Barradas: o drama de meninas que foram discriminadas em portas de balada

O que acontece quando a diversão vira um verdadeiro filme de terror?

Por Malu Pinheiro Atualizado em 4 nov 2024, 14h39 - Publicado em 16 ago 2015, 16h40

“Eles nunca falam a verdade”, afirma uma das meninas que topou conversar com a CAPRICHO sobre os recentes relatos de garotas que sofreram discriminação social, estética e racial em algumas baladas noturnas de São Paulo. A frase mais clichê dita pelos seguranças e recepcionistas que controlam a entrada nas casas noturnas? “Infelizmente, seu nome não está na lista”.

Na verdade, essa desculpa só serve para mascarar frases preconceituosas, como ” precisamos manter o nível da balada”, “você não se enquadra no perfil da casa” ou “aqui só entra se for gata” . Uma das melhores amigas de S.C., 24 anos, foi barrada na noite de seu aniversário por não atender aos padrões de beleza impostos pela balada em que escolheu comemorar. “Eu entrei primeiro e estranhei a demora da minha amiga. Ela é parda e muito simples. Não estava com uma maquiagem carregada. Ela foi barrada e sei que aquilo mexeu com ela”, afirma.

Mais do que uma noite de diversão perdida, a vítima pode sofrer um abalo emocional para a vida toda. “A agressão psicológica pode ser mais dolorosa que a física. Muitas vezes, quem é agredida não consegue procurar ajuda porque acha que vai trazer mais conflito para a vida dela. Mas pedir ajuda potencializa a sua autoestima?, aconselha Soraya Azzy, psicóloga do Hospital Albert Einsten. A.C., 22 anos, outra jovem que conversou com a CH, contou que foi barrada na porta de uma famosa casa noturna de São Paulo por estar sem maquiagem e ser baixinha. “Foi uma situação vergonhosa. Me senti totalmente impotente. Não podia fazer nada para evitar aquilo. O que eles reafirmam com essa atitude é que não se pode entrar em uma balada sem se enquadrar nos padrões de beleza impostos pela sociedade”, desabafa.

“Meu amigo disse que se soubesse antes que minhas amigas eram barangas, não teria dado pulseirinha para elas” . Esse é mais um relato de uma garota que viu as amigas sofrerem discriminação em boates. A segregação, contudo, acontece não só com pessoas que tentam entrar VIP ou conseguir camarote, mas também com quem está disposta a pagar para curtir a noite com as amigas na pista. “A promoter olhou para a minha cara e disse que eu não estava em nenhuma lista. Detalhe: a fila em que eu estava não era para VIP, eu estava disposta a pagar R$ 70 apenas para entrar!!!?, admite outra jovem discriminada.

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A S.C. ainda revelou que os seguranças da casa noturna usaram a força para expulsá-las da fila, logo após o episódio da amiga barrada na porta. “Quando minha amiga e eu voltamos para ver o que estava acontecendo, eles praticamente jogaram a gente na rua. Eu então pedi para conversar com o gerente, porque não era certo a aniversariante ser barrada por não ser branca ou não estar com vestido bandage . Eles apontaram para uma mulher e fui falar com ela. Perguntei qual era o seu nome e ela respondeu: ‘meu nome é ninguém’; e me deu as costas”, relembra a jovem.

Os relatos demonstram a prática de discriminação racial, social e estética por parte de algumas casas noturnas. Isso atinge os princípios que estão na Constituição Federal e configura crime, conforme a Lei 7716/89,.

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Se você já tiver sofrido algum tipo de preconceito, não fique quieta. Você pode (e deve!) dividir esse peso com pessoas que estão ao seu redor. Seus pais, por exemplo, podem ajudá-la a procurar um psicólogo. Há também grupos feministas online que debatem questões como violência e discriminação contra a mulher. Encontrando relatos de experiências semelhantes à sua, você vai se sentir menos sozinha . De acordo com o advogado Mateus Bacchini, você ainda pode chamar a polícia no próprio local do crime. “É sempre bom ter testemunhas, como amigas que tenham presenciado a situação. A denúncia é encaminhada para o Ministério Público, que avalia o caso”, explica o especialista. Transformar o luto em luta é importante. E que justiça seja feita: você é muito melhor do que essas ~baladinhas tops~ ! 😉

Você já passou por alguma situação do tipo? Conte pra gente! Escreva para redacaocapricho@gmail.com .

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