Cosplay, anime e mangá: por dentro do mundo otaku com a Moo

O que você achou dessa viagem pela cultura japonesa com a Moo?

Por Marcela Bonafé Atualizado em 1 nov 2024, 13h15 - Publicado em 4 set 2016, 09h30

Entrar no quarto da paulistana Maria Luiza Grantaine, de 23 anos, é como mergulhar em um mundo de mangás e animes. Para completar, ela ainda tem um cantinho em casa só para fazer cosplays – com uma máquina de costura, vários tecidos e mais de 40 perucas!

O gosto doce pela cultura japonesa começou muito cedo para Moo, como é conhecida na internet e pelos amigos. Desde pequena, ela assistia a animes na televisão. “Eu só gostava de desenhos que tinham aquela características. Achava eles mais interessantes”, lembra. Além disso, ela conta que a família também sempre a apoiou. Então, foi sempre algo muito natural para ela – e ainda é.

VIDA DE COSPLAYER
Aos 16 anos, Moo fez o primeiro cosplay. “Foi a Sakura, de Cardcaptor Sakura, porque ela era a personagem da minha infância. Só que como já estava mais velha, fiz a versão dela do mangá Tsubasa Chronicles“, lembra. Depois disso, ela não parou mais! “Na escola ninguém gostava daquilo tanto quanto eu. Então, não tinha com quem conversar. Já nos eventos em que ia, eu conhecia outras pessoas que gostavam também e aí rolava uma identificação”.

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Atualmente, ela acaba vendo mais os amigos que fez de várias partes do Brasil por causa de cosplay do que os que moram perto dela, em São Paulo. “Criamos um elo muito forte. Temos um grupo no Facebook em que conversamos e marcamos coisas. É uma forma da gente se manter unido”, explica. Eles até viajam para se ajudar com as roupas para os eventos e competições. Não é à toa que ela se diverte muito com isso! Mas nem tudo são rosas…

PRECONCEITO, MACHISMO E CRÍTICAS
Fazer cosplays é um hobbie de uma pessoa sobre algo que ela gosta, só que nem todo mundo enxerga assim. Muita gente ainda tem preconceito quanto a isso. Na última Comic Con Experience, por exemplo, o programa Pânico da Band zombou de uma cosplayer e deu um close erradíssimo em rede nacional. Além de falta de respeito, a Moo enxerga isso como uma dificuldade de entender o outro: “Acho que as pessoas só têm preconceito porque elas não conhecem mesmo. É extremamente saudável e a gente realmente gosta daquilo que faz”.

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Outro ponto que a incomoda bastante dentro desse universo é o machismo. “As meninas não são vistas só como uma pessoa que está fazendo cosplay. Se ela está com uma roupa um pouco mais sexy, já falam que ela quer aparecer por causa do corpo. Como se ela não pudesse apenas gostar daquela personagem!“, explica. Moo conta que existe muito julgamento em relação a cosplayers meninas e até desrespeito. “Já aconteceu de tirarem foto da bunda de uma amiga minha e publicarem na internet”, assusta-se.

“Para mudar essa realidade, antes de tudo, as próprias garotas têm que parar de ter preconceito umas com as outras”, afirma Moo. Isso, principalmente, porque algumas costumam encarar cosplays de uma forma competitiva. “Não é porque a menina tem um corpo diferente do meu que ela merece menos estar usando aquela roupa”, conclui. E é verdade, né? Afinal, tanto os meninos quanto as meninas têm direito de fazer o cosplay que quiserem para se divertir, sem ter ninguém criticando ou ofendendo por isso.

Esse é o espaço onde a Moo costura e prepara os cosplays dela!
Esse é o espaço onde a Moo costura e prepara os cosplays dela!
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FONTE DE INSPIRAÇÃO
Para Moo, os animes e mangás a ajudaram a construir a própria identidade e até a influenciaram em escolhas profissionais. A Tohru Honda (de Fruits Basket), por exemplo, é uma inspiração para ela. “Admirei demais quando li o mangá porque ela é muito gentil e generosa”, explica. Já Sora Naegino (de Kaleido Star) é um exemplo de dedicação e foco.

“Já fiz cosplay das duas! Elas são personagens que conheci desde muito pequena, então me utilizei para pensar a pessoa que eu quero ser. É legal porque tem essa profundidade das personagens, principalmente das femininas – o que a gente não encontra muito nos desenhos ocidentais”, analisa.

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Hoje a Moo olha para trás e percebe como os animes, o mangá e a cultura japonesa também abriram portas para ela. “Me formei atriz porque queria ser dubladora [de animes]. Também fiz curso de costura e aulas de japonês. Tudo por causa de cosplay, então isso está rodeando minha vida toda“. Aliás, há pouco tempo ela começou a apresentar um programa chamado Bunka Pop, que é justamente sobre esses assuntos e passa às segundas na Play TV e tem reprise todos os dias.

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https://www.youtube.com/watch?v=tAURhj0XWLs

DO OUTRO LADO DO MUNDO
Ir para o Japão era um sonho de longa data da Moo, afinal, ela estuda muito dessa cultura. Ela mudou para uma escola técnica no ensino médio justamente para começar a juntar dinheiro e, logo quando pôde, também começou a trabalhar e fazer curso de japonês. A oportunidade veio em 2014 quando os primos dela iam para lá. “Combinamos de ir juntos e eu mesma fiz o roteiro”, conta.

Eles passaram por cinco cidades e, para a Moo, foi a experiência mais incrível que ela já teve na vida. “O que eu mais gostei foi a energia. Ao mesmo tempo que é melancólica, ela é forte. Acho que isso representa muito a cultura e o povo do Japão num todo. De fato eles vivem muito o passado e o futuro ao mesmo tempo”, ela recorda.

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“Fui com o intuito de conhecer o Japão, não só os points otaku!”, brinca. Mas é claro que ela não deixou de passar por eles! Para os fãs de anime, ela aconselha: “Acho legal ir direto para Akihabara. É um bairro só disso. Vende cosplay, brinquedo, boneco. Mesmo se você andar tudo, no dia seguinte vai querer ir de novo. Quanto mais você olha, mais coisa diferente aparece”. Ela também lembra que, pelo Japão, tem vários parques temáticos diferentes, então vale a pena ver se tem algum sobre o desenho que você mais gosta quando for!

Depois de conhecer todo esse universo da Moo, agora talvez fique mais fácil entender o termo otaku. “Ele é japonês e se refere a qualquer indivíduo que é obcecado por alguma coisa. Só que ele foi popularizado por grupos de pessoas que gostam de anime e mangá, porque é muito fervoroso por lá”, explica. Inclusive, tem gente no Japão numa situação extrema que nem interage mais com as pessoas, só com os jogos, os desenhos e os produtos. Aqui no ocidente, a palavra otaku não é usada com esse teor tão radical, mas apenas para distinguir as pessoas que gostam dessas coisas. Mesmo assim, a Moo não se identifica com ela: “Acho que a gente é muito mais do que isso. Todo mundo poderia ser só fã, sem distinção!”.

 

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