Droga que edita e até apaga memórias ruins é descoberta por cientista

À la Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, descoberta está sendo testada na chamada "terapia de reconsolidação".

Por Isabella Otto Atualizado em 31 out 2024, 00h35 - Publicado em 22 fev 2020, 11h20

O filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, lançado em 2004 e estrelado por Jim Carrey e Kate Winslet, é um clássico. Na trama, ambos os personagens se submetem a um procedimento que apaga memórias ruins, em sua maioria, ligadas a relacionamentos “””fracassados””” (entre muitas aspas, porque um término não significa que uma relação fracassou). Na vida real, algo bastante parecido está sendo testado em em Montreal, no Canadá.

Reprodução/Reprodução

Depois de 15 anos estudando os vários tipos de estresse pós-traumático que existem, o cientista Alain Brunet desenvolveu uma “terapia de reconsolidação” usando como base o propranolol, uma betabloqueador já usado para tratar muitas doenças, como a enxaqueca.

Antes de cada sessão, o paciente toma um comprimido de propranolol, que age no cérebro abrindo umas espécies de lacunas que serão usadas para a edição da memória a ser tratada. Depois de ingerir a droga, a pessoa escreve sobre seu problema e depois o lê para o estudioso. Com o tempo e a repetição do texto, a substância vai agindo na mente, ressignificando a memória, ou seja, tornando-a menos traumática.

 

Isso acontece porque o propranolol tende a inibir o pensamento em questão, algo que, geralmente, ficamos matutando em nossa cabeça constantemente, fazendo com que revivamos a memória ruim. É claro que a tendência é que naturalmente as coisas se tornem menos doloridas. Contudo, com a “terapia de reconsolidação”, cinco sessões estão se provando necessárias para o trauma se tornar menos doloroso. De acordo com Brunet, seus pacientes dizem que têm a “impressão de que [o texto sobre a memória a ser editada] poderia ter sido escrito por outra pessoa, como a leitura de um romance”.

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“Eu estou apagando você, e eu estou feliz.” Reprodução/Reprodução

Apesar de a maioria das pessoas cogitar a terapia e recorrer ao propranolol para se livrar de memórias relacionadas a relacionamentos amorosos, o pesquisador canadense garante que o método deverá ser efetivo para tratar fobias, dependência e luto. “Estamos usando esse entendimento aprimorado sobre como as memórias são formadas e como são desbloqueadas, atualizadas e salvas novamente. Estamos usando essencialmente esse conhecimento recente da neurociência para tratar pacientes”, explicou em entrevista à BBC.

Vários pacientes dizem que se sentem como se tivessem tido a memória apagada, contudo o cientista afirma que ela não desaparece por completo, apenas para de doer e passa a ter menos importância para o cérebro. Mas, no fundinho, ela continua lá, mesmo que nem nos toquemos disso.

Ah, o Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças

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