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Essas mulheres lutam contra o câncer recuperando a autoestima de pacientes

Da micropigmentação nos mamilos à henna nas sobrancelhas, passando pela terapia: "quando ajudo uma mulher, estou ocupando meu lugar no mundo"

Por Isabella Otto Atualizado em 1 nov 2019, 13h30 - Publicado em 1 nov 2019, 13h30

Hoje é o primeiro dia de novembro. Isso significa que mais um Outubro Rosa, mês de prevenção ao câncer de mama, chegou ao fim. A doença é, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, a segunda que mais afeta mulheres no mundo todo, ficando atrás apenas do câncer de pele. Não dá para restringir tantas histórias de tantas lutas a um período de 31 dias. É insuficiente. A conversa precisa continuar – e vai! As mulheres que você está prestes a conhecer, por exemplo, lutam contra o câncer de outra forma: trabalhando na recuperação da autoestima daquelas que receberam o diagnóstico.

“Se olhar no espelho e não se enxergar mais é um medo muito grande. Em uma sociedade em que o corpo é muito cobrado, o cabelo e os seios são sinônimo de feminilidade, e a mulher acaba sofrendo muito”, explica a terapeuta Rosangela Matos (@descomplicandorelacoes), que trabalha no resgate pessoal e também no de relacionamentos de mulheres que estão em fase de tratamento. A especialista conta que, quando a pessoa recebe o diagnóstico, uma mudança muito drástica ocorre em sua vida. É nessa hora que ela precisa realmente olhar para todas as escolhas que já fez e entender que a batalha é algo dela. É um momento de medo, perda, ansiedade e angústia. “É aí que entra a auetoestima, que não é uma coisa simples, uma ida ao salão. A autoestima é uma coisa profunda. Cada pessoa sofre de um jeito, tem suas vulnerabilidades. O que é preciso entender é que a luta por si só é uma beleza, algo lindo”, diz.

Imagens do antes e depois do procedimento realizado por Elaine Cristina em uma paciente. Studio Elaine Cristina/Reprodução

Rosangela sempre indica para suas clientes mantras, que são frases curtas e positivas que a mulher repete ao longo do dia. Ela pode trocar o mantra a cada uma semana, mas não é obrigatório. A ideia da repetição é afugentar os pensamentos negativos, se fortalecer, lembrar de quem é e se convencer de algo que ela já deveria saber ou que sabia, mas tinha se esquecido. “A vitória delas é a minha vitória. Eu me envolvo muito com todas as pessoas que chegam até mim. Elas me contam suas alegrias, suas vitórias… Quando ajudo uma mulher, estou ocupando meu lugar no mundo“, emociona-se.

A terapeuta ainda alerta que autoestima e vaidade são bem diferentes. As mulheres diagnosticadas com câncer de mama não devem se tornar refém da estética (como nenhuma outra mulher deve), mas alguns tratamentos podem ser importantes para que ela volte a se olhar no espelho e se reconhecer, e assim continuar forte em sua luta diária. A designer de sobrancelhas Gabriela Ferreira (@gabiferreira._) é uma dessas profissionais que atua no ramo da beleza e ajuda a recuperar o amor próprio há tanto perdido. “Me sinto extremamente honrada e privilegiada em poder contribuir elevando a autoestima de mulheres que passaram e passam por períodos difíceis, como a quimioterapia e a radioterapia“, conta.

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Antes e depois da aplicação de henna que a Gabi fez em uma paciente que havia terminado a quimioterapia e ainda tinha muitas falhas nos fios. @gabiferreira._/Reprodução

Gabi utiliza henna para pigmentar a região das sobrancelhas, já que, com tratamentos tão invasivos, os pelos do corpo acabam caindo. Por se tratar de um produto temporário de composição vegetal e sem química, não há contra-indicações. “Como a pele pós-tratamento fica muito sensível a qualquer tipo de substância tóxica, como amônia, chumbo e metais pesados presentes em outras fórmulas para tingimento, essa opção é a que mais se adéqua às pacientes”, esclarece a designer, que atualmente atende no Salão House of Beauty, em São Paulo. “Acompanhar o processo de crescimento dos pelos naturais de cada uma delas me motiva e cria um elo de amizade e sororidade que fortalece meu lado profissional e humano“, garante a designer.

O mesmo sentimento de gratidão acomete Elaine Cristina (@elainecristina_pmu), que, há cinco anos, se especializou em micropigmentação, apesar de já estar no ramo da beleza há 18. A ideia de começar a “tatuar mamilos” em pacientes que passaram pela reconstrução dos seios surgiu após ela atender uma cliente, que, com um seio sem mamilo, estava com a autoestima muito baixa. “Ela disse que estava com o farol apagado, num sentido metafórico mesmo. Foi aí que corri atrás de cursos para me especializar na reconstrução do complexo aréolo-mamilar com micropigmentação“, conta a profissional que atende em Recife e é um dos nomes referência na área.

 

O serviço que Elaine presta é gratuito e, para ela, algo que vai além da beleza, da estética, da vaidade. “Realizo por amor(…) Quando terminei o procedimento na paciente que me inspirou a começar toda essa história, ela me deu um abraço enquanto chorava e disse que estava muito grata, que havia amado. Viramos amigas!”, conta a especialista, que atende gratuitamente, em média, quatro mulheres por mês.

A terapeuta Rosangela só reforça que todas as atitudes que a mulher tomar deve ser pensada nela e em seu bem-estar, só assim elas fazem sentido: “nós passamos muito tempo de nossas vidas preocupadas com o que os outros vão achar e o que vão pensar”, lamenta. É natural que, durante o tratamento, um período que mexe tanto com a saúde física e mental, essa preocupação aumente. Encontrar saídas para driblar a baixa autoestima e reencontrar a mulher forte em si pode ser estimulante, já que, muitas vezes, a paciente volta a sentir prazer em cuidar de si mesma e do seu corpo, que é sua casa, e encontra novos ombros amigos para dividir sua jornada. É a união das mulheres e do poder feminino fazendo, mais uma vez, a diferença.

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