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Nada se cria, tudo se copia na criação de conteúdo para a internet?

Com a demanda alta por conteúdos digitais e cada vez mais inspirações, qual a situação do criador hoje? Entenda mais sobre

Por Mavi Faria 13 jan 2024, 11h23

É possível distinguir o que é um conteúdo original e o que é copiado na internet? Ou melhor, existe essa diferença? A discussão foi levantada já nos primeiros dias do ano pela influenciadora Malu Borges, em seu perfil alternativo de vlogs no TikTok. Lá, Malu resolveu compartilhar sua opinião com os seguidores após perceber muitos comentários em vídeos de outros criadores, indicando que eles estavam copiando seu conteúdo, estilo e jeito – opinião que ela não está de acordo. 

No vídeo, Malu afirma que a existência de conteúdos parecidos é normal, até porque todo mundo está produzindo e seguindo o que está em alta ao mesmo tempo, e, segundo ela, o legal é “passar pelo funil da nossa essência para adaptar o que está em alta para ficar com a nossa cara”. Com tantos perfis criando conteúdos o tempo todo ao redor do mundo, é realmente difícil acreditar que possa existir uma produção puramente própria, sem interferências externas. “Posso ter tido a ideia, posso ter feito o conteúdo antes, mas com certeza alguém também já fez antes”, comenta aos seguidores.

@maluborgesm2

♬ som original – Malu vlogs

 

Em entrevista para a CAPRICHO nesta outra matéria, Malu comentou um pouco sobre o assunto e reafirmou o quanto se sente honrada por ser a inspiração de criadores, e como entende fazer parte de um movimento onde cada criador entende seu estilo e vai adaptar o que está em alta para si – ou pelo menos é o ideal.

“A minha identidade vira tão forte no que eu faço que as pessoas associam a mim, mas nunca me incomodou os outros fazendo vídeos parecidos; pelo contrário, acho divertido. Meu principal papel é influenciar, então, quando vejo criadores se inspirando no meu conteúdo, penso que consegui fazer o mais incrível, que é inspirar quem inspira outras pessoas”.

A confiança de Malu e a forma com que ela vê a inspiração de outros criadores é inspiradora, mas nem sempre é esse o caso. Existe uma diferença clara e muito importante de ser estabelecida entre plágio e inspiração. O primeiro fator que os diferencia é que plágio é crime, estabelecido, segundo o advogado especialista em direitos autorais, Emmerich Ruysam, pela Lei de Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98) que, dependendo da gravidade, pode resultar em multa ou em prisão. Para Ruysam, entender os limites entre o plágio e a inspiração é essencial para “promover um ambiente criativo e justo”, especialmente quando a linha entre inspiração e cópia pode ser tênue.

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Qual a diferença entre inspiração e cópia?

Inspiração nada mais é do que um processo criativo onde uma pessoa usa uma obra existente como ponto de partida para criar algo novo e original – “um pilar da criatividade” que não replica os elementos da obra original, segundo Ruysam. 

A cópia, por outro lado, é a reprodução não autorizada de uma obra protegida por direitos autorais. O advogado explica que existem dois tipos de cópia, a direta, em que há a reprodução integral, e a indireta, que acontece quando as partes substanciais são reproduzidas.

Mesmo com as determinações legais, ainda é difícil analisar nos conteúdos a origem da inspiração. Só no Brasil, são mais de 500 mil criadores de conteúdo, segundo levantamento da plataforma de influenciadores Squid. Mais da metade desses criadores, 78%, tem até 50 mil seguidores, ou seja, são micro influenciadores. É complexo pensar que uma galera tão grande produzindo conteúdo intensamente vai conseguir entender exatamente de onde a inspiração vem. 

Inspirações produzem ideias originais?

A influenciadora Juju dos Teclados afirma, em entrevista à CAPRICHO, que são tantas referências da rua, das redes, da própria vida, que às vezes é difícil saber de onde aquela ideia partiu. Ela acredita ser complicado produzir um conteúdo 100% original porque estamos o tempo todo sendo inspirados. “Acredito que a maioria dos conteúdos são produzidos a partir do conjunto de referências que criaram algo que parece original, mas que na verdade é um conjunto de referência”, explica. 

No seu processo criativo próprio, Juju também se cerca de inspirações, mas dá preferência para as do mundo offline, de fora das redes. “Meus melhores vídeos surgiram em rodas de conversa com meus amigos, onde eles falavam coisas e aquilo tudo me deu ideias”, conta. Essas referências, para ela, são as que a instigam a pensar e a ser mais criativa e, por isso, Juju pretende continuar tendo esses momentos fora do universo online para provocar sua criatividade, um processo às vezes quase impossível para tantos criadores atuais. 

“Quem vive do dinheiro da internet somente vive com uma pressão e uma grande cobrança de produzir em uma constância muito grande e isso muitas vezes não permite que a pessoa consiga pensar, não dá tempo de criar de verdade e ela acaba pegando referências do que já está ali, pronto”, afirma Juju.

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Uma coisa é fato, o ciclo do conteúdo se apertou. Se consumimos conteúdos com mais velocidade, necessariamente vamos exigir mais conteúdos o mais rápido possível. O sentimento de Juju quanto a quase impossibilidade de conseguir tirar um tempo para ser criativo e puramente criar não é sentido somente entre influenciadores, mas também entre artistas. 

No final de dezembro, Manu Gavassi compartilhou em suas redes seu novo projeto, que incluía quatro curtas-metragens e três músicas. O primeiro curta, intitulado Programa de Proteção à Carreira Artística, aborda justamente a dificuldade (ou proibição) do artista de conseguir um tempo fora das redes para trabalhar na sua arte e na sua criatividade – esses itens, para Manu, não correspondem ao padrão de lançamentos esperado dentro da indústria musical, que precisa de novos singles e clipes em alta velocidade.

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O curta de Manu já acumula mais de 17 milhões de visualizações só no Instagram e recebeu comentários de diversos artistas e influenciadores que se viam em situações parecidas. O projeto dos curtas é um exemplo claro de projeto que possui referências externas – talvez como tudo hoje? – mas que passaram pelo funil da essência, como diz Malu Borges. 

E você, acredita que é possível criar conteúdos originais nas redes?

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