‘O problema é eu ser gorda e estar muito bem com isso’
Jessyka Faustino foi vítima de cyberbullying por simplesmente postar fotos de biquíni. E se ela fosse magra? Será que isso aconteceria?
Era uma vez, uma garota chamada Jessyka Faustino, que estava feliz na praia e resolveu postar uma foto no Facebook para dividir essa alegria com o mundo. Mas era uma vez também pessoas que se incomodaram com o fato de Jessyka estar plena na praia e postar fotinho de biquíni nas redes sociais. Por quê? Bem, porque o tal padrão de beleza diz que com essa foto você não precisa se preocupar (e pode até dar umas curtidas):
Mas com essa… O que essa garota está pensando ao postar uma imagem assim?!
“Depois de postar a foto, recebi muitos ataques e uma mensagem dizendo para eu parar de postar imagens de biquíni, porque devia pesar uns 150 Kg“, conta a alagoana de 20 anos. Essa não foi a primeira vez que a estudante de jornalismo da UFAL (Universidade Federal de Alagoas) sofreu ataques por ser gorda. “Uma vez postei no Twitter outra foto de um dia na praia e fui para a aula. Quando voltei, tinham dezenas de mensagens de perfis fakes me xingando e me ridicularizando. Fica claro que o problema não é eu usar biquíni, mas ser gorda e estar muito bem com isso“, ressalta.
Mas nem sempre foi assim. Jessyka Faustino já chegou a bloquear seus perfis nas redes sociais por medo de que novos ataques acontecessem. Depois, porém, ela percebeu que fazendo isso só dava ainda mais razão para os agressores. “Não era eu que tinha que me esconder. Minha melhor resposta para esses tipos de ataques é continuar me amando e sabendo que em alguns dias eles vão ganhar, mas que no outro eu me levanto e ajudo meninas com essa atitude”, afirma a jovem.
A maior dificuldade não é ser ouvida, mas entrar em qualquer tipo de discussão com quem pratica bullying, pois, de acordo com a Jé, essas pessoas não estão dispostas a ouvir e entender. Cegados por padrões que ainda insistem em seguir e reproduzir, elas não pensam duas vezes antes de fazer algum comentário preconceituoso, machista e, muitas vezes, racista. Como lutar contra esse discurso, então? Jessyka acredita que o melhor jeito é continuar sendo, existindo, vivendo. Sempre que pode, ela posta algo nas redes sociais sobre empoderamento e autoestima, para que outras meninas gordas entendam que não precisam “consertar” seus corpos, já que não há nada de errado com eles.
Muita gente confunde, por exemplo, gordura com doença, e a galera está completamente enganada quando pensa que toda menina que não se enquadra naquele padrão magro de beleza não saudável. Quando mais jovem, Jessyka Faustino tinha certeza de que algo estava errado – principalmente quando, aos 6 anos de idade, visitou o nutricionista pela primeira vez. “É fácil acreditar nisso, sabe? Porque a gente não se vê nas revistas ou na TV. Quer dizer, nas novelas a gente até que se vê, mas é sempre como a engraçada, a inteligente, a brava. Nunca como a bonita. E a gente não se vê na moda. Comprar roupa vira um pesadelo, pois você tem vergonha de sair do provador e ver que nada serviu. Quando você acha algo do seu tamanho, é caro. Quando acha algo acessível, é feio. Entende como é fácil achar que o erro está em você, não no padrão?“, ressalta a alagoana.
Jessyka deixa claro que não existe um conselho prático para que meninas com baixa autoestima acordem se amando já na manhã seguinte. O amor próprio é um processo. Mas é importante entender que a insegurança acaba influenciando em tudo: no jeito como você se relaciona com você mesma e com os outros, nos rolês para a praia desmarcados, nas oportunidades perdidas, nos relacionamentos afetivos… “Já cheguei a acabar um namoro só porque achava que a outra pessoa merecia alguém melhor que eu. Passei um ano e seis meses sem ir à praia, um dos meus lugares favoritos, por vergonha do meu corpo. É preciso ter carinho com você mesma, pois, lá na frente, tem uma versão sua que será muito grata pelo jeitinho como você se trata no presente“, finaliza.
Esse caminho não precisa ser solitário e você não está com defeito para ser consertada.