ordens do Governo. São ideologias e caminhos diferentes, mas, no fundo, todos lutam em prol de um bem maior. Um bem que eles acreditam. Um bem que para eles é uma verdade absoluta. A Guerra Síria envolve religião, economia, política, geografia, poder. Estudiosos políticos afirmam que algo efetivo precisa ser feito em Aleppo, antes que grande parte da cidade – e seus moradores – simplesmente desapareça. Entretanto, a guerra, iniciada em 2011, está longe de terminar e pode se tornar ainda mais sangrenta.

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Eu estou muito triste porque ninguém no mundo está nos ajudando“, desabafou Fatemah, mãe da pequena Bana Alabed, de 7 anos, famosa no Twitter por narrar ao vivo os trágicos acontecimentos em Aleppo. “Como podemos ajudar?”, talvez seja a pergunta mais dolorosa que assombra todos nós que estamos assistindo a tudo isso de longe. O que fazer? Ou será que estamos atados?

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