Ari: a perfeita representação do homem perdido, encostado e do pai ausente
Se o intuito de Glória Perez, autora de "Travessia", era fazer uma crítica a esse perfil tão comum em nossa sociedade... Parabéns, acertou em cheio!
“Não tem Ari, não tem chefe de Ari, não tem juiz… Ninguém vai tirar o meu filho de mim. Meu filho é meu!”, disse Brisa (Lucy Alves) ao escutar da amiga Tininha (Camila Rocha) que seu ex-noivo, Ari (Chay), estava de namorada nova e que havia levado seu filho, Tonho (Vicente Alvite), para o Rio de Janeiro.
Antes de proferir essas maravilhosas palavras, Brisa foi ainda mais porreta e disse que, se o Ari quisesse ficar com outra, que ele ficasse. Eu arrepiei quando ouvi isso, e nem é meme! Arrepiei porque ela teve o sangue frio que eu não tive com os muitos Aris que já cruzei pelo caminho – ou que muitas amigas minhas já tiveram o desprazer de cruzar.
Como uma grande admiradora do Chay, pra mim é bem difícil olhar para a tela da televisão e desprezá-lo com todas as forças. Bom, sinal de que está fazendo bem o papel, né? Fato é que o Ari já tomou muitas atitudes questionáveis durante a trama, e todas elas podem ser justificadas pelo fato do personagem ser a representação máxima do homem perdido.
Sabe aquele cara que não sabe o que quer e, por isso, vive a vida toda estudando? Não que estudar seja algo ruim, muito pelo contrário, mas, algumas vezes, o papel de aluno pode ser bastante confortável, ainda mais quando você tem uma Brisa bancando seus estudos e, mais tarde, ganha uma Chiara (Jade Picon) para bancar sua vida. Aí fica facinho ser inimigo da CLT…
E está tudo bem estar perdido na vida, mas estar e diferente de ser. E quando você é uma pessoa perdida, você passa a vida a procurar por algo que nem você sabe bem o que é, e pode ser bastante frustrante e angustiante. E daí para o deslumbramento é um pulo!
Veja bem: eu, recentemente, me relacionei com um homem Ari, e percebi que pessoas perdidas podem acabar fazendo com que você também se perca e perca a si mesmo, que é o pior dos cenários. Assim como o personagem do Chay, essa pessoa se deslumbrou ao ver-se inserida em uma nova realidade. E não estamos falando de Guerras e multimilionários – pelo menos, eu acho que não. Só que, quando você não sabe o que deseja, qualquer coisa nova pode parecer tentadora e deixar os sentimentos ainda mais confusos. E daí você acha que a sua vida está dando um giro de 360º, quando, na realidade, você está apens repetindo padrões.
Ari acha que gosta de Chiara – e deve gostar mesmo, porque ninguém fica com quem não gosta -, mas, na minha humilde opinião, perdidinho do jeito que é, perdeu-se no prório personagem e se meteu em uma realidade que agora não sabe mais como sair. E, como o bom encostadão que sempre foi, como a Creusa (Luci Pereira) brilhantemente pontuou para a Dona Helô (Giovanna Antonelli) em um capítulo da novela, gosta de ser bancado, cuidado e mimado, como sempre foi pela mãe superprotetora, o que também explica muitas das atitudes tomadas pelo maranhense.
Lidar com pessoas perdidas é um problemão, porque elas mudam rápido de opinião e propósitos, e vivem numa enorme montanha-russa emocional. Pra ser bem sincera, tenho pena da pobre Chiara, embora, olhando bem, ela faça muito mais o estilinho do Ari mesmo, que pode ser mais velho em idade, mas, em mentalidade, encontra-se no mesmo nível.
@capricho ♬ Afrobeat – FASSounds
Agora, a gente até poderia dizer que o fato do Ari ser um perdido e encostado justificaria ele ser também um pai ausente, mas seria descomplicar demais uma questão bastante séria. Por meses a fio, o personagem simplesmente se esqueceu de que tinha um filho, que, na prática, tinha acabado de ficar órfão de mãe, e foi viver sua nova realidade, que lhe serve muito mais como um escape. De novo, pobre Chiara… Fácil ser encostado, quando se é bancado. Fácil ser ausente, quando se é bancado, perdido e tem quem cuide para você. Fica cômodo, né? Bater um ponto e assumir responsabilidades ele não quer. Até na hora de bancar mesmo que mudou, que é um novo Ari, ele fica de enrolação, fingindo-se de desentendido, esperando alguém ou a vida decidir por ele e poupá-lo de sua falta de maturidade.
Ari, pra mim, começou como um bom moço, mas se tornou um personagem xexelento e, ao mesmo tempo, digno de pena. Embora seja um perigo sentir pena de homem perdido, encostado e ausente, porque tem muito Ari por aí vestindo roupa de príncipe, mas sendo um verdadeiro sapo por baixo das vestes de grife.
Pobre Chiara, pobre Brisa, pobre Tonho e pobre do próprio Ari. Nessa história, ninguém sai ganhando. Falo por experiência própria.
Brisas, fujam de homens Ari! Eles podem ser lindos e meio misteriosos, mas não valem o caos, não têm profundidade e podem até ser meio fingidos. Em resumo, vocês merecem (muito) mais!