O que acontece com suas amizades depois que você sai da escola?
Do 'terceirão para a vida' parece mais distante do que nunca, e para tanta gente. Te explicamos o porquê
expressão ‘do terceirão para a vida’ é mito ou verdade? Ou melhor, para você, foi como as coisas aconteceram depois do Ensino Médio? Uma breve pesquisa nas redes sociais, em especial no TikTok, mostram que a galera não acredita e nem vivencia muito esse lema. O mais comum é encontrar vídeos fazendo piada com a ideia e alguns outros comemorando aquela única amizade que perdurou após a formatura.
Até mesmo entre a redação da CH, a opinião é unânime de que algo acontece após a formatura que parece transformar nossas amizades, incluindo as pessoas e as formas que nos relacionamos. À medida que a casa dos 20 começa a surgir, não é difícil ouvir reflexões sobre as amizades da escola, mas também sobre como é difícil criar novas amizades na vida adulta.
Essas reflexões também são comuns para a jornalista e fundadora da Lúcidas, organização que promove a importância das amizades femininas como pilar essencial de bem-estar social, Larissa Magrisso. Em entrevista à CH, ela explicou como, ao longo de todos os anos na escola, aprendemos a desenvolver principalmente um tipo de amizade que, na vida adulta, têm dificuldade de encontrar seu espaço, porque ela é fomentada em parte pelo tempo constante de convivência com a outra pessoa.
“A amizade, então, [dentro da escola] se torna natural, simples, não exige tanto esforço porque a permanência daquela amiga na nossa vida se dá pelo fato de que frequentamos um mesmo espaço, então não é necessária muita dedicação para que estejamos com ela”, aponta.
A partir disso, Larissa enxerga dois cenários possíveis de acontecerem com todos nós após o fim da escola: ou há esforço para manter a amizade, ou há o afastamento. Na primeira possibilidade, é necessário que haja força de vontade e esforço das duas partes para manter a relação porque não há mais o encontro diário na escola, assim como é preciso, em muitos casos, tentar descobrir pontos em comum.
“Se agora não temos mais os papos sobre a rotina da escola, sobre os professores, sobre os colegas, sobre a escolha de uma profissão, é preciso identificar quais são os nossos universos em comum nessa nova fase, para que siga sendo interessante a troca com essa amiga, o que se dá muito pela identificação”, afirma Larissa.
Este ponto, inclusive, também pode ser o que promove o afastamento com o tempo, porque, mesmo se vocês dedicam tempo e marquem de se encontrar, pode ser que os gostos e interesses não sejam mais os mesmos. Por isso, Larissa acredita que as duas possibilidades são saudáveis e naturais, já que, depois da escola, a vida de cada um de nós se transforma.
Algumas pessoas vão trabalhar, outras para o cursinho, algumas entram na faculdade direto e uma parte até se muda de cidade. A diferença de profissão, interesses, gostos e a perda de contato são fatores que levam, de forma muito certeira, ao afastamento. E isso não significa necessariamente que a outra pessoa não goste de você, mas sim que estão em fases e momentos distintos.
Além disso, não é pela consciência de que esses fenômenos podem ou não acontecer com você ou com a sua galera que vocês precisam abolir o ‘do terceirão para a vida’ ou deixar de ter a intenção de manter aquela amizade com você. Para Larissa, esse tipo de pensamento é saudável, importante e as amizades que realmente ficam são “preciosidades” para ela.
“Eu levei algumas amigas dessa época que estão na minha vida até hoje, acompanhando diferentes fases, às vezes mais afastadas, às vezes muito próximas. Mas com um nível de intimidade e entendimento que só quem passou pelos perrengues e a avalanche de mudanças e experiências da adolescência, ou só quem passou tempo com a minha família, como costuma acontecer com essas amizades, consegue entender. Uma preciosidade”, afirma com carinho.
Entretanto, os próximos passos da sua amizade também não devem ser uma pressão ou estímulo para a ansiedade. A intenção de manter a relação é ótima, mas ela não deve ser incentivo para frustração ou para manter um vínculo que não faz sentido só para conseguir “ganhar” e mantê-la, até porque, segundo Larissa “tentar manter uma amizade que não acrescenta mais em nome do saudosismo pode não ser positivo”.
Após a escola e na vida adulta
Aqui, usamos a escola como ambiente de conexão forte porque é um espaço que convivemos por anos e, muitas vezes, com as mesmas pessoas. Mas a ideia de Larissa funciona para qualquer grupo que façamos parte: se o grupo se dissolver, como ficam as relações individuais? Na vida adulta, a ideia se mantém, e a importância da dedicação com a amizade precisa ser maior.
Isso porque é difícil, na correria de ser adulto, ter encontros diários e tão constantes com os amigos, sem precisar se esforçar para isso e “a amizade dificilmente vai seguir simplesmente acontecendo”. Nesta etapa da vida, a manutenção de uma amizade depende muito da nossa disposição de incluir a amiga na nossa vida e de dedicar tempo a ela.