Ver meninas famosas na web falar sobre transição capilar trouxe uma onda de empoderamento incrível! Aos poucos, o padrão de beleza dos anos 2000, que dizia que apenas cabelos lisos à la Avril Lavigne eram bonitos, foi tornando-se ultrapasso. As progressivas foram perdendo público e mais mulheres passaram a orgulhar-se de seus fios naturais. Apesar do movimento #OrgulhoCachos e de sua grande repercussão, ainda tem (muita) gente que diz que cabelo afro e cacheado não é bonito nem higiênico, e destila opiniões racistas e preconceituosas disfarçadas de “minha opinião”.
Foi o que aconteceu com Bella, “a Pretinha do Poder” de 8 anos que tem muitos seguidores no Instagram por trazer representatividade para crianças negras. A pequena adorava seu cabelo cacheado, que foi cortado e alisado sem o seu consentimento e sem a autorização da mãe. De acordo com Fernanda, mãe da Bella, a madrasta da menina sempre fez comentários negativos sobre o cabelo da enteada, mas ela achou que a mulher jamais interferiria de fato nele. “Ontem, aconteceu um fato que eu jamais pensei que iria acontecer com a minha filha. Semana Passada, a Bella estava em uma chamada de vídeo com o pai e, de repente, a mulher dele apareceu para conversar com a Bella e me soltou uma frase antes mesmo de cumprimentá-la: ‘vai prender esse cabelo’. Eu, na hora, juntamente com minha mãe, achamos ruim ela ter dito isso para Bella, mas fiquei na minha e não disse nada. Fiz umas duas postagens recentes dizendo que ela é uma princesa que não usa coroa e, sim, cachos, e um vídeo em que eu dizia que ela iria usar os cabelos soltos se fosse da vontade dela. Na sexta, ela foi para a casa do pai dela, com os cabelos lavados e penteados para que ninguém tivesse o trabalho de encostar nele. Pois bem. Ontem, eu recebo um telefonema do pai me comunicando que a mulher dele tinha cortado os cabelos da Bella sem a minha permissão e que foi só as pontinhas. Oi? Pontinhas? Ela cortou o cabelo dela mais da metade e alisou! Quando ela molhar, o cabelo vai encolher mais ainda”, desabafou a mineira.
Fernanda ainda se revoltou com o fato de o pai ter colocado panos quentes na atitude da madrasta, ao dizer que a filha tinha gostado da mudança. Ao buscar a criança, a mãe se deparou com uma Bella triste e inchada de tanto chorar. “É direito dela se sentir bem com a identidade dela, suas raízes, e sua história não pode ser violada por vaidade nenhuma. A menos que a mesma queira e isso eu tenho a convicção de que ela não quis. Quem acompanha os trabalhos da Bella e a acompanha nas redes sociais sabe que ela desde pequenininha é uma criança empoderada e hoje nem dormiu direito, pois já chegou aqui em casa com uma baixa autoestima“, disse.
Os seguidores da Bella, que tem os perfis administrados pela mãe nas redes sociais, estão pedindo que Fernanda processe a madrasta pelo que fez. “Como que um ser humano pode ver a paixão que uma criança tem em seu cabelo, em sua identidade, e ainda ser capaz de fazer isso?” e “É horrível, meu pai fez o mesmo comigo quando eu era criança e só agora estou voltando a ter meu cabelo de verdade” foram alguns comentários feitos na publicação. Infelizmente, casos como esse acontecem com uma frequência assustadora. Em outubro de 2017, uma americana de 7 anos voltou com o cabelo raspado da escola. Segundo a instituição, por “questão de higiene”. São nessas horas que descobrimos que vivemos em uma bolha e que o padrão de beleza à la Avril Lavigne continua forte e fazendo vítimas. O trauma que essas crianças podem levar para a vida é imensurável e atitudes precisam, sim, ser tomadas para que toda e qualquer Bella possa se orgulhar de seu cabelo natural e sentir-se feliz em ser quem é.