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Mari Ferrer fala sobre sentença: “O silêncio é amigo deles. Não se calem!”

A modelo usou as redes para se pronunciar sobre a sentença dada a André Camargo de Aranha, inocentado da denúncia de tê-la estuprado em dezembro de 2018

Por Isabella Otto Atualizado em 9 nov 2020, 12h37 - Publicado em 9 nov 2020, 11h34
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CAPRICHO/Sestini/Divulgação

Após ser banida do Instagram em agosto, depois de a empresa acatar o pedido para a remoção da conta feito pelo “homem que foi indiciado e denunciado pelas autoridades por estupro de vulnerável”, como apontou Mariana Ferrer na época, a modelo retornou à rede social, que voltou a ficar disponível após o juiz Rudson Marcos bater o martelo e dar a sentença a André Camargo de Aranha, acusado de estuprar a ex-promoter do Cafe de La Musique, famoso beach club de Santa Catarina, em 15 de dezembro de 2018. O réu foi inocentado pela Justiça por falta de provas, em uma sentença baseada na tese de Erro de Tipo, que repercutiu negativamente como sendo um “estupro culposo”. “Em nenhum momento a vítima pode ser re-vitimizada e culpabilizada como ela foi. Claro que podem existir motivos pelo qual a pessoa deve ser absolvida (ex: conjunto probatório insuficiente), mas outra coisa é o uso de generalizações espúrias e apelos para estereótipos morais de gênero”, disse a advogada Evelyn Massetti em entrevista à CAPRICHO, comentando a maneira como a vítima foi tratada pela defesa de Aranha durante julgamento.

“Eu tinha sonhos que foram brutalmente impedidos de serem realizados por um espurco que ceifou minha vida e a da minha família”, disse Mari Ferrer para a CH Arquivo Pessoal/Instagram/Reprodução

No último domingo, 8, Mari Ferrer usou os Stories do Instagram para se pronunciar pela primeira vez sobre a sentença. “Estou muito machucada, fui injustiçada desde o início da denúncia, já fui exposta demais e o réu sempre escondido(…) O silêncio é amigo deles, não se calem. Me emociono com vocês”, escreveu. A modelo também aproveitou para deixar claro que não dará entrevistas a menos que algum veículo consiga uma entrevista completa com André Camargo de Aranha, “sem usar máscara, óculos, sem ler o que o advogado de defesa escreve e que filme [sic] todo o acusado sendo entrevistado com perguntas imparciais”, pontuou a jovem. Caso contrário, Mariana não dará nenhuma exclusiva. “Desde que expus o crime, notei como a mídia pode ser corrompida e omissa, principalmente quando tem pessoas influentes envolvidas. No início, achava que todos queriam me ajudar a conseguir justiça, que se solidarizavam com a causa, mas a verdade é mais cruel. Alguns querem apenas polemizar. A cada dia tenho mais discernimento de que as fake news são a forma que pessoas mal-intencionadas encontram de se esquivarem da verdade, fazendo sensacionalismo com a dor de pessoas inocentes, seja por benefício próprio, por se deixarem se corromper ou por terem rabo preso”, disse Ferrer em entrevista exclusiva para a CAPRICHO em maio deste ano.

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Stories que Mari Ferrer postou no Instagram Mariana Ferrer/Instagram

Na Avenida Paulista, também no último domingo, rolou uma manifestação em prol de Mariana e contra a decisão da Justiça. Apesar da pandemia de coronavírus, o ato “Justiça por Mariana Ferrer‘ reuniu aproximadamente 5 mil pessoas, em sua maioria mulheres que fazem parte do movimento feminista. Outras cidades, inclusive de outros países, como Ontário, no Canadá, também organizaram atos. Cartazes com os dizeres “A culpa nunca é da vítima” e “O Estado é estuprador” foram erguidos numa tentativa de fazer barulho para que a Justiça aceite o pedido da defesa da modelo, que vai recorrer à decisão do tribunal. O cenário faz lembrar o que aconteceu nos anos 70, com o Caso Ângela Diniz, que foi assassinada pelo até então namorado, que foi inocentado pela Justiça em um primeiro momento, mas condenado à prisão pelo crime no segundo julgamento, após pressão popular. “Justiça por mim, por todas as outras vítimas que relataram o mesmo naquele beach club, mas sempre foram intimidadas e caladas. É hora de gritar!“, escreveu Mariana Ferrer nas redes sociais.

Confira a seguir imagens de alguns atos que rolaram pelo Brasil:

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Ato "Justiça por Mariana Ferrer" em São Paulo, Brasil, 08 de Novembro de 2020.

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companheira me ajude que eu não posso andar só. eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor. #JustiçaPorMariFerrer, por Marielle Franco e por todas nós. obrigada @felipebeltrame_ 💜

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Juntas pelo fim da cultura do estupro! 📸 @viviannemeulo #justiçapormariferrer

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#justiçapormariferrer

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São Paulo 2020. #justiçapormariferrer #manifestação #estuproculposonaoexiste

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#justiçapormariferrer #estuproculposonaoexiste #naoexisteestuproculposo #mariferrer #feminismo #feministasportoalegre #parquefarroupilha

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Na última sexta-feira, 6, a VEJA divulgou uma entrevista com a empresária Sandra Bronzina, que, segundo ela, foi humilhada por Cláudio Gastão da Rosa Filho, advogado de defesa de André Camargo de Aranha, quando tinha 13 anos, também durante um julgamento de um caso de estupro. “Minha mãe foi impedida de me acompanhar na audiência. Ela pediu para que eu tivesse cuidado com as palavras, porque meu estuprador era um homem endinheirado e havia contratado o melhor advogado de Santa Catarina. Tranquilizei minha mãe e disse que tinha a verdade ao meu lado. Mas, quando entrei na sala, a primeira coisa que Gastão falou para mim foi: ‘eu já vi aqui que você foi estuprada pelo seu pai antes’. Como um homem estudado olha para uma criança e diz algo desse tipo?(…) É um sujeito sem escrúpulos e com zero sensibilidade“, contou Sandra para a publicação.

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O Senado apresentou, na terça-feira, 3, um voto de repúdio ao advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho, ao juiz Rudson Marcos e ao promotor Thiago Carriço. Além disso, na quarta, 4, a Comissão Nacional da Mulher Advogada, da OAB Nacional, condenou a forma como Rosa Filho se comportou durante o julgamento, segundo o órgão, de maneira agressiva. “A violência de gênero não pode ser usada como estratégia de defesa”, pontuou a comissão em nota oficial.

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