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Blog da galera: A história e importância da arte drag para a galera LGBT+

Um fenômeno cultural que começou nos teatros da Grécia Antiga, a arte drag agora transcende gêneros e quebra barreiras

Por Blog da Galera Atualizado em 29 out 2024, 18h40 - Publicado em 1 jun 2023, 20h09
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Barbara Marcantonio/CAPRICHO

Oie! Eu sou Bernardo Luiz, da Galera CH, e hoje vou te contar um pouquinho sobre a história da arte drag, um assunto que eu particularmente gosto bastante!

Antes de mergulhar de cabeça nesse universo de cores, é preciso entender que “drag” é uma manifestação artística de cunho político e pode ser realizada por qualquer pessoa. Esta, que diz respeito à exacerbação, ou desconstrução dos padrões, estereótipos e figuras de gênero binárias socialmente impostas, abriga um leque de possibilidades que se desdobram em múltiplos jeitos de ser, desde drag queens, a drag kings e queers, os quais personificam os estereótipos femininos, masculinos e brincam com a androginia, respectivamente. Bora conhecer mais sobre essa história?

Da Grécia Antiga ao ativismo político

A história da arte drag remonta à Grécia Antiga, por volta do século V a.C, em sua principal cidade-estado, Atenas. Com a criação do teatro, entre tragédias e comédias, eventualmente era necessária a representação feminina nas peças, porém, nesse período, por não serem consideradas cidadãs, as mulheres gregas não possuíam o direito de atuar. Dessa forma, a solução encontrada para esse problema trouxe os primeiros homens utilizando trajes femininos. Essa prática também pôde ser vista em outras localidades ao longo da história, como no teatro Kabuki, no Japão, e na Inglaterra, com as peças shakespearianas durante o reinado de Elizabeth I, as quais são apontadas como a origem do termo “drag” – dress resembling as a girl (vestido semelhante a uma menina) – vista em notas de roteiros.

Incorporada à comunidade LGBTQ+ no início dos anos 1960, nos Estados Unidos, a arte drag começou a ser reconhecida como uma forma de expressão artística independente. Locais como o famoso Stonewall Bar de Nova York – palco da primeira parada LGBTQ+ da história e de figuras como Marsha P. Jhonson – são os alicerces da noção de pertencimento que estava sendo construída. Entre manifestações e protestos, o “drag” consolidou-se como ativismo político, em especial nos anos 80, quando a epidemia da AIDS se espalhou pelo mundo. Assim, muitos artistas drag passaram a ser porta-vozes da causa, lutando por conscientização e solidariedade em relação às pessoas afetadas pela doença, em sua maioria, parte da comunidade.

15 de setembro de 1981: as drag queens Angel Jack e Hibiscus posam em trajes de lantejoulas e penas na reabertura do Studio 54, em Nova York.
15 de setembro de 1981: as drag queens Angel Jack e Hibiscus posam em trajes de lantejoulas e penas na reabertura do Studio 54, em Nova York. Foto de Tom Gates/Hulton Archive/Acervo Histórico/Getty Images
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A partir daí, a arte drag se tornou cada vez mais popular. Desde a metade dos anos 80, até o início dos 90, essa teve um grande impulso com a cena ballroom de Nova York, uma subcultura LGBTQ+ underground afro-americana e latina, organizada entre seus próprios concursos – os balls -, a fim de celebrar e valorizar a cultura das minorias marginalizadas por vezes dentro da própria comunidade. Esse cenário permitiu a ascensão de estrelas tais quais Crystal Labeija, Divine, Angie Xtravaganza, Moisés Renee e RuPaul, a última cujo impacto global será selado mais tarde, no início do Século XX, com seu programa de TV: RuPaul’s Drag Race.

Arte Drag no Brasil

Em meados dos anos 1960, nomes pioneiros da arte drag brasileira surgiam, como Miss Biá, performer que iniciou sua carreira nas casas noturnas de São Paulo, Marquesa e Rogéria, duas das integrantes do espetáculo carioca Internacional Set, de 1963, realizado na Galeria Alaska, lugar que abrigava boates e é considerado extremamente relevante ao movimento LGBTQ+ do Rio de Janeiro, além de Jane Di Castro, parte do elenco de “Les Girls”. Vale ressaltar que até os anos 1990, o termo “drag” não era conhecido aqui, portanto, todas essas personalidades eram intituladas “transformistas”.

