Geração Z não quer ser chefe ou só não aceita a liderança como ela é hoje?

Especialista discorda da ideia "rasa" de que a os jovens não gostam de liderar. Para ela, é preciso aprofundar a discussão

Por Juliana Morales Atualizado em 29 out 2024, 15h20 - Publicado em 19 set 2024, 13h01
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esquisas recentes apontaram que a Geração Z resiste à ideia de assumir cargos de chefia – tendência de comportamento que até recebeu o nome de “quiet ambition”, ou “ambição silenciosa”. Segundo dados desses estudos, jovens que adotam essa postura dão prioridade ao equilíbrio entre trabalho e vida pessoal em detrimento de um desejo por ascensão na carreira a todo custo. 

Thaís Giuliani, doutora especialista em Geração Z, concorda que os jovens de hoje estão mais preocupados com esse equilíbrio no trabalho do que os profissionais mais velhos. Porém, a especialista acha equivocada a afirmação de que “a geração Z não quer ser chefe”, como muito tem se disseminado por aí. Segundo ela, é uma análise superficial e rasa.

“As gerações anteriores têm a obrigação de mergulhar um pouco mais profundo e tentar entender como os gens Z funcionam, e, assim, pararem de contribuir para a manutenção de alguns estereótipos”, defende Thaís, durante entrevista à CAPRICHO, sobre os conflitos geracionais em torno de temas de carreira e trabalho.

Segundo a especialista, não é que o jovem não deseja assumir um cargo de liderança, na verdade, ele não quer o “o peso que os cargos de liderança hoje carregam, sem qualidade de vida, altos índices de estresse, depressão e burnout”. “Por muito tempo, ser workaholic e se ‘matar’ pelo trabalho era bonito, mas hoje a Geração Z olha para isso e fala: ‘se ser líder vem com essa bagagem, eu não quero‘”, explica Thaís.

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Esse pensamento também é reflexo de uma mudança de visão em relação à carreira e função do trabalho. Se em gerações anteriores, pelos contextos que estavam inseridas, o que dava dinheiro era o que mais importava, hoje, só isso não basta. “A Geração Z quer fazer a diferença, já que ela é movida por propósito”, diz a especialista.

O jovem, como líder, quer transformar a vida das pessoas, deixar um legado, fazer algo significativo mesmo. A ideia de escolher uma carreira (ou cargo), simplesmente, porque vai dar dinheiro não faz sentido.

Thais Giuliani, doutora especialista em Geração Z

Somado a esse propósito, a preocupação com a saúde mental é muito presente na nossa galera e não é à toa. “Essa geração passou por pandemia, questões econômicas, impeachment e outros problemas seríssimos no país. Então, tudo isso fez com que ela se preocupe, sim, com a questão financeira e com a segurança, mas, na balança, qualidade de vida ainda é mais importante”, analisa.

Em uma reportagem anterior, questionamos a Galera CAPRICHO – nossa comunidade de leitores-colaboradores entre 13 e 18 anos – sobre a visão deles em relação ao mercado de trabalho. A integrante Emanuele Assereuy, de 17 anos, destacou justamente a valorização do equilíbrio entre vida pessoal e profissional. “Meus pais e pessoas mais velhas parecem valorizar mais a estabilidade e a segurança no emprego, enquanto nossa geração tende a buscar mais flexibilidade, propósito e realização pessoal no trabalho”, pontua.

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“É inaceitável um ambiente de trabalho com discriminação, falta de diversidade ou que não valorize o bem-estar dos funcionários. Essencialmente, um ambiente profissional deve ser inclusivo, respeitoso, oferecer oportunidades de crescimento e valorizar a saúde mental de todos os colaboradores”, completou a jovem.

A falta de referência de lideranças para os jovens

Thaís, que se dedica há mais de 7 anos ao estudo das gerações, em especial da Z, diz que o que mais a deixou preocupada durante sua pesquisa sobre essa lacuna geracional foi a falta de referência de liderança para os jovens. “Quando os mais velhos eram questionados sobre em quem ele se inspiravam nesse papel de líder, a maioria falava dos pais e professores. Já a Geração Z não soube me responder”, conta. “Eles olham para o líder dentro da empresa ou para os próprios pais muito estressados e insatisfeitos com o trabalho e não conseguem se reconhecer ali”, explica.

É aí que vem a preocupação de Thaís e outros especialistas que lidam com jovens no mercado de trabalho. “Quando você não tem referência, dá um vazio por dentro, você fica perdido sem direcionamento, e é isso que está acontecendo com essa geração”, afirma.

Um relatório recente da Gallup, representado pela consultoria Ynner no Brasil, mostrou que quase 80% dos trabalhadores não têm engajamento – e um dos motivos apontados na análise dos dados é a gestão dessas pessoas. “Vemos uma liderança sem as competências adequadas para engajar os liderados, o que é extremamente perigoso, já que 70% na variância do engajamento é explicada pelo comportamento do superior imediato”, analisou Yuri Trafane, CEO da Ynner, em entrevista à Você RH.

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Thaís ressalta ainda que “o jovem chega no mercado de trabalho para ser disruptivo e tirar todo mundo do conforto” e muitos líderes não sabem lidar com isso. “Muitos gestores tentam aplicar um estilo de liderança que davam certo antes, mas percebem que com a Geração Z não funciona, é preciso se reinventar”, diz.

Como reinventar essa liderança então?

A chave na relação com os profissionais mais novos, segundo a especialista, é a conexão de valor, ou seja, a empresa precisa de uma cultura que converse diretamente com os jovens. Empresas que foquem em sustentabilidade e que levam o respeito à diversidade muito a sério se aproximam da nossa galera.

Mas não só isso. Vale lembrar que a Geração Z é a primeira tribo de nativos digitais, ou seja, pessoas que já nasceram em um mundo 100% conectados, no meio de uma cultura extremamente digital. Isso influencia totalmente na forma e velocidade que eles levam a vida e o trabalho, claro.

“A geração não tem mais paciência de esperar, eles precisam ser retroalimentados o tempo todo para se manterem engajados”, observa. Portanto, a comunicação precisa ser rápida, diminuindo burocracias e mostrando que o trabalho tem propósito e impacto.

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Mas a nossa galera também tem o seu papel nisso, viu?

Agora, a nossa galera também precisa rever alguns pontos e fazer sua parte, certo? Thaís destaca que a Geração Z tem características e valores humanos maravilhosos para um líder, além da habilidade com tecnologia que traz grande agilidade. No entanto, nessa dinâmica digital e tecnológica, a gestão de tempo e prioridade fica prejudicada.

Com muitas informações e muitas telas, nasce o desejo de fazer tudo ao mesmo tempo, mas isso pode fazer com que não fiquemos em lugar nenhum por completo. Por ser rápida e ágil em excesso, a nossa galera também se tornou muito ansiosa e, muitas vezes, não sabe esperar o tempo das coisas e acaba metendo os pés pelas mãos – inclusive no trabalho.

“É por isso que eu encaro que as fraquezas dessa geração são as suas forças em desequilíbrio”, diz a especialista e deixa um conselho para a nossa galera:  “Vocês precisam investir muito em se autoconhecer e ter mais consciência da força que têm para usá-la da melhor forma”.

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