Laura tinha 8 anos quando foi abusada sexualmente pelo padrasto. Durante muito tempo, ela simplesmente bloqueou esse trauma da memória e simplesmente não entendia por que tinha tanta repulsa a sexo. Na última terça-feira, 20, ela soube que o abusador havia, finalmente, sido condenado. Isso tudo aconteceu na novela O Outro Lado do Paraíso, da Rede Globo, mas poderia ter acontecido na sua casa ou na casa de uma pessoa próxima. O motivo? Por dia, mais de 50 denúncias de abuso sexual infantil são feitas no Brasil – e tantas outras ficam arquivadas por medo, vergonha ou trauma.
“Esses números são apenas a ponta de um iceberg, já que existe um muro de silêncio em torno desses casos de violência contra criança e adolescente, dificultando ainda mais a compreensão da magnitude real do problema”, revelou Anna Tereza Soares de Moura, vice-presidente da Soperj, em 2015. Dois anos depois, em 2017, os dados não indicavam melhora nesse cenário. De acordo com estudos realizados pelo Disque Direitos Humanos, 70% das vítimas são crianças e adolescentes, entre 8 e 15 anos, em sua maioria. 62% dos abusadores são adultos entre 18 a 40 anos.
A psicóloga Maria Luiza Moura, da Universidade Católica de Goiás, contou ao Blog da Andi que nem todo abusador infantil pode ser considerado pedófilo. Isso porque a pedofilia é considerada uma doença. No caso dos abusadores, eles simplesmente se aproveitam de qualquer oportunidade para obter um estranho e duvidoso prazer sexual. Alguns podem ter preferência por crianças e adolescentes, mas nem todos necessariamente são pedófilos.
Usando a novela O Outro Lado do Paraíso como exemplo, Vinícius (Flávio Tolezani), que abusou de sua entada Laura (Bella Piero), quando ela apenas uma criança, pode ou não ser um pedófilo. A trama deixou claro que ele tinha fotos de crianças salvas em seu computador e que já havia abusado de outras menores. O personagem também deixou claro que só havia se casado com a mãe de Laura por causa da filha. Ele é um pedófilo? Há que diga que não. A linha é muito tênue e ainda bastante discutida por leigos e especialistas.
Apesar de, na novela, o abusador ter sido condenado, na vida real, a coisa é bem mais complicada. Se mulheres mais velhas sentem medo de denunciar casos de abuso sexual, principalmente porque não se sentem protegidas pela Justiça, o que dizer de meninas menores de idade, que muitas vezes são chantageadas e não contam nada nem para os pais? Essa é mais uma reflexão que vale a pena ser feita.
É preocupante pensar que o Disque 100 recebe diariamente, no mínimo, 50 denúncias de abuso infantil. Mas é ainda mais angustiante pensar nas crianças e nos adolescentes que ainda não denunciaram, por inúmeras razões que não são cabíveis de julgamentos, e estão desamparadas e sendo abusadas no exato momento em que você está lendo esta matéria.
Abuso sexual é crime. Disque 100 e denuncie.