Após um término na pandemia, dançarina conta como se reencontrou na arte

"A dança é o que me salva constantemente e me coloca um lugar de expressão", diz Joyce Iensen, de 26 anos, em desabafo sobre terminar o namoro na pandemia

Por Colaboração de Joyce Iensen Atualizado em 30 out 2024, 17h26 - Publicado em 27 jun 2021, 10h06
Ao centro, modelo usa cropped azul de manga comprida. Ela está com uma das mãos na cintura, sorrindo. De um lado, a frase
Marisa/Divulgação

O que significa terminar um relacionamento? Terminou o que exatamente? Qual parte do relacionamento acabou? Eu acho que essas são as perguntas que mais me perseguiram quando o meu namoro chegou ao fim. O término é difícil para os dois lados, tanto para quem vai embora quanto para quem fica. Mas acho que todas concordamos que a parte que mais sofre é aquela que não queria o término, independente se o relacionamento estava ruim ou não.

Acho interessante como a distância ao longo do tempo realmente leva à cura. Eu sempre me coloquei uma pressão de precisar ser amiga do ex. “Não é porque o relacionamento acabou que não podemos ser amigos” era uma certeza que eu sempre tive. Mas também porque sempre fui eu quem escolhi terminar meus relacionamentos. Quando a gente se vê do outro lado, quando alguém escolhe terminar uma fase da nossa própria vida, a crise vem

Colagem com duas imagens da dançarina Joyce Iensen. Na primeira, Joyce a aparece de perfil. Na segunda, está usando uma roupa e sapatos para dançar.
Encontre a Joyce no Instagram! É @joy.iensen Juliana Dias/CAPRICHO

A primeira coisa que eu fiz foi me apegar a tudo que eu conseguia pra aquilo não acabar. Me apeguei a memórias, à nossa música, aos áudios favoritados no Whats, às cartas de amor e às flores secas guardadas. O primeiro dia que você não recebe mais aquele “bom dia” ou o “eu te amo” é o mais devastador. O segundo dia e o terceiro também. Mas depois de uma semana, depois que todas as pessoas que se importam contigo já sabem o que aconteceu e começam a demonstrar apoio, as coisas vão suavizando. O silêncio que estava tão grande começa a ser preenchido com outras vozes. 

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 Depois do término, eu me vi sozinha de uma maneira que nunca tinha experimentado. Me senti perdida, não conseguia me reconhecer. Não só por ter terminado um relacionamento que durou um ano e pouco no meio de uma pandemia, mas também porque eu tinha me afastado de muitas amigas e de mim mesma. Além do fato de que quase todas as nossas amizades, de repente, se transformaram em conversas pelo WhatsApp e chamadas de vídeo, eu fiquei tão confortável no meu relacionamento que deixei vários de lado… Inclusive eu mesma. 

O tempo foi passando e o relacionamento foi ficando para trás, me reconectei com várias pessoas, conheci outras, voltei a ter vontade de levantar da cama pra trabalhar naquilo que amo, voltei a fazer aula de dança, a costurar, a cantar, a escrever… Voltei a gostar de ficar sozinha, a sentir que eu sou o suficiente, que posso compartilhar aquele momento só comigo e, se quiser compartilhar com outra pessoa, não precisa ser com uma só. 

A dançarina Joyce Iensen aparece usando blusa e shorts pretos e salto alto
Joyce em um ensaio com foco na dança Acervo Pessoal/Reprodução
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Até o dia que o outro resolve mandar uma mensagem de “Como você tá?”; e você fica paralisada olhando aquela notificação. “O que eu respondo?”, “O que ele quer?”, “O que isso significa?”, você se pergunta. A verdade é que a resposta não importa, porque todo o tempo que passou e a distância que foi criada são eliminadas e a sensação é de que voltamos à estaca zero

A primeira vez que isso acontece a resposta é um “Tudo certo e com você?”. Depois pode vir um “Tu nem se importa, pra que tá perguntando?”. Às vezes, é um silêncio de um dia seguido por um “Eu sinto muito a tua falta”. Outra opção é o “Prefiro que você não me mande mais mensagens” até chegar no “Eu estou seguindo em frente”. O que vai ficando claro entre cada uma dessas respostas é que, quando o tempo passa e temos espaço para pensar, respondemos essas perguntas de formas diferentes

Olhar o lado positivo e aprender com tudo, mesmo que esse tudo seja ruim, é como tento encarar as minhas vivências. O que eu não sabia é como seria difícil pensar assim depois de um término de relacionamento no meio de uma pandemia. Nem todos os términos são iguais, claro. Tem uns que acabam e a gente já entende qual parte foi boa, qual não foi tão legal assim. Mas tem outros que mexem com a gente de uma forma que ver o lado bom parece impossível. 

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A raiva é um sentimento que eu não sabia que podia ser tão presente. Aprendi na terapia que a raiva provoca uma ação. Ela move a gente e precisa ser bem direcionada. Minha primeira resposta foi a dança, afinal de contas eu dou aula de dança. É o que me salva constantemente e me coloca um lugar de expressão. Só penso em colocar tudo pra fora. 

Mas depois de um sonho curioso, em que eu estava em uma sala de espera ginecológica com meu ex, percebi que a dança não ia ser suficiente. Na mesma semana, eu vi como cantar me ajudava a liberar toda essa raiva. E mais uma vez a terapia me ajudou a perceber como o sonho estava conectado a essa minha percepção. Aprendi que a laringe e o útero têm características muito semelhantes, e que um reverbera no outro. O canto então veio como uma forma de colocar pra fora toda repressão que o meu feminino estava sentindo. Eu vejo a voz feminina como uma ferramenta de luta social e individual. No momento em que eu me calei, eu me perdi. 

No meio dessa descoberta, lembrei de um processo coreográfico que pedia pra gente emitir som enquanto dançava. É curioso pensar que, quando a gente dança, não emite som e é incrível o que acontece quando a gente se rende a isso. O corpo fala mais alto, não só o nosso, mas o de quem está dançando junto também. 

Então, quando eu me pergunto “O que significa terminar um relacionamento?”, vejo que a resposta não tem nada a ver com o relacionamento em si, mas com o que a gente aprende com isso, no nosso tempo, sobre nós mesmas.

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