O que podemos aprender com Ariana Grande sobre superar traumas
A atriz e cantora contou que interpretar a Bruxa Boa em 'Wicked' a ajudou a reformular sua relação com a música e a entender o que deixar de lado
m toda postagem nas redes sociais, entrevistas e falas ao longo da promoção de Wicked, Ariana Grande não deixou de enfatizar o carinho e a realização de estar interpretando uma personagem que é o sonho de uma vida inteira. Contudo, sua relação com Glinda, a Bruxa Boa do Norte, parece ser ainda mais intensa ao passo que a atriz e cantora relatou que interpretar o papel na ficção a ajudou a curar traumas relacionados à música.
Após quatro anos sem lançar singles ou álbuns, a cantora surpreendeu os fãs com seu sétimo álbum de estúdio, eternal sunshine, sendo lançado em março de 2024, meses antes da estreia da primeira parte de Wicked. Em entrevista à Nicole Kidman para a Interview Magazine, Grande explicou que o processo de produção do novo álbum foi muito diferente dos seis anteriores e que isso é uma consequência da sua “reformulação com a música”, em que ela precisou separar o que fazia parte da fama e da persona popstar e o que era inerente à música.
“O tempo longe [da música] me ajudou a resgatar certas partes e a colocar certos sentimentos que talvez pertencessem à minha relação com a fama, ou às coisas que vêm com o fato de ser artista, em uma caixinha em algum lugar, e dizer: ‘Ok. Não preciso abrir mão disso que amo. Posso simplesmente deixar essas coisas de lado e não perder de vista meus talentos’”, explica.
Alcançar essa consciência e remodelar como ela se relacionaria com a música não foi uma tarefa fácil, mas se tornou possível graças a entrega de Grande ao papel de Glinda, que a ajudou a “curar minha relação com a músicas e as turnês”.
“Tenho dado pequenos passos para curar minha relação com a música e as turnês, e acho que meu tempo com Glinda e com a atuação realmente me ajudou a construir a força necessária para fazer isso. Não consigo expressar o quão grata sou. Acho que isso me trazia alguns traumas e sinto que eles estão se dissipando, e isso é algo extraordinariamente lindo”.
A cantora e atriz já falou abertamente sobre sua luta com a saúde mental, envolvendo depressão, ansiedade e Transtorno do Estresse Pós-Traumático, desencadeado após um atentado terrorista em 2017 ,em Manchester, na Inglaterra, na saída do show da cantora, o que levou 22 pessoas à óbito. O relacionamento tóxico com Mac Miller, marcado pelo abuso de substâncias ilícitas, e a cobrança da fama fizeram com que Grande relacionasse a música com uma vida de tensão, nervosismo e pressão para ser uma persona que não representa quem ele é na vida real.
Na entrevista, ela ainda ressaltou como a ascensão rápida da carreira foi um choque intenso. “Houve um período de adaptação complicado no início, quando minha carreira pop decolou da forma como decolou. E espero que isso não soe como ingratidão, mas é uma grande adaptação quando sua vida muda de forma tão drástica”, conta. “Sou muito grata por poder fazer o que amo. Só não esperava certas partes disso”.
Sobre a persona ‘Ariana Grande’ cultivada por meio de uma identidade visual marcante, a cantora e atriz relatou dificuldade de separá-la do “ser artista”, preferindo se separar completamente de tudo envolvendo o mundo da música após o último lançamento em 2020. “Eu fico pensando: será que a dança precisa fazer parte de ser artista, ou será que devo deixá-la de lado, bem longe de mim, e simplesmente me dedicar à minha arte, sem deixar que isso atrapalhe minha relação com ela? Na verdade, às vezes eu prefiro seguir o caminho da pessoa jovem e descolada e simplesmente dizer o que penso. De verdade, eu preferiria, mas aí eu medito e sigo em frente”.
Embora viver Glinda em Wicked tenha ajudado Grande no processo de superação de seus traumas, Michelle Sampaio, psicóloga especialista em sexualidade humana, explica que “superar um trauma não significa esquecê-lo”. Nesta outra matéria, a especialista ressalta como “lembrar faz parte, afinal temos memórias, quando você supera quer dizer que aquilo não te paralisa mais ou não traz uma forte angústia como antes”.
Isso explica porque os próximos passos de Grande na música são mais contidos do que antes. Apesar de polêmica, a turnê de eternal sunshine é menor, com cerca de metade das apresentações que a artista costumava fazer em turnês anteriores, e também passa por um número de cidades reduzido.
Pela fala da cantora e atriz, sua nova persona parece representar de forma mais fiel quem ele é na vida real, o que a ajuda a se sentir mais conectada com o mundo da música e da atuação. A psicóloga, por exemplo, ressaltou como o autoconhecimento é essencial nesse processo. “O autoconhecimento pode ser uma forma de lembrar outros momentos da vida em que superou momentos difíceis e ver o que você fez e pode usar novamente para passar por outro trauma”, diz a psicóloga.
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