Não dá mais para confundir identidade de gênero e orientação sexual

Casal lésbico formado por uma mulher cis e outra trans, foi alvo de ataques transfóbicos e de muita falta de conhecimento

Por Mavi Faria Atualizado em 26 nov 2025, 18h51 - Publicado em 26 nov 2025, 16h35
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hanel, atriz e Drag Queen, participante da segunda temporada de Drag Race Brasil, é uma mulher trans lésbica e namora com a atriz Ju Vilhena, que dá vida à Drag Queen Afrodite, e é uma mulher cis lésbica. Após publicarem uma foto se beijando e celebrando o amor sáfico, as duas passaram a receber uma onda de ataques nas redes sociais.

A identidade de gênero de Chanel passou a ser questionada, bem como a orientação sexual da namorada. Comentários transfóbicos defenderam que as duas formam um casal hétero, insinuando que Chanel não é uma mulher e, portanto, Ju estaria se relacionando com um homem.

À CAPRICHO, a Drag Queen contou o sofrimento de ver a namorada também sendo alvo dos hates e do linchamento virtual, incentivados por pessoas que “invalidam uma mulher trans como mulher” e que negam “uma mulher cis como lésbica por ela namorar uma mulher trans”. 

 

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Os termos identidade de gênero e orientação sexual podem gerar e parecerem os mesmos de primeira – não que isso justifique qualquer comentário transfóbico ou hate, viu? Mas eles são coisas diferentes, e é importante entender o que cada um significa. Vamos lá!

O QUE É IDENTIDADE DE GÊNERO?

É o gênero com o qual a pessoa se identifica, podendo ele ter ou não relação com o gênero biológico delimitado na hora do nascimento. Dentro da identidade de gênero, temos termos como:

  • cisgênero, que é quando a pessoa se identifica com o mesmo gênero que lhe foi dado ao nascer;
  • transgênero, que é quando a pessoa se identifica com um gênero diferente daquele que lhe foi lhe dado ao nascer.
  • não-binariedade, que é quando a pessoa sente que sua identidade não pode ser definida dentro das margens da binariedade estipulada socialmente (homem ou mulher) e que questões de gênero vão além de masculino ou feminino.

O QUE É ORIENTAÇÃO SEXUAL?

É pelo que a pessoa se sente atraída, de maneira romântica e/ou sexual, independentemente da identidade de gênero que ela tenha. Por exemplo, uma pessoa transgênero pode ser heterossexual. Afinal, isso não é uma exclusividade de pessoas cis. Dentro da orientação sexual, temos termos como:

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  • heterossexualidade, que é quando a pessoa sente atração por alguém do gênero (sexo) oposto;
  • homossexualidade, que é quando a pessoa sente atração por alguém do mesmo gênero (sexo);
  • bissexualidade, que é quando a pessoa pessoa sente atração por ambos os gêneros (sexos) dentro do espectro da binaridade socialmente delimitado (masculino ou feminino);
  • pansexualidade, que é quando a pessoa sente atração independentemente do gênero (sexo), não se limitando ao que está dentro do espectro da binaridade (masculino ou feminino, homem ou mulher).

Portanto, como Chanel é uma mulher trans e se identifica como tal, o gênero pelo qual ela sente atração irá definir se ela é lésbica, hétero, bissexual, pansexual e por aí vai. Ao se sentir sexualmente atraída por outras mulheres, ela, como uma mulher, é lésbica. Do outro lado, sua namorada, que se identifica como uma mulher cis, também é sexualmente atraída por outras mulheres, ou seja, sua orientação sexual é lésbica. Caso Chanel não fosse uma mulher trans e sim um homem, a configuração seria outra, mas esse não é o caso: ela é uma mulher.

Quando identidade de gênero e orientação sexual se relacionam?

Apesar de serem duas coisas distintas, como vimos acima, identidade de gênero e orientação sexual podem influenciar uma a outra. Em um relacionamento, por exemplo, se uma parte re-descobre a própria identidade, pode levar a uma nova identificação de gênero — da pessoa e do parceiro.

Esse tipo de confusão, quando respeitosa, é natural, e mexe com a própria organização do casal. Jonas Maria, criador de conteúdo e apresentador do podcast Degenerados, e Nátaly Neri, também criadora e jurada do Corrida das Blogueiras, já comentaram em publicações nas redes e em entrevistas o susto da adaptação quando Jonas dividiu com Nátaly sua identificação como um homem trans.

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Na época, eles eram um casal de mulheres lésbicas que precisou se reorganizar a partir do reconhecimento de Jonas. Nátaly, por exemplo, se descobriu uma mulher pansexual e não mais lésbica, porque agora estava se relacionando com um homem. Em entrevista ao podcast Donos da Razão’, ele conta que a adaptação foi confusa, já que “estava se entendendo como um cara trans e ela como lésbica”. “A gente tem duas identidades ali que, em tese, entram em conflito. Era minha identidade em jogo e a dela também”, explica.

Esses casos ilustram como a identidade de gênero — trans, cis ou não-binário — pode levar uma pessoa a se entender tendo uma orientação sexual — heterossexual, homossexual, bissexual ou pansexual — diferente da que acreditava se identificar, e esses processos são naturais. O que não é legal, nem judicialmente, nem socialmente, é seguir o pensamento de invalidação que motivou a homofobia de diversas pessoas contra Chanel e a namorada.

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