“As mulheres que eu afeto são quem me fazem continuar”, diz Hana Khalil
Com mais de 2,7 milhões de seguidores, Hana usa as redes sociais para falar sobre as questões enfrentadas pelas mulheres no Brasil
Com mais de 2,7 milhões de seguidores no Instagram, Hana Khalil movimenta sua rede falando sobre temas que fazem parte da realidade das mulheres brasileiras. Através de vídeos, com menos 10 minutos, a jovem aborda temas relacionados a saúde mental das mulheres, o direito de tomar decisões sobre o próprio corpo e até alerta sobre projetos políticos que significariam um retrocesso para as liberdades das mulheres. A comuicadora usa sua voz para, como ela diz, ajudar mulheres a tomarem consciência e desenvolverem o autoconhecimento. Em um bate-papo com a CAPRICHO, Hana falou sobre ser mulher no Brasil e como as mulheres de sua família contribuíram para sua vivência feminina, confira:
CH: Quando a gente fala em vivências femininas no Brasil, a gente fala de muita gente. Quem participou da construçaõ da sua vivência feminina?
Hana: Eu acho que todas as mulheres contribuíram um pouco para a minha vivência feminina. Tenho grandes mulheres próximas a mim que me instruíram. Tenho minhas amigas, entre elas a Maria Gambardelli, a Jeane Yépez e a Lara Aleixo. Na mídia, a Juliana Gomes, que é uma jornalista que tem um podcast chamado “Jornal do Veneno”. Muitas influenciadoras também me inspiram, como a Carla Candace e a Bianca Barroca. Tem muita, muita, gente que me inspira pra caramba.
O quanto seus antepassados contribuem para a sua vivência como mulher hoje? Eles te dão força de alguma forma?
Sim, com certeza eu sinto a força das mulheres ancestrais da minha família. Acho que elas tiveram que aguentar muita coisa até aqui, assim como qualquer mulher que tenha vivido em sistemas patriarcais. Mas eu acho que eu faço mais o meu caminho… Ser uma mulher do século XXI é muito complexo também, mas sinto que vivemos um momento em que eu posso atuar de forma mais intensa em nome de mulheres da minha família que não puderam fazer isso ou não tiveram recurso.
Você acredita que o fato de você ser vegana é um recorte que interfere na sua vivência feminina? Se sim, de quais formas?
O veganismo também tem uma abordagem que fala muito, tem um recorte de gênero sim. Nós, do veganismo, também falamos de fêmeas que são exploradas, né? Para finalidades reprodutivas, e, basicamente, é uma parte do que acontece no patriarcado, né? Então, é esse tipo de empatia com todas as espécies. Citam muito sobre essa agenda do agronegócio e exploração animal que é fadada a misoginia também. Explorar fêmeas como produtos e objetos, botando uma função nelas como gerar leite para essas pessoas beberem, gerar ovos para as pessoas comerem.
Você acredita que a rivalidade feminina atinja todas as mulheres? Como acabar de uma vez com ela? É possível e necessário?
Eu acho que a rivalidade feminina atinge todas as mulheres, sim, em todos os lugares. Porque para o patriarcado é melhor que estejamos concentradas em nos destruir, uma as outras, que nos vejamos como alvo. Porque é o que eles veem também, como se realmente nós estivéssemos competindo. Como se fosse “quem vai ser a escolhida” então eles querem nos incentivar a pensar que só há lugar para uma mulher, só há espaço pra uma de nós aqui. Essa limitação de espaço que deram pra gente também reflete e cria essa competição.
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O que mais te assusta hoje sendo mulher no Brasil?
Eu acho que é o governo gerenciado por um presidente conservador e genocida, que não se importa com nenhuma das questões dos contextos da mulher. Um governo que carrega um moralismo extenso patriarcal e institucionalmente masculino, classificando a mulher como algo e uma determinada função para assessorar o homem, como um acessório. Reforça que nós, nosso útero e nosso corpo são um objeto do Estado. O que mais me assusta sendo mulher no Brasil hoje, é ter um líder de Estado como o atual. A gente está lutando, mas daqui a pouco vai ser votado de novo para que o aborto seja proibido em todos os casos. É um governo que ainda quer que nosso corpo seja propriedade do Estado e dos homens.
O que mais te alegra hoje em ser mulher no Brasil?
É difícil… Uma pergunta muito difícil. Não existe um motivo alegre em ser mulher no Brasil agora, ainda mais em um cenário epidêmico com mulheres periféricas e mães solo dando a vida para poder se sustentar e botar comida na mesa de seus filhos, tendo que largar seus trabalhos para cuidar das crianças dentro de casa, porque as crianças não têm escolas. Várias mães solos e mulheres perderam seus empregos devido à crise da economia. Agora não há muito motivo pra se alegrar sendo mulher, nem pra engravidar, nem pra ser mãe, nem não sendo mãe. Ser mulher no Brasil é muito difícil.
Qual vertente do feminismo você segue? Por quê se identificou mais com ela?
Eu gosto muito do feminismo de classe, o interseccional e o eco feminismo. São vertentes que eu me identifico bastante. Acho que o feminismo é um movimento muito extenso e com diversas abas. Às vezes a gente coloca muitas mulheres à prova disso. Existem muitos tipos de feminismo, eu prefiro não estar sendo julgada por ser de um deles, em nenhuma “caixa” específica. Eu recolho ideias de cada uma das vertentes e acho que todas fazem sentido em certos lugares, só que precisamos construir na prática o que é melhor para poder agregar todas as pessoas, classes e gêneros.
Você tem mais de 2,5 milhões de seguidores no Instagram. É muita gente! Várias de nossas leitoras te citam como inspiração e referência. Como você se sente com relação a isso? Qual mensagem quer passar para elas?
Elas me transbordam, as mulheres que eu afeto são as mulheres que me fazem continuar fazendo o que eu faço. Isso é uma missão que eu quero alavancar consciências. São as minhas maiores metas. Trabalhando para endurecer cabeça de mulheres e fazê-las se guiarem até o autoconhecimento o mais rápido possível.
O que a Hana de hoje diria para a Hana de 15 anos de idade?
Respira fundo, observa mais, o silêncio é o seu aliado. Não dose sua intensidade, mas saiba a hora de respirar, parar e filtrar.