Como contribuir com o movimento feminista quando não se pode ir às ruas
Brenda Major, da Galera CAPRICHO, dá dicas de como continuar sendo uma ativista dentro da causa em casa, seguindo o isolamento social
Oi, galera! Tudo certo? Aqui é a Brenda Major e eu queria discutir com vocês como minha concepção sobre o feminismo tem mudado em tempos de coronavírus. Desde que comecei a me informar mais sobre o movimento há alguns anos, eu sempre defendi que a melhor forma de se ser feminista é botando a mão na massa. Ou seja, achava que a melhor maneira de ser ativa era ir às ruas, gritar palavras de ordem, juntar dinheiro para ajudar mulheres em condição de vulnerabilidade e se reunir pessoalmente com várias meninas para discutir ações que poderiam ser feitas na comunidade para conscientizar as pessoas sobre a importância do movimento, já que, infelizmente, a palavra “feminismo” ainda é um termo visto por muitas pessoas, inclusive mulheres, com negatividade.
Por isso, quando a quarentena começou, eu senti como se parte da minha identidade ligada ao feminismo tivesse desaparecido. Isto, é claro, se deu pelo fato de que eu acreditava que, se não estivesse fora de casa e nas ruas, eu não tinha o direito de me considerar uma verdadeira feminista. Eu pensava que, se eu não estivesse nas ruas mostrando por meio de ações que eu realmente acreditava no que eu dizia, eu me sentia como uma impostora dentro do movimento. Porque, apesar do fato de que respeitar a quarentena é super importante e ajuda a salvar vidas, milhões de mulheres continuam entrando na faixa de pobreza todos os dias ao redor do mundo. Diariamente, meninas continuam sendo privadas de uma educação só por serem meninas. Todos os dias, meninas e mulheres são privadas de terem acesso a direitos básicos, como produtos menstruais, água encanada e um banheiro com privacidade para poder lidar com sua menstruação. É a tal pobreza menstrual. A quarentena me limitou em relação aos meus direitos de ir e vir, mas os problemas que afetam outras mulheres, muito mais graves, infelizmente não pararam de aparecer. E por causa disso, eu me senti impotente.
Conforme os meses foram passando, enfim me reconectei com o feminismo de uma forma diferente. Eu percebi que o movimento, apesar de uma grande parte dele ser sobre sororidade e aprender que nem sempre os direitos que você tem como mulher são os direitos que todas as mulheres têm o privilégio de ter, também serve como uma ferramenta de autoconhecimento. E é nesta parte que eu tenho focado nos últimos meses! Afinal, eu percebi que, para eu poder dar o melhor de mim e ajudar outras mulheres, eu preciso estar em paz com minha própria identidade. Então, decidi compartilhar algumas atividades que você pode fazer para continuar se sentindo ativa dentro do feminismo em casa:
1. Consuma livros de mulheres
Especialmente livros que são fora da sua zona de conforto e cuja história é diferente da sua própria realidade. O Segundo Sexo, da Simone de Beauvoir, é uma leitura difícil mas necessária, se você tem interesse em saber mais sobre a origem do movimento feminista. Livros de escritoras como Angela Davis, Chimamanda Adichie e Djamila Ribeiro também são leituras importantes para saber mais sobre como o privilégio branco é presente no movimento feminista e também para se educar sobre o feminismo interseccional e negro.
2. Faça cursos online sobre o tema ou crie o seu próprio clube feminista
Plataformas online, como o Coursera, FutureLearn e edX, contam com vários cursos gratuitos que falam sobre a história do movimento feminista em diferentes partes do mundo. Foi graças a esses cursos que eu aprendi que, apesar do significado de “ser feminista” ser “uma pessoa que acredita na igualdade de gênero”, o feminismo em si é muito mais profundo que isso. Por isso, sempre há a possibilidade de se educar mais sobre um movimento do qual você se considera parte.
Outra sugestão é criar seu próprio clube virtual! Que tal fazer um clube do livro feminista? Por mais óbvio que pareça, eu sinto que muita gente, inclusive eu, se esquece de que conversar e debater sobre os mais variados assuntos é uma oportunidade de explorar outros pontos de vista. É só lembrar que, além de você compartilhar sua opinião, também é importante ser uma ouvinte ativa dentro da discussão. Para mais ideias sobre atividades que você pode fazer em grupo, entra no site do Girl Up ou manda uma mensagem para @girlupbrasil, que com certeza você vai ser ajudada.
3. Use suas redes sociais para compartilhar informações
Essa é a chance de você realizar seu sonho de ser blogueira! (risos) Todo o conhecimento que você tem sobre o movimento feminista -ou que está planejando adquirir em um futuro próximo-, pode ser compartilhado nas redes. Com as novas invenções do Instagram, como o Reels, fica muito mais fácil divulgar o movimento e ajudar a tirar essa conotação negativa que muitas pessoas carregam sobre ele. Outra opção também é compartilhar com seus seguidores problemas que você encontra na sua própria comunidade, como uma forma de convocar pessoas a sua volta que estejam aptas a ajudar. Caso você seja do time das mais tímidas, como eu, compartilhar postagens que falem sobre esses assuntos ou até mesmo criar um perfil que fale sobre o movimento (em que você não precise mostrar seu rosto, se não se sentir confortável) também são formas super válidas de ajudar.
Apesar de muita gente duvidar do quanto compartilhar posts nas redes sociais pode ajudar uma causa social, já que a maioria das pessoas que irá ver faz parte do seu círculo social e, em muitos casos, são pessoas que tiveram uma educação parecida com a sua e provavelmente pensam igual a você, eu sempre vou defender que compartilhar informação sempre é válido, independentemente de para quem você a está compartilhando. O conhecimento é uma fonte ilimitada, ou seja, sempre há formas de você saber mais sobre algo. E você pode fazer o papel de facilitar o acesso a essa informação!
4. Cuide de você
É importante lembrar que essa época de quarentena pode afetar nossa saúde mental e nossa autoestima. Por isso, ganhar e compartilhar conhecimento sobre os outros é importante, mas se entender consigo mesma é essencial! Autocuidado é uma palavra que pode ser interpretada de diferentes maneiras e, por isso, você tem que fazer o que for melhor para você. Afinal, nós merecemos um tempo só para nós para conseguirmos nos reinventar para que, assim que a quarentena acabar, voltemos a ir para as ruas e coloquemos em ação tudo o que aprendemos durante esse período.
Você tem mais dicas de como ser feminista dentro de casa e quer compartilhar ou discutir sobre? Sinta-se livre para mandar mensagens lá no meu Instagram ou aqui nos comentários!
Beijos,
@bren_edm