Um dos medos reais não só das jogadoras Seleção Brasileira de Futebol Feminino, mas de grande parte da torcida, era que após as Olimpíadas Rio 2016, o futebol feminino voltasse ao anonimato ou fosse, como sempre, esquecido por grande parte daqueles que ovacionaram as meninas durante a competição. Dito e feito. No mesmo final de semana em que aconteceu o encerramento dos jogos, uma notícia tirou o sono de muitos: a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) anda discutindo a extinção de Seleção Permanente de Futebol Feminino. SAY WHAAAT!?
Calma. Antes de tudo, você precisa entender que querer extinguir a Seleção Permanente não é o mesmo que querer extinguir o futebol feminino no geral. A Seleção Permanente é, como o próprio nome diz, uma equipe de jogadoras convocadas para a seleção que não muda durante um determinado tempo. Essas atletas recebem treinamento especial e investimento para que consigam chegar mais longe nas competições principais, como as próprias Olimpíadas. A permanência de uma seleção divide opiniões até entre os especialistas e técnicos. Alguns concordam e incentivam a decisão, pois afirmam que ela deixa o time principal mais forte – o que ajuda a modalidade no geral. Outros dizem que as jogadoras escaladas para a Seleção Permanente deixam de atuar em clubes, o que faz com que os campeonatos locais deixem a desejar.
A discussão então não deveria ser sobre a Seleção Permanente de Futebol, mas sobre projetos que deixem os campeonatos e os times de futebol femininos (inclusive os de base) mais estruturados, com o mínimo que as atletas precisam para desempenharem seus papéis. Você sabia que, em 2014, a CBF deixou as jogadoras da Seleção sem carteira assinada e sem benefícios? Isso sem contar nos salários desiguais recebidos por homens e mulheres no futebol, uma questão polêmica, que também divide opiniões, mas real, presente e inquestionável. Em 2015, o Portal EBC fez um levantamento que mostrou que a renda mensal de Neymar bancaria a folha salarial dos quatro times finalistas do Brasileirão feminino por 55 meses.
Marta, um dos grandes nomes do futebol feminino, defende a Seleção Permanente e afirma que muitas ótimas jogadoras, sem clube, só têm a oportunidade de treinar e jogar por causa do projeto. Entretanto, ele não é uma solução final. O correto seria que os times de base tivessem investimentos para que não faltasse verba para os clubes contratarem jogadoras; e que as mesmas não ficassem paradas. “Precisamos de futebol feminino nas escolas, nos grandes clubes, o Brasil inteiro tem que abrir as portas para o futebol feminino, para os talentos. Infelizmente, muitos são desperdiçados ou vão embora do nosso país logo cedo”, declarou Formiga, colega de Marta, em entrevista ao HuffPost Brasil.
“É disso que a gente precisa, do apoio do brasileiro, de incentivar não só no momento das Olimpíadas”, concordou a goleira Bárbara. Na mesma entrevista, Marta ainda ressaltou a importância de o investimento começar desde cedo, pois muitas meninas não têm a sorte de serem descobertas ou de conseguirem uma bolsa de estudo para jogar e estudar. O que falta no futebol feminino é planejamento e apoio. As jogadoras não têm sequer um calendário de jogos e torneios para permanecerem na ativa, pois falta incentivo, falta financiamento.
Se já é difícil para meninos realizarem o sonho de viver de futebol, para as meninas é duas, três, quatro vezes mais complicado. Em meados de 2016, recebemos a linda notícia de que o time de futebol feminino do Centro Olímpico de São Paulo foi o grande campeão de um torneio masculino. Surreal, não? Bate aquele orgulho de ser garota e de jogar como uma garota, mas também bate uma tristeza de saber que as jogadoras e a equipe técnica precisaram se inscrever e lutar parta disputar um torneio masculino por falta de um feminino decente.
O buraco é, infelizmente, muito mais embaixo. Mas não tem discussão: o Futebol brasileiro feminino precisa de mais apoio e nós estamos dispostas a ajudar. E você, CBF? E você aí de casa? “Vão ter que nos engolir!”