Essa treta toda por garotos vale a pena?

Se refletíssemos sobre o que está por trás da rivalidade feminina, pensaríamos duas vezes antes de brigar com a amiga por conta de um garoto

Por Juliana Morales 28 jun 2025, 20h00
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ma briga, que começou durante uma viagem feita por um grupo grande de influenciadores jovens em Gramado, tomou conta da internet em maio. Entre pronunciamentos e farpas, os nomes de Duda Guerra, Liz Macedo, Antonella Braga e Julia Pimentel chegaram aos trends, e o desentendimento das jovens foi ganhando desdobramentos e uma proporção maior do que, talvez, deveria ter tomado.

Pessoas do círculo das influs até quem não tinha nada a ver com o caso tomou partido e deu sua opinião. Sim, foi um grande “bafafá”, mas não é novidade nenhuma o poder que a internet tem de potencializar os conflitos e transformar uma discussão que poderia ficar em âmbito privado em um circo. O que também não é nada inédito, seja dentro ou fora da internet, é um grupo de amigas brigando entre si motivadas pelo ciúme.

Mas e se, ao invés de escolher lados, tivéssemos tentado entender por que essa situação se repete com tanta frequência? Para a doutora em sociologia Camila Galetti, que pesquisa sobre antifeminismo, a raiz cultural e social da polêmica é muito evidente: o ímpeto de mulheres disputarem a atenção de um homem para serem “a escolhida”.

No livro A prateleira do Amor*, a psicóloga Valesca Zanelo, da Universidade de Brasília, defende que a sociedade prepara os meninos para a vida e as meninas para o amor. Enquanto homens são motivados a amarem muitas coisas, terem hobbies, focarem na carreira, as mulheres estão sendo ensinadas a amarem os homens, pressionadas pela ideia de se casarem e se dedicarem à família. 

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Nesse cenário, o sexo feminino sofre “uma terceirização da autoestima”. Ou seja, meninas e mulheres aprendem que só são desejáveis se houver alguém as desejando. Por isso se colocam nestas prateleiras do amor, à espera de serem escolhidas, e preocupadas com as concorrentes. 

Camila explica que a manutenção da rivalidade feminina é uma estratégia do patriarcado ‒ sistema social e cultural em que homens detêm o poder. “Se houvesse uma solidariedade maior entre as mulheres, os homens não estariam com essa bola toda, sendo o centro da discussão, nem seriam eles que estariam escolhendo na prateleira”, diz a cientista social em entrevista à CAPRICHO.

Será que sua amiga é uma ameaça, mesmo?

A série One Tree Hill foi um sucesso nos anos 2000, mas até hoje é difícil não se irritar com o triângulo amoroso formado pelo mocinho Lucas Scott (Chad Michael Murray), e as melhores amigas Brooke Davis (Sophia Bush) e Peyton Sawyer (Hilarie Burton). 

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As duas personagens ilustram bem como garotas cheias de potencial podem ficar presas nessa narrativa do ciúmes e rivalidade, ao passo em que o garoto é eximido de qualquer culpa ou responsabilidade.

Dinâmicas como essa fazem parte do nosso imaginário desde criança, quando os príncipes são quem salvam as princesas de outras mulheres, como em Chapeuzinho Vermelho e Cinderela. É por essas e tantas outras referências, que fazem parte do nosso repertório, que, muitas vezes, caímos na armadilha da insegurança e disputa.

“Isso faz com que a beleza e todas as qualidades de outra garota sejam vistas como uma ameaça, não como um objeto de admiração e até inspiração”, explica Lorrane Clarinda, psicóloga especialista no atendimento a mulheres. Ela alerta que a dificuldade em reconhecer suas próprias competências pode agravar o problema. “É importante lembrar que a beleza de outra pessoa não exclui a sua, e, sim, é possível admirar outras mulheres sem temer perder o relacionamento.”

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Além disso, a segurança (ou a falta dela) em uma relação é construída pelas duas partes envolvidas. Seu namorado ou sua namorada te dá segurança? Ou só reforça seus medos? “Não é sobre ter outras pessoas nas prateleiras, mas sobre seu companheiro (ou companheira) fazer a escolha de não se relacionar com outras pessoas e te deixar segura disso”, explica. 

Se ainda assim, você não se sentir confortável com alguma situação envolvendo uma amiga e alguém com quem você está se relacionando, a dica de Lorrane é apostar em um papo não-violento, com sinceridade e disposição para escutar. Em um lugar reservado, só vocês duas, converse e fale o que te incomoda e dê chance da outra pessoa se explicar, e vocês chegarem a um consenso.

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