Nossas séries queridinhas têm chamado atenção para saúde mental do meninos
Ao retratar a vulnerabilidade dos personagens, elas mostram que os meninos também sentem e sofrem – e não há nada de errado nisso

onrad Fisher de O Verão que Mudou Minha Vida, Marcus Baker de Ginny e Georgia, James Beaufort de Maxton Hall. Dadas as diferenças, os três se encaixariam na categoria dos “bad boys”. São mais “durões” e marrentos. Pelo menos de início, parece que vão ser reduzidos a essa “rebeldia” que seduz a mocinha.
Mas, ao longo dos episódios, vemos Conrad, que por muito tempo tenta reprimir suas emoções, enfrentando crises de ansiedade. Marcus ilustra quão árdua é a batalha contra a depressão. E James sofre por não conseguir seguir seus próprios sonhos e ser ele de verdade. Ao colocarem esses personagens vulneráveis diante do público, as produções da Netflix e da Amazon Prime quebram com a ideia muito comum de que os garotos não sentem nem sofrem.
Laura Hueb, psicóloga clínica e apaixonada por cinema, exalta a importância dessas narrativas masculinas em séries teen, umas vez que os meninos ainda têm mais dificuldade de falar sobre saúde mental e de procurar ajuda. “Meninos jovens vão para terapia, muitas vezes, por causa dos pais que insistem, e, quando vão, chegam com várias barreiras”, relata.
Como já falamos aqui na CH, os meninos são ensinados que ser homem é sinônimo de ter virilidade, força e vigor. Na busca desse ideal de masculinidade, padrões violentos vão fazendo parte da construção da identidade deles, que são desencorajados a expressar seus sentimentos e, muito menos, chorar. A masculinidade tóxica exige que os meninos tenham um comportamento agressivo para esconder frustrações, fraquezas, sinais de depressão e ansiedade.
Scott Galloway, professor da Universidade de Nova York, aponta a existência de uma “crise dos homens jovens”, que fica evidente em dados preocupantes nos Estados Unidos. Como ele destaca em entrevista à BBC, os garotos têm quatro vezes mais probabilidade de se matarem. Três vezes mais probabilidade de contraírem dependência, 12 vezes mais probabilidade de serem presos, além dos níveis recorde de depressão.
Diante desse contexto, Laura diz que, além do tratamento terapêutico, que é de extrema importância, é necessário trazer o tema da saúde mental dos meninos para o debate e com mais naturalidade. “Apesar de hoje ser muito menos estigmatizado, principalmente depois da pandemia em que todo mundo enfrentou momentos muito difíceis, falar sobre o sofrimento ainda é uma questão a ser desenvolvida”, diz a psicóloga que acrescenta que a arte e a ficção são uma ótima ferramenta para isso.
“Saúde mental não é só dentro do consultório de psicologia. O profissional é muito importante, mas eu sempre costumo dizer para os meus pacientes que a terapia é uma hora da sua semana, e nas outras horas da sua semana?”, acrescenta. Laura diz que até nas séries podemos perceber que as meninas estão sempre conversando com suas sobre os seus problemas, enquanto a maioria das cenas dos meninos dialogando com os amigos é sobre assuntos cotidianos, como o futebol, por exemplo.
Para a psicóloga, ver personagens masculinos com narrativas focadas em saúde mental causa uma identificação importante para os jovens, trazendo um sentimento de acolhimento e uma consciência de que o que eles estão sentindo não é incomum ou errado. Além disso, motiva eles a falarem mais sobre isso e buscar ajuda.
Em entrevista à revista L’Officiel, Felix Mallard, que faz Marcus em Ginny e Georgia, falou da importância de ter um personagem masculino adolescente, como o que ele interpreta na série, passando por essa jornada emocional tão profunda. Ele acredita que, ao se verem refletidos na tela, os jovens têm um exemplo de como lidar com a situação de uma forma não saudável — como seu personagem está fazendo — ou de uma forma saudável.
“O objetivo com essas histórias sobre saúde mental mais pesadas e cheias de nuance é fazer as pessoas se sentirem vistas e menos sozinhas. É para mostrar a outros jovens que estão passando por abuso de substâncias ou problemas de saúde mental que existem saídas”, diz. “E talvez também mostrar que esse comportamento também é doloroso. Com esses padrões de comportamento autodestrutivos, não é só você que está sofrendo — você está prejudicando todos ao seu redor. E isso é difícil de ver quando você está passando por isso, porque a sua dor é muito grande”, acrescenta.
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