O movimento feminista é dividido em algumas vertentes e cada uma delas tem suas linhas de pensamento. Por exemplo, o feminismo liberal, considerado o mais antigo, nasceu no século XIX, durante a Revolução Francesa, com o lançamento da obra Reivindicação dos Direitos das Mulheres, escrita pela filósofa Mary Wollstonecraft. Ele defende que a mulher é livre para fazer suas escolhas e que é preciso lutar pela igualdade de gênero, mas sem levar em conta que nem todas as pessoas do sexo feminino estão em níveis de igualdade. Afinal, na sociedade em que vivemos, é bem diferente ser uma mulher branca e uma mulher preta.
Na contramão do feminismo liberal, surgiu o interseccional, que coloca em pauta não apenas questões de gênero, mas raciais, de classe, de identidade, de regionalidade, e assim vai. Sendo assim, mulheres transexuais são abraçadas por essa vertente, diferentemente do que acontece na do feminismo radical, que nasceu nos anos 60, nos EUA, com obras de ativistas como Shulamith Firestone e Judith Brown, e se baseia na questão biológica de ser mulher. Além disso, o radfem, como é popularmente conhecido, prega que não adianta a mulher se empoderar individualmente. É preciso que elas se empoderem em coletivo para que haja uma transformação estrutural na sociedade.
Independente da vertente, o movimento feminista no geral prega o empoderamento feminino, que nada mais é do que dar conhecimento para que as mulheres consigam se fortalecer e ir atrás de seus direitos em uma sociedade estruturalmente patriarcal e machista, quebrando assim padrões ultrapassados e promovendo uma espécie de reparação história. Ou seja, é sobre dar poder. De mãos dadas com o empoderamento feminino, temos a sororidade, que é basicamente a união entre mulheres, especialmente daquelas que compartilham os mesmos ideais e propósitos. Mas por que estamos falando tudo isso?
Recentemente, o Big Brother Brasil trouxe mais uma vez à tona debates a respeito do empoderamento e da sororidade, expressões que muita gente entende de maneira errônea. Embora sejam práticas que têm como intuito acabar com o mito da rivalidade feminina e incentivar uma maior empatia entre as mulheres, elas são significam que você deva ser amigas de todas as meninas da sua classe, que não deva discordar do comportamento de outras garotas ou então que deva apoiar todas as mulheres. Todas nós temos inimigas e nenhuma de nós é obrigada a gostar de uma pessoa só porque ela é do sexo feminino, porque definitivamente não é isso que o feminismo prega.
a carla diaz perdoando a karol conka é uma das desgraças que o feminismo liberal causou nesse país
— mundinho sarah br (@marianxco) February 8, 2021
Então quer dizer que eu não sou obrigada a gostar da Karol Conká? Não, até porque você não é obrigada a gostar de ninguém. O que você pode é ter empatia e tentar entender os sentimentos, a realidade e especialmente a vivência alheia, e você também pode empoderar essa mulher, mesmo que não concorde com as atitudes dela, para que assim ela seja munida de informações que a façam repensar suas atitudes, mas você não precisa nem deve segurar a mão dela, se ver obrigada a perdoá-la de alguma forma ou a não odiá-la só porque o movimento feminista existe, levando em conta todas as questões que abordamos aqui anteriormente. Por trás de toda feminista há uma mulher diversa, com princípios, valores, personalidade e caráter que nem sempre podem ser honrados só porque essa mesma pessoa tem uma música intitulada 100% Feminista ou uma tatuagem com o escrito “Grl Pwr” no tornozelo. Não há pano suficiente para isso nem tanque que aguente essa lavagem. Ser uma mulher empoderada significa ser uma mulher poderosa, porque conhecimento é poder, mas não necessariamente uma mulher empoderada tem uma personalidade forte e, o que é mais importante destacar, ataques, especialmente a outras mulheres e minorias, preconceitos, xenofobia, sexismos e racismos não podem vir disfarçado de empoderamento ou de um feminismo com fins comerciais que deturpa completamente um movimento com várias vertentes, mulheres, vivências e lutas.
O feminismo não é sobre odiar homens mas também não é sobre amar todas as mulheres. Logo, boa notícia! Os memes “O feminismo me ensinou a não odiar as mulheres e principalmente a apoiá-las, mas está difícil com a Jaque Patombá” e “A Carla Diaz perdoando a Karol Conká é uma das desgraças que o feminismo liberal causou nesse país” estão liberados – mesmo que a Lumena não tenha dado autorização para isso.