Como todo enredo tem seu conflito, não só artistas, como toda a comunidade, enxergaram-se ameaçados pelo infeliz período da Ditadura Militar (1964 a 1985). Por mais que a resistência às manifestações culturais fosse dura, surgia no Rio de Janeiro, em 1972, o grupo Dzi Croquettes, cujas temáticas, figurinos e androginia desafiavam as autoridades do regime, sendo alvo constante da censura. Nos anos 80, faíscas da organização de uma possível parada em território nacional respingaram em frente ao Teatro Municipal de São Paulo, onde mais de 800 LGBTQ’s se reuniram em prol da denúncia à violência policial, cunhando o bordão: “Abaixo a repressão, mais amor e mais tesão!“

Mesmo com inúmeras dificuldades, ainda nos anos 80 a mídia nacional lançou seus olhares sobre as performers através do “Show de Calouros”, programa apresentado por Sílvio Santos, de júri composto pela lendária Elke Maravilha, que abriu espaço para as transformistas nas TVs dos lares brasileiros. Após o término da ditadura, o fim da década foi acompanhado pela explosão da HIV e AIDS no país, o que promoveu mais marginalização sobre principalmente homens gays e travestis. No entanto, essa situação não impediu a “avalanche drag” que viria tomar o Brasil de 90, seguindo as tendências ocidentais lançadas com o documentário “Paris Is Burning”, assim como a era clubber, potencializada aqui pela festa “Nossa Senhora do Make Up é Drag” de 1992, em São Paulo.

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Foi nessa época que ascenderam grandes estrelas: Paulette Pink, Dimmy Kieer, Silvetty Montilla, Márcia Pantera (precursora do bate-cabelo), Verônica, Vera Verão (parte do elenco de A Praça é Nossa), entre tantas outras. Nesse cenário, não demorou muito para o andamento da primeira parada LGBTQ+ brasileira – antes intitulada “parada gay”, ou GLS -, ocorrida em 28 de junho de 1997 na Avenida Paulista. Cerca de dois mil ativistas quase foram barrados pela polícia, mas a partir de uma distração provocada pelo falso desmaio da artista Kaká Di Polly, o carro de som conseguiu caminhar pelas ruas do centro de São Paulo.

Desde então, no Brasil, dos anos 2000 até agora, as formas de se fazer drag foram reinventadas, indo de drags DJ’s, como o Trio Milano, às drags cantoras, Aretuza Lovi, Gloria Groove, Potyguara Bardo, Lia Clark, Kaya Conk, além de youtubers e influencers dos mais diversos assuntos – Lorelay Fox, Ikaro Kadoshi, DaCota Monteiro, Desireé Beck, Klox, Bianca DellaFancy, Ginger Moon, as DragBox, Elay Oliv, Ismeiow, Rita Von Hunty etc. Apesar de sermos o país que mais mata pessoas LGBTQ’s do Mundo, somos também o país que possui a maior Parada e a drag queen mais famosa da atualidade: Pabllo Vittar.

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Conquistando a mídia e mais espaços

Os acessos possibilitados pela expansão da internet acabam por englobar também as várias vertentes da arte drag e potencializar seu alcance. Não é atoa que hoje vemos esses artistas aparecendo em grandes revistas, em festivais de música, em séries, como Pose, dentro da moda e em premiações e eventos – The Realness, por exemplo. É justamente essa amplitude que ajuda a desmistificar os preconceitos criados em torno dela que é quase um pilar da história da luta LGBTQ+.

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Sendo assim, é impossível entender a realidade drag hoje estruturada sem pontuar a influência dos programas de mainstream em sua disseminação, tal qual o mundialmente conhecido e já citado, RuPaul’s Drag Race. O reality show competitivo originalmente estadunidense traz em cada uma de suas várias temporadas diversas drags que batalham pela coroa e título de “Next Drag Superstar”. Ele já conta com spin-offs em múltiplos países e possui a estreia da versão brasileira especulada ainda para este ano, apesar de já ter coroado Grag Queen, participante brasileira ganhadora da primeira temporada do reality de canto da mesma produtora chamado “Queen Of The Universe”.

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Para além destes, outros títulos notáveis são: “The Boulet Brother’s Dragula”, também reality de competição, focado sobretudo em estilos drag alternativos e underground; “Queen Stars Brasil”, o qual em sua primeira e até então única temporada buscou por um trio musical drag -”Pitayas”- formado pelas três vencedoras: Reddy Allor, Leyllah Diva Black e Diego Martins (a última agora estrela de “Terra vermelha”, novela das 21h de Walcyr Carrasco, interpretando o personagem Kelvin); e “Caravana das Drags”, queridinho do momento cuja premissa é levar drag queens por diferentes estados do Brasil dentro do Vera Busão.

Em suma, a globalização da arte drag a eleva a um patamar altíssimo que tende a adentrar cada vez mais espaços no futuro. Ela é algo a mais do que apenas artisticidade: é cultura, é história, é resistência, é humanidade, estando presente no desenvolvimento da própria, criticando os padrões de gênero e comportamento socialmente aceitos. É um fazer político que ainda hoje enfrenta desafios para sua plena existência, mas que dá voz àqueles que ficaram calados por tempo demais.

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