Estudantes dão show de cidadania com o Movimento Diversidade

"Dentro da escola, você vê muitos casos de gordofobia, LGBTQfobia, machismo... E são coisas que são simplesmente ignoradas por alunos e professores."

Por Marcela Bonafé Atualizado em 31 out 2024, 21h42 - Publicado em 28 Maio 2017, 15h53

Respeito. Essa é a palavra que está à frente do Movimento Diversidade, que se formou na Escola Estadual Plínio Negrão, na zona sul de São Paulo. “A gente veio com a ideia forte de quebrar o preconceito dentro da escola, de mostrar para os alunos que eles têm que respeitar”, conta Geovanna Mendes, de 15 anos. “O intuito não é apenas de criar alunos e trabalhadores, mas também cidadãos que saiam daqui pessoas melhores e que saibam conviver e ouvir”, completa.

Em cima: Vinícius, Karine, João, Ananda e Geovanna. Embaixo: Katarine, Gennifer, Isabella e Rayra. Reprodução/Reprodução

O movimento, na verdade, começou como uma chapa para concorrer ao grêmio estudantil, uma organização formada por alunos que trabalha em conjunto com a diretoria para melhorias na escola. Assim que um professor anunciou que os estudantes poderiam montar uma chapa, alguns deles foram se juntando, se mobilizando, fizeram reunião, prepararam a documentação e, em menos de 24 horas, nasceram como a Diversidade!

“Precisávamos decidir o nome. Olhei para os lados e pensei: ‘Olha quem está aqui’. Tinha uma monte de gente diferente, então sugeri colocarmos o nome de Diversidade e todo mundo apoiou”, explica Katarine Ribeiro, de 16 anos, Presidente da chapa. Os 19 membros, depois, precisaram fazer um símbolo e escolher uma bandeira. Então, se inspiraram na LGBTQ.

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Quando chegou o grande dia, a chapa Diversidade não venceu as eleições para o grêmio, mas a vontade de continuar tentando fazer um trabalho legal dentro da escola falou mais alto, como conta a Katarine: “Não ganhamos, mas isso não quer dizer que vamos parar. Não podemos mais ter o status de chapa, então conversamos e resolvemos criar o Movimento Diversidade”.

Com uma proposta superinteressante, o rapper Mano Brown se rendeu aos encantos dessa galera empoderada e fez um vídeo apoiando a inicativa. “A gente tem esse objetivo de quebrar tabu. Dentro da escola, você vê muitos casos de gordofobia, LGBTQfobia, machismo… E são coisas que são simplesmente ignoradas por alunos e professores. É visto como brincadeira. Então, a gente veio aqui para falar: ‘Gente, isso não é brincadeira. Isso é algo que afeta realmente o psicológico de alguém'”, explica Geovanna, que tem o desejo de ver as pessoas sendo aceitas pelo que são.

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A maioria do grupo, inclusive, já foi alvo de preconceito pelo menos uma vez na vida. “Desde que eu comecei a estudar, sofri muito bullying por eu ser acima do peso até os 13 anos e também por não estar dentro do padrão de beleza que eles achavam que era aceitável. É bem difícil, porque é a primeira vez que eu tenho um grupo de amigos, pessoas com quem eu posso contar“, desabafa Ananda Beatriz, de 14 anos, sobre o amor que nasceu entre os próprios membros de movimento, que hoje são uma família.

A situação foi parecida para Katarine: “Eu sou pansexual. Muitas vezes, já sofri preconceito até dentro da sala de aula, de o professor ter que intervir. Isso acaba chateando, sabe? As pessoas não respeitarem quem você é. E aqui todo mundo sempre me recebeu bem, me respeitou. Consegui um porto seguro para mim. Todo o auxílio que eu precisava estava aqui“.

É exatamente esse acolhimento e respeito mútuo que rolam dentro do grupo que eles querem levar a todos os alunos. Mas, claro, tentando abrir a cabeça, não impondo nada a ninguém, como destaca João Pedro Casuales, de 17 anos: “Mesmo que nós tratemos de algum assunto com pensamentos diferentes, nós sempre buscamos falar com tranquilidade, porque não queremos obrigar ninguém a pensar como nós, concordar com tudo o que falamos“. Afinal, respeito é isso, né?

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Arquivo Pessoal/Reprodução

Uma das ações legais que realizaram como chapa e querem continuar como movimento é a parceria com psicólogos da faculdade FMU. “Eles vêm dar palestras sobre preconceito e como destruir isso dentro de você, sobre mercado de trabalho e etc”, explica Geovanna. Ela também conta que o grupo se reúne para ir a viradas culturais, paradas LGBT e outros programas que a escola não leva.

O Movimento Diversidade pretende também trabalhar o lado da conscientização. Katarine explica que um projeto futuro é falar com os adolescentes sobre DSTs e gravidez na adolescência. Inclusive, tem uma grávida no grupo. A forma mais efetiva de chegar até os alunos, por enquanto, tem sido por meio de cartazes nas escolas e, principalmente, redes sociais.

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E para quem quer começar um movimento parecido e ser a mudança, Isabella Oliveira, de 15 anos, dá a dica: “A primeira coisa é entrar de cabeça. Se você realmente quer isso, que fazer uma melhoria para a escola, tem que entrar sem medo e com responsabilidade”. Geovanna Mendes ainda completa dizendo que “o principal é não ter medo de soltar sua voz, bater de frente. Vai cair? Vai. Mas depois é só levantar! Porque é assim que a mudança começa”.

 

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