Cuidar da vida alheia é atraso de vida pessoal
'Aceitamos a realidade do mundo no qual estamos presentes.'
O Show de Truman: O Show da Vida. Você pode assistir a esse filme. Ou não. É uma escolha sua. Ele, falando bem por cima e evitando grandes spoilers, retrata a vida de Truman Burbank (Jim Carrey), um sujeito que desde o seu primeiro choro é acompanhado por tudo e por todos, sem intervalos. É um pouco paranoico, principalmente se formos parar para pensar que passamos mais tempo conectados, online, buscando sinal de wi-fi, do que, sei lá, conversando com a família ou os amigos na mesa de jantar. Você está lendo este texto na internet, não é mesmo? No celular? No computador? No tablet? Acompanhamos e somos acompanhados sem parar, assim como Truman.
Algumas pessoas, entretanto, querem ser mais que meros telespectadores. Mais que atores. Elas querem dirigir a sua vida. Você sabe como é, porque já deve ter se sentido como Truman Burbank: encurralada, vigiada, dirigida. É tanta gente querendo cuidar da vida alheia, dar palpite, dizer o que é certo e errado, o que pode e não pode, quando, no fundo, todos deveriam estar mais preocupados em dirigir suas respectivas vidas, tomar controle da situação, não deixar sua história ser escrita por outro alguém.
Em alguns momentos, principalmente quando ainda dependemos em tempo (quase) integral dos pais e/ou responsáveis, nos deixamos ser dirigidas. Não é questão de enlouquecer e sair quebrando desobedientemente todas as regras, mas de, aos poucos, ir assumindo o roteiro da sua história, tomando decisões por vontade própria e não por votação popular, formando sua própria personalidade e não deixar que ela seja formada pela audiência, trocando de canal quando bem entender e fazendo as outras pessoas perceberem que também deveriam trocar de canal e parar de bisbilhotar a vida alheia. O mundo não é um reality show. Ou não deveria ser.
Todas nós vamos nos sentir Truman um dia. E, dependendo, até podemos nos transformar naquele alguém que quer cuidar da vida alheia. Cabe a cada um de nós, ou melhor dizendo, a você, encontrar a porta de saída, abri-la, não dar ouvidos a quem só quer ser um espectador do que você faz ou deixa de fazer e ser livre para escolher a vida que quer levar, com quem, em que lugar, estudando o que quiser, vestindo a roupa que desejar, e ninguém tem nada a ver com isso, obrigada.
É hora de sair da bolha, Truman!