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Blog da Galera: a arte (sobre trilhos) resiste nos vagões de trens e metrô

Gyovanna Cabral, da Galera CH, dá a sua visão de slammaster sobre a "lei dos vagões" e indica artistas de rua para conhecer.

Por Da Redação Atualizado em 31 out 2024, 01h45 - Publicado em 12 jul 2019, 15h35

Oi, meu nome é Gyovanna e hoje estou dispensando apresentações. Você sabe o que é arte no vagão? Se você anda de transporte público, deve saber do que estou falando. Talvez você escute o que esses artistas têm a dizer, talvez não. Eu sou artista de rua, slammaster, acabei de emplacar meu Slam da Rampa (@slamdarampa) e comecei a fazer uma grana extra recitando no metrô do Rio de Janeiro. Aliás, peço licença para os artistas que estão há mais tempo que eu nesse trampo, mas estou muito a fim de falar sobre o assunto.

Oi, eu sou a Gyo e eu acredito que a arte sempre se faz necessária, em qualquer lugar. Reprodução/Reprodução

Sabia que muitos artistas pagam o aluguel com esse trabalho que fazem? Não venha me dizer que você quer ter uma viagem tranquila, porque, quando está indo pular carnaval, os transportes públicos são tomados por uma bagunça que te diverte pra caramba! Não venha também me dizer que você é não é obrigada, quando você é questionado se está tudo bem para a apresentação no vagão. E não venha falar que isso não é arte só porque você é privilegiado e consegue visitar museus pagos ao redor do mundo.

Neste texto, a gente vai trabalhar com fatos (podem ficar tranquilos, aqui ninguém trabalha com fake news). Nós, artistas de rua do Rio, ganhamos o direito de nos apresentarmos em vagões em 2018, concedido pelo governador Luiz Fernando Pezão. Na minha opinião, não fez mais que a obrigação. Mas, um belo dia, um menino que não anda de metrô e acha que essa parada não é arte resolveu tirar nossa paz, um dos nossos sustentos, uma de nossas expressões artísticas. Vamos chamar esse menino de Flavinho, ok? Ele então resolveu tornar inconstitucional essas apresentações nos vagões, comparando-nos a terroristas. Sim, isso realmente rolou.

“A difusão de manifestações culturais não pode prejudicar o sossego, o conforto e segurança pública. Os passageiros devem poder decidir se querem ou não assistir às apresentações… Essa ação não é contra os artistas ou a cultura. O bom senso e a razoabilidade devem sempre prevalecer”, disse Flavinho, que nunca viu um artista em metrô e se esqueceu de que, novamente, a maioria de nós pede licença para se apresentar. Duas palavras nesse discurso não descem pela minha garganta de jeito nenhum: “prejudicar” e “segurança”. Como o que fazemos contribui negativamente para a segurança pública de alguma forma? Como o que fazemos prejudica o direito de ir e vir do outro?

 

O maior problema é que muitos do que estão no poder não têm a vivência daquilo pelo que são responsáveis. O máximo que um amigo meu já ganhou se apresentando no metro em um dia foi R$ 60. Ele trabalhava diariamente, co exceção de domingo. Em um mês, ganhava líquido R$ 1.440, e nós sabemos que, para quem não tem auxílio moradia, esse dinheiro some apenas no aluguel. Não adianta babarmos o ovo de países de primeiro mundo que valorizam a arte de rua enquanto não incentivamos ela por aqui e só queremos criminalizá-la de alguma forma.

Existe uma coisa que se chamada cultura popular e outra que se chama cultura erudita. A segunda surgiu há muito tempo, é idolatrada como uma cultura superior, que requer que o consumidor dessa arte já seja estudado o suficiente para não ficar perdido. A primeira vem na contra-mão: é acessível, faz uso de uma linguagem que todo mundo é capaz de entender, até aqueles que não foram educados para isso. Já se foi o tempo em que achávamos que um pessoal dançando break na estação de metrô não é cultura só porque não está em um teatro municipal usando terno. A cultura é nossa vivência.

Como prometido, aqui vão alguns artistas de vagões para vocês conhecerem:

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A arte resiste,
@poesiade1minuto

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