Atriz vítima de racismo tira a roupa em protesto: ‘Meu corpo é político’
Isabel Oliveira voltou ao supermercado em que foi perseguida por segurança e fez compras de lingerie: 'Tô sem nada pra não parecer que vou roubar algo'
Neste final de semana, a professora e atriz Isabel Oliveira publicou um vídeo nas redes sociais denunciando um episódio de racismo em Curitiba, no supermercado Atacadão.
Aos prantos, a mulher disse que foi perseguida por mais de meia hora por um segurança dentro do estabelecimento e tratada como se fosse uma marginal. “Entrei para fazer as minhas compras. Isso não dá para admitir. Hoje eu fui a bola da vez, mas não dá pra gente sempre ser visto como uma ameaça”, disse.
Isabel chegou a questionar se ela estava oferecendo algum risco para a loja e o segurança desconversou. A professora então disse que precisou fazer um escândalo na loja para se sentir ouvida. “A gente não pode continuar a ser tratado como marginal. Eu só entrei para fazer as minhas compras”, desabafou.
Na delegacia, Isabel se sentiu mais uma vez silenciada, pois ouviu que o segurança só estava fazendo o papel dele. “O papel dele é perseguir uma pessoa preta no supermercado?”, questionou.
Confira o relato na íntegra:
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“Muitos de nós pasamos por isso em silêncio e você teve a coragem que eu nunca tive. Obrigada por expor”, escreveu a criadora de conteúdo Leyllah Diva Black nos comentários da publicação.
O desenrolar do caso
Após ser vítima de racismo por ser uma mulher negra, Isabel Oliveira retornou ao supermercado e fez um protesto. Ela tirou as roupas e fez as compras apenas de lingerie. “Última vez que entro nesse estabelecimento(…) Meu corpo é político“, disse.
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A atitude repercurtiu nas redes e muitas pessoas apoiaram a professora e atriz. “Já estamos cansadas de falar sobre o racismo institucional cotidiano”, escreveu a deputada federal pelo RJ Talíria Petrone.
O vídeo da professora que, num ato de protesto em Curitiba, ficou nua no supermercado onde foi seguida por segurança mostra como nossos corpos chegam antes de qualquer coisa. Toda força a ela! Já estamos cansadas de falar sobre o racismo institucional cotidiano! #Equipe
— Talíria Petrone (@taliriapetrone) April 10, 2023
“Radicalismo? Sim, é necessário reagir(…) Sofremos racismo a partir do fenótipo. E o corpo que incomoda, seja na universidade, no shopping ou no supermercado”, posicionou-se Andréia de Jesus, deputada estadual por MG.
Radicalismo? Sim é necessário reagir , com consciência de quem somos, pele negra. Neste caso o debate não é o que vestimos, comemos ou lugar que frequentamos . Sofremos racismo a partir do fenótipo. E corpo que incomoda seja na universidade, no shopping ou no supermercado. pic.twitter.com/GM7Tz2z8B7
— Andréia de Jesus 51.120 votos (@andreiadejesuus) April 10, 2023
“Ela não deveria ser tratada como guerreira e nem símbolo de resistência. É o auge da humilhação, da degradação, estamos cansadas!“, lamentou a fashion designer Ivana Lima, no Twitter. Outra usuária, também uma mulher negra, concordou: “A dor é tão grande e o desespero por se achar impotente foi tão mais forte que ela chegou a esse ponto. Foi um protesto, mas foi muito sofrido“.
Pensei a mesma coisa. A dor é tão grande e o desespero por se achar impotente foi tão mais forte que ela chegou a esse ponto. Foi um protesto, mas foi muito sofrido. Dei muito valor pela coragem, mas fiquei triste por ela ter que passar por isso.
— Lualuar💞🌵💞✨🍞🌵🎲🌵🦁🌵🤴🏾🌵⚓️🌵 (@LauCost14769482) April 9, 2023
O que disse o Atacadão?
O supermercado de Curitiba emitiu a seguinte nota oficial sobre o caso: “A empresa informa que apurou o caso, ouvindo os funcionários e analisando as imagens de câmeras de segurança, e não identificou indícios de abordagem indevida“.
O estabelecimento ainda informou que “possui uma política de tolerância zero contra qualquer tipo de comportamento discriminatório ou abordagem inadequada” e que “realiza treinamentos rotineiros para que isso não ocorra e possui um canal de denúncias disponível, dando total transparência ao processo”.