Miley Cyrus está certa: você deve se permitir sentir mais raiva às vezes
Muitas mulheres já se acostumaram em repreender a raiva, afinal, foi isso que aprenderam. Mas e a saúde mental?

ocê se permite sentir raiva ou costuma reprimi-la? Segundo Miley Cyrus, você deveria olhar com mais atenção para isso, viu? Por experiência própria, a cantora encoraja, principalmente garotas e mulheres, a aprenderem a acolher essa emoção – muitas vezes, vista como negativa – ao invés de negá-la.
“Eu tive dores físicas no meu corpo por anos e eu percebi que é porque eu não me deixava ficar com raiva”, contou ao podcast The Interview do The New York Times. E isso não é só com ela. Miley diz que conhece um monte de mulheres que têm dores no quadril ou nas articulações e “quando ela as observa em suas vidas, elas sempre respondem “sim, por favor”, “obrigada”, sempre se preocupando em ser educada e não contrariar.
“Minha mãe faz isso, ela pode pedir uma batata assada e, no lugar, trazem um bolo e ela vai dizer “muito obrigada”. Ela é sempre muito bem educada e tem todas essas dores de cabeça o tempo todo. Eu disse para ela: “mãe, você tem que ficar brava de verdade”, diz a cantora.
Será que as mulheres sentem menos raiva mesmo?
Esse comportamento descrito por Miley é muito comum para grande parte de garotas e mulheres, afinal, enquanto comportamentos raivosos dos meninos são normalizados, das meninas, é sempre exigido calma e passividade. Já percebeu?
A doutora em psicologia Harriet B. Braiker chamou de Síndrome da Boazinha* essa compulsão que muitas mulheres sofrem por garantir que todas à sua volta estejam felizes. Só que isso faz com que elas esgotem tanto seu tempo como energia “realizando tarefas desnecessárias apenas porque não sabem dizer ‘não'”.
A psicoterapeuta Jennifer Cox também fala sobre como essa construção social afeta a saúde mental feminina. No livro
“Outras emoções surgem, ainda, como uma muralha protetora: tristeza, excesso de choro, vergonha, apatia, culpa. Empurram a raiva para trás e se assentam melhor na mente e na função que a sociedade criou para nós [mulheres]. E, quando cavamos mais fundo, grande parte da raiva parece surgir da tentativa de navegar em um mundo construído pelos homens para os homens”, escreveu.
O que é a raiva e por que ela é importante?
Segundo o Instituto de Psiquiatria do Paraná, “raiva está ligada à reação de lutar ou fugir que aparece em todos os seres humanos quando se deparam com alguma situação ameaçadora”, como uma discussão. O artigo explica que trata-se de uma emoção protetiva, ou seja, seu propósito não é destruir a tudo e todos, mas sim proteger aquilo que é importante.
“Portanto, livrar-se completamente da raiva não é uma opção adequada, tendo em vista que, sem ela, a pessoa cai no chamado conformismo e acabar por não conseguir proteger as coisas que são importantes para si (pessoas, valores, pertences, entre outros).”
Um exemplo para entender a importância da raiva (e de todas as outras emoções) é o filme Divertida Mente. O longa nos mostra, de uma forma lúdica, que não dá para ser feliz o tempo todo, e tanto a raiva como a ansiedade e o medo também estão presentes na central de controle da nossa mente. E não tem problema nenhum a presença delas, pelo contrário: é isso que traz o equilíbrio. O problema é quando só um sentimento está no controle, tentando afastar todos os outros.
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