O que é disforia e como ela pode afetar seu corpo?
A disforia de gênero afeta muito pessoas trans, mas qualquer um pode ser suscetível ao transtorno
provável que você já tenha ouvido falar em disforia de gênero, muito comum em pessoas trans. Mas, você sabia que qualquer pessoa está suscetível à disforia?
Isso porque o termo disforia se refere a um transtorno mental em que há a sensação de mal-estar frente a uma situação que pode ser de descontentamento com o próprio corpo, o não reconhecimento do próprio gênero ou, até mesmo, uma sensação ou emoção identificadas durante a TPM (Tensão Pré-Menstrual).
O próprio desconforto com o corpo e com o gênero do nascimento são sintomas que podem surgir tanto em pessoas trans quanto em pessoas cis, porque o sentimento da disforia não vai interferir no gênero em que há a identificação. É o que explica para a CAPRICHO a neuropsicóloga Luciana Garcia.
A especialista pontua como, embora todos estejam suscetíveis a disforia, algumas pessoas podem ser mais vulneráveis por questões de personalidade, temperamento ou até situações ambientais. Pessoas com transtornos sexuais, inclusive, como vaginismo, disfunção erétil e ejaculação precoce, também são mais vulneráveis a sofrer de disforia.
Como perceber a disforia?
“Podemos perceber sinais de grande desconforto ou de sofrimento aliados a sintomas semelhantes aos da ansiedade e da depressão“, explica a neuropsicóloga. Alguns sintomas comuns listados por ela foram:
- Maior irritabilidade;
- Choro;
- Falta de autoconfiança;
- Sintomas físicos (dores de cabeça, tontura, enjoo, etc);
- Dificuldade de concentração.
Em pacientes com disforia de gênero, é muito comum o desejo de mudar suas características físicas o tempo todo, seja com corte de cabelo, coloração e mudanças de vestimenta. Além disso, a relação com as características corporais é muito afetada e há uma rejeição intensa às características físicas e, em especial, sexuais do corpo.
Os sintomas listados, segundo a neuropsicóloga, podem surgir desde a infância. “Pode ter início com comportamentos, desejos e brincadeiras socialmente incongruentes com seu gênero de nascimento – o que, aliás, gera sofrimento para a própria pessoas e seus familiares”, explica. Comportamentos, inclusive, como meninas, aos 10 anos, declarando que serão meninos, e vice e versa, são típicos na disforia. Nos atos, a rejeição é bem presente no corpo.
“Crianças e adolescentes apresentam semelhanças na manifestação dos sintomas, expressos de acordo com seu desenvolvimento e maturidade. Já para adultos, muitas vezes, a aversão pelos seus órgãos sexuais é tão grande que o impedem de qualquer tipo de atividade sexual“, pontua Luciana.
Um exemplo mais claro é o do personagem Ivan, que inicia a novela como Ivana, em ‘A Força do Querer’, transmitida pela Globo em 2017. Na trama, Ivana, interpretada por Carol Duarte, apresenta diversos sintomas da disforia antes e durante o processo de transição, em especial a forte rejeição com toda característica do corpo e com atividades sexuais.
Existe cura para a disforia?
“Quando falamos em transtornos mentais, não falamos em cura, mas, sim, em tratamento e remissão (parcial ou total) em muitos casos. A disforia de gênero, assim, não é transitória e a avaliação e intervenção especializada são necessárias para determinar os sintomas que podem ser disforia ou se são manifestações comuns às vida“, explica a neuropsicóloga.
Entretanto, Luciana ressalta que, quando os sintomas da disforia não são devidamente tratados e acompanhados por psicólogos e psiquiatras, o paciente pode desenvolver outros transtornos como depressão e ansiedade. Outro ponto de alerta trazido pela neuropsicóloga é que nem todos os sintomas podem indicar disforia e, por isso, na dúvida, é de extrema importância procurar médicos especializados.
“Algumas manifestações como não reconhecer o próprio órgão genital ou querer roupas e brincadeiras diferentes do que a sociedade impõe, são bastante comuns na infância e não devem ser confundidas com disforia de gênero. Portanto, a situação deve ser avaliada por profissionais e serviços especializados, sempre”, alerta Luciana.
Nesses casos, quando a disforia de gênero é confirmada, há, além disso, todo um acompanhamento e tratamento para entender se existe mesmo a vontade de transicionar de gênero, o que inclui um outro tratamento. Em todo caso, a presença de um especialista da saúde é fundamental.