
Artistas compartilham o que ajudam eles a lidarem com o bloqueio criativo
Você não é a única pessoa que trava durante o processo criativo – talvez você só precise de uma nova perspectiva e de dicas de quem também passa por isso
ostumamos romantizar a criatividade, colocando-a como uma habilidade linear, constante e quase mágica. Mas, na verdade, o processo criativo nem sempre é fluído como gostaríamos, e isso faz parte. Há momentos em que a inspiração e as novas ideias parecem se perder na nossa cabeça – é o que chamamos de bloqueio criativo.
Apesar de ser uma experiência comum, é preciso lembrar que essa dificuldade não é permanente, e dá para fazer com que ela seja o mais leve possível. Para a designer e ilustradora Paula Cruz, por exemplo, o bloqueio criativo funciona como um pedido de atenção – atenção para respirar, descansar, deixar a cabeça espairecer. “O tempo inútil é extremamente criativo, e ter um bloqueio me mostra que é hora de resguardo. Antes isso me deixava ansiosa, agora entendo como um próprio pedido do pulsar criativo”, conta à CAPRICHO.
Paula ressalta que bloqueio da criatividade também vem muito do nosso contexto e do nosso estado de espírito. “Às vezes, você passou por uma semana difícil e está cansado demais para criar. Às vezes você se chateou e a última coisa que você quer fazer é criar. Esse tempo precisa ser respeitado também”, explica. “Se um dia você está mal, o dia seguinte te traz novas e boas possibilidades. Isso ajuda a gente a encarar nosso próprio fazer criativo com disciplina, constância e humanidade”, completa, lembrando que, no final das contas, criatividade também é treino.
Para o João Barreto, ilustrador e designer da CAPRICHO, o bloqueio criativo está muito relacionado aos prazos apertados. “Normalmente, tenho bastante ideias, mas a grande dificuldade é adaptá-las ao tempo de execução”, diz. Por isso, ele busca fazer outras atividades durante o processo para não ficar preso na questão do tempo e dispersar a ansiedade de ter que resolver logo uma coisa.
Inclusive, João bateu um papo muito bacana, de artista para artista, com Leandro Assis, letrista e diretor criativo, para a edição digital da CH de janeiro. Na entrevista, Leandro contou que, para evitar a frustração do bloqueio criativo, ele aprendeu a estabelecer um jeito para que isso acontecesse com menos frequência.
“Se eu tenho 5 dias para fazer um projeto, eu divido esses dias e entendo que eu não preciso resolver tudo num dia só. Para mim, fica mais leve. Em um dia eu tenho as ideias, no outro eu rascunho, no outro eu boto cor, no outro, eu vou refinando. Cada dia tem um propósito”, explica e continua: “às vezes você não vai solucionar o projeto, às vezes você só vai querer escrever ele, ou às vezes você vai querer desenhar coisas bonitinhas com coração”.
Sim, nossa mente pode agir contra nós
Já a ilustradora Camila Rosa percebeu que, para ela, o bloqueio costuma vir justamente quando tem mais tempo livre pra criar. “Minha mente fica tão aberta e cheia de possibilidades que acaba difícil focar em alguma coisa”, conta. “E por mais difícil que seja aceitar que você não está conseguindo criar naquele momento, parar e se inspirar em outras formas de arte ou vivências pode ser um caminho”, defende. Ela acrescenta que, quando isso acontece, ela gosta de revisitar seus próprios trabalhos ou até o trabalho de outros artistas.
Matheus Carvalho, também designer da CH, traz um outro aspecto que, muitas vezes, pode fazer com que artistas se sintam bloqueados: a autocobrança. “É muito normal se sentir inseguro e achar que o seu trabalho não está saindo da maneira como você pretendia que ele saísse, mas isso não é, necessariamente, um indicativo de que ele está ruim”, diz. “Temos a tendência a ficar tão enfiado na nossa própria produção, que acabamos nos atentando a detalhes que detalhes que não necessariamente vão fazer uma grande diferença no conjunto da obra”, completa.
Respira…
Uma coisa é unânime entre todos os artistas que conversamos: a importância de não se forçar a criar quando está passando por um bloqueio criativo. A melhor saída é mudar de ares e respirar um pouco.
“Gosto de mudar o foco e mergulhar em outros mundos: dar uma caminhada, ler um livro, ver um vídeo de outro artista mostrando seu processo, visitar uma exposição, museu ou livraria, ou até assistir um filme. Acho que me alimentar de arte de uma maneira mais geral, menos focada no que eu faço, me ajuda a me reconectar com a minha vontade de criar“, conta Camila.
Matheus também reforça como é necessário descansar o olhar. “É como se você tivesse fazendo um pão, em que você precisa deixar a massa descansar, voltar, mexer nela mais um pouco, deixar descansar de novo”, explica.
Outra dica dele para esses momentos de bloqueio é conversar com outros artistas e com pessoas que você sente que irão te compreender e podem te agregar com sugestões e opiniões legais. “Mas sempre escolhendo permanecer verdadeiro as próprias intenções, e decidindo o que é válido para você ou não”, pontua.
Esperamos que essas dicas te deem uma luz e te ajudem a passar pelo bloqueio criativo de uma jeito mais leve e gentil com você.