Declarações assustadoras de uma adolescente com diabulimia
'Sinto-me tão gorda. Todo mundo estava bem hoje, menos eu.'
A palavra diabulimia é uma junção dos termos “diabetes” e “bulimia”. O transtorno acomete pacientes diagnosticados com diabetes tipo 1, em que o pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina. A pessoa começa a demonstrar os mesmos sintomas de uma pessoa bulímica, a sentir culpa depois de comer e a forçar o vômito. Diabéticos precisam ter muito cuidado com a alimentação e, justamente por isso, alguns acabam ficando tão fissurados que, infelizmente, desenvolvem o transtorno alimentar.
Lisa, à esquerda, com sua mãe e sua irmã, respectivamente.
Em 2001, quando tinha 14 anos, Lisa Day foi diagnosticada com diabetes melitus. Em 2015, a jovem faleceu vítima de diabulimia. Recentemente, Katie Edwards, a irmã mais velha da garota, concedeu uma entrevista à BBC e revelou alguns trechos do diário que a irmã escreveu enquanto enfrentava as duas doenças.
1. “Me sinto realmente gorda. Quero perder peso. Acho que estou pesando uns 57 quilos.”
Pessoas com diabulimia acabam, muitas vezes, usando erroneamente a insulina para perder peso. Lisa, de acordo com a irmã, ficava vários dias sem tomar o medicamento, que, segunda ela, a deixava gorda. O problema é que, para a família, a adolescente dizia que estava tomando tudo certinho.
2. “Um dia sem uniforme na escola. Sinto-me tão gorda. Todo mundo estava bem hoje, menos eu. Vomitei minha comida hoje. Preciso fazer rapidamente meu dever para a aula de artes.”
A irmã, Katie, conta que uma vez a mãe ofereceu sorvete para Lisa, que tomou tudinho! O problema é que, logo depois, o organismo dela rejeitou a comida e, sozinho, colocou tudo para fora, já que ele não estava mais acostumado a receber tanto alimento de uma só vez.
3. “Odeio ser diabética. Não posso comer quando quero porque não quero ganhar mais peso.”
A família conta que Lisa buscou ajuda diversas vezes – e que os familiares davam apoio a todo momento -, mas como ajudar uma pessoa que não quer ser ajudada e faz de tudo para encobrir seus problemas? Esse é um dos maiores obstáculos para quem sofre de transtorno alimentar (e para quem lida também).
O diário foi aberto e divulgado para que mais pessoas possam ter conhecimento do transtorno e, quem sabe, se salvar.
4. “Tenho feito exercícios para o abdômen e o bumbum, indo à academia todos os dias. Não posso fazer mais, ou vou morrer de esgotamento, mas de repente seria bom, porque estou tão gorda.”
A ideia de escrever o diário foi do médico de Day, que falou que ela conseguiria controlar melhor o tratamento (tanto as injeções de insulina quanto a alimentação e os exercícios físicos) se escrevesse tudo em um papel e deixasse registrado. Entretanto, o diário acabou servindo como uma válvula de escape para a diabulimia e não para o diabetes.
5. “Estou me obrigando a vomitar, porque caso contrário me sinto culpada pelo que comi.”
A morte de Lisa foi um alerta para a instituição DWED (Diabéticos com Transtornos Alimentares), que passou a fazer campanha para que a diabulimia seja oficialmente reconhecida pela saúde como um transtorno alimentar e psicológico, assim como a bulimia e a anorexia. Até então, o transtorno é praticamente desconhecido e com poucos estudos disponíveis.
6. “Acho que sou bulímica.”
De acordo com a reportagem exibida pelo programa Newsbeat, da rede BBC, aproximadamente um terço de jovens diagnosticadas com diabetes tipo 1 se incomoda com seu próprio peso e sofre de distúrbios alimentares sem saber. Lisa Day, por exemplo, achava que tinha bulimia, quando, na verdade, sofria de diabulimia.
Muitas pessoas acabam buscando apoio em outros pacientes diagnosticados com diabetes. Nick Jonas, por exemplo, tem diabetes tipo 1 e é responsável por financiar campanhas e projetos para alavancar os estudos sobre a doença, que é administrável, mas grave – principalmente, se o paciente acabar desenvolvendo algum outro transtorno no meio do caminho. “Há dias que são dureza(…) As batalhas de hoje são um trampolim para as vitórias de amanhã. Permaneça forte. Amanhã é um novo dia”, desabafou no Twitter.
Conhecimento é fundamental! É preciso conversar sobre o assunto e não desmerecer um transtorno alimentar, qualquer que seja a sua origem. Eles são graves e os diagnosticados precisam de ajuda, sim! “Eu chorava muito, porque tinha medo de fazer três refeições diárias. Eu dizia: ‘Não, é comida demais para mim!'(…) Não há cura, e pode ser que eu estrague tudo, mas quero ser um bom exemplo para meus fãs”, afirmou Demi Lovato, que, desde 2012, fala abertamente sobre o problema.
Busque ajuda, desabafe com os pais e os amigos. Você não está sozinha!