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Até quando vai ser papel da mulher consertar e salvar seu parceiro?

Da vida real à ficção, muitos são os casos de casais em que o jovem precisa ser salvo garota bondosa. É hora de repensar esses papéis!

Por Mavi Faria Atualizado em 29 out 2024, 16h19 - Publicado em 14 jan 2024, 14h11

Na última semana, um debate dividiu opiniões de diversos usuários no X (antigo Twitter), após um usuário compartilhar uma conversa com a namorada, reclamando da suposta falta de empatia dela perante seu estado clínico. No post publicado por ele – agora excluído após tanta repercussão – a namorada expõe que não sabe o que fazer e não tem como ajudar o rapaz, já que ele tem depressão.

Em uma das mensagens, ela conta como gostaria muito de ajudar, mas não tem como. A partir disso, muitos internautas se solidarizaram com o rapaz e aproveitaram o espaço para desabafar, pontuando que a moça não foi empática e que poderia ter sido mais carinhosa, especialmente pela circunstância. Os tweets abaixo são respostas ao post original, que não aparece por já ter sido excluído.

Outra parte dos comentários parabeniza a namorada por ter tomado uma atitude que muitas pessoas não conseguem colocar nos relacionamentos: o limite. A surpresa é tão grande porque, historicamente, é esse tipo de papel que é designado a mulher: o de cuidar, acolher, consertar e até salvar. O trabalho do cuidado, por exemplo, esquecido por tanto tempo, foi finalmente lembrado no tema da redação do Enem do ano passado.

Estamos tão acostumados a responsabilizar a mulher por qualquer atitude do homem, colocando-a no papel de mãe, amiga ou psicóloga, que ver a linha divisória imposta pela menina no caso, pode assustar.

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No caso exposto pelo usuário, a situação ganha outra dimensão pela luta do rapaz contra a depressão. O transtorno é sério, acomete cerca de 5,8% da população, ou 11,7 milhões de brasileiros, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2023, e afeta intensamente a vida de uma pessoa, podendo levá-la ao óbito. Por isso, é preciso muito cuidado ao lidar com uma pessoa nessas condições – mas atenção, ter cuidado não significa ser responsável por curar a pessoa.

Um indivíduo com depressão precisa de acompanhamento psicológico e médico constante, além de apoio de familiares e amigos. Mesmo assim, nem todos sabem como lidar diante desse caso e a responsabilidade do tratamento envolve estritamente a pessoa doente e seus médicos e psicólogos. O papel das pessoas ao seu redor é do apoio, que também varia muito dependendo da pessoa e da relação. Conhecemos uma parte muito pequena da relação para conseguir entender o que estava acontecendo e não cabe a nós julgar nenhuma das partes. O que nos cabe fazer é refletir sobre papéis impostos para as mulheres. 

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Uma mulher precisa ‘consertar’ um cara?

Não só a realidade, mas a ficção também costuma nos reafirmar essa ideia de mulher como terapeuta. É muito comum vermos em séries, livros, filmes ou novelas, casais em que o cara tem muitos problemas e a menina é a salvadora, responsável por transformar a vida dele e ele próprio em alguém melhor. Já parou para pensar nisso?

As séries O Verão que Mudou Minha Vida, da Amazon Prime e a mais recente, Minha Vida com a Família Walter, da Netflix, foram muito comparadas, por trazerem um triângulo amoroso entre uma garota e dois irmãos. Em ambas, podemos ver essa dinâmica da garota se esforçando para consertar o garoto que ela gosta.

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Jackie Howard e Cole Walter

Lançada no final do ano passado, Minha Vida com a Família Walter já foi renovada para a segunda temporada e fez grande sucesso logo de cara, mantendo-se por cerca de duas semanas, desde a estreia, no Top10 da Netflix. Na série, Jackie (Nikki Rodriguez) se muda para a casa dos Walter após perder a família em um acidente e, de cara, já se encanta por Cole (Noah LaLonde).

O relacionamento dos dois segue a premissa clássica: ela é tímida e nerd, ele é o galã bad boy da escola que implica com ela sempre que pode. Afastado do futebol americano por uma lesão na perna, Cole deixou os estudos de lado, desistiu da ideia de cursar uma faculdade e parece não se importar com mais nada, até que a série progride para mostrar Jackie proporcionando a ela uma nova visão e significado para a vida. É um roteiro lindo, mas… Não é o papel dela! Com tantos acontecimentos recentes em sua vida, Jackie não deveria receber essa outra responsabilidade, de trazer Cole para o “bom caminho”. 

Belly e Conrad Fisher

Um roteiro muito similar permeia o relacionamento de Belly (Lola Tung) e Conrad Fisher (Christopher Briney), em O Verão que Mudou Minha Vida. Aqui, Belly e Conrad (e Jeremiah, não podemos esquecer dele) são amigos desde a infância porque as mães são melhores amigas spoiler, Belly é apaixonada nele desde pequena. Conrad também tem toda a pose clássica de bad boy, chega a tratar ela mal e passa vários episódios com uma postura bem controvérsia pelo mal humor e a agressividade pelos problemas pessoais que estava vivendo no momento. 

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Mesmo não sendo uma boa justificativa, Belly vê as atitudes de Conrad como uma confirmação de que ele desesperadamente precisa de ajuda (como se ele não fosse capaz de falar por si só) e assume, quase como uma missão, salvá-lo, porque, segundo ela, essa pessoa não é o verdadeiro Conrad que ela conhece. Sem mencionar todas as pessoas que saem machucadas desse rolê todo, é um momento onde Belly ignora seus próprios sentimentos por um tempo para conseguir ajudar Conrad – como se ele fosse mais importante que ela própria

E você, já tinha reparado nessa característica em alguns casais?

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