Como praticar escuta acolhedora quando uma amiga desabafa com você
Até na tentativa de ser empática podemos acabar deslegitimando o que o outro está sentindo. Vem ver alguns pontos de atenção na hora de ouvir e aconselhar
Será que quando uma amiga vem desabafar você realmente cria um ambiente seguro e acolhedor? Essa é uma reflexão importante e necessária para todo mundo, viu? Porque, às vezes, até tentando ser o melhor ombro possível podemos cometer alguns deslizes. Nem são por maldade, mas eles podem afastar a pessoa que está precisando de ajuda naquele momento.
Ana Suy Sesarino Kuss, psicanalista e professora do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), destaca que sofremos uma espécie de falha cultural de escuta: estamos sempre muito preocupados em falar, então tendemos a destituir o lugar que a escuta tem na nossa sociedade. Sim, em outras palavras, ela está falando daquele nosso velho problema: falamos demais e escutamos de menos.
Por isso, muitas vezes, quando a outra pessoa está desabafando, já ficamos pensando em qual vai ser a resposta, qual será o melhor conselho ou buscando algum modo de dizer “eu te avisei”.
“Pode parecer simples, mas nesses momentos o mais importante é ser alguém disposto a fazer o básico: ouvir”, diz a psicanalista à CAPRICHO.
Até a ideia de empatia pode atrapalhar. Mas calma, vamos explicar o porquê
Ana Suy alerta para o uso problemático no modo como temos repetido a palavra “empatia”. Ela defende que melhor que ter uma escuta empática é oferecer uma escuta acolhedora.
“Se partirmos do pressuposto que empatia é se colocar no lugar da pessoa, você vai dizer para a pessoa o que você faria se fosse ela. Acontece que isso é impossível”, explica. A especialista reforça que sempre vamos ser diferentes daquilo que o outro é, justamente porque temos histórias, origens e pensamentos particulares.
“A amizade é uma modalidade amorosa tão rica justamente porque inclui de maneira muito importante a liberdade de cada um.”
“Então, quanto mais a gente quer entender o que o outro está sentindo, mais a gente coloca nós mesmos no lugar e exclui o outro de lá”, completa. E aí que está o perigo, mesmo sem perceber, acabamos deslegitimando o sentimento da amiga que está desabafando e nos colocando no papel de julgadora.
Já uma escuta acolhedora diz melhor sobre acolher o outro na sua relação com a liberdade. Afinal, a amizade, assim como o amor, precisa ser um espaço para ser livre, ressalta a psicanalista.
E como aplicar tudo isso na hora de dar conselhos também?
Justamente por não sabermos como é “estar na pele da outra pessoa”, a psicanalista já adianta que, no fundo, é impossível dar um conselho muito bem-sucedido e tranquilo. Mas, calma, podemos, sim, dar dicas e recomendações, a partir da nossa experiência. Mas sempre com cuidado, tá?
“Quando vamos dar um conselho para alguém, é sempre importante fazer ressalvas para não cair no imperativo de dizer o que o outro precisa fazer”, alerta Ana Suy. Podemos dizer, por exemplo: “Olha, escutando o que você está me dizendo agora, eu penso que… ou pode ser que….”.
Então, bora começar a prestar mais atenção nisso para ser um ombro amigo ainda mais aconchegante para as mulheres ao nosso redor? <